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Vizinhas, Planaltina (DF) e Planaltina (GO) compartilham de semelhanças que vão muito além do nome

A região administrativa mais antiga do Distrito Federal, Planaltina, foi fundada em 19 de agosto de 1859 (há 160 anos, portanto), muito antes de Brasília ser projetada a 40 km dali e inaugurada em 1960. O primeiro nome  do lugar foi “Mestre d’Armas”. Localizado a cerca de 20 quilômetros da região administrativa do mesmo nome, o município de Planaltina de Goiás, apesar de ser relativamente novo, tem inúmeros problemas sociais em conseqüência do excesso populacional e da falta de critérios na sua ocupação.

O professor de história Fábio Santiago Santa Cruz explica que as duas cidades compartilham do nome “Planaltina” devido à divisão feita no planejamento de Brasília. “Existia, há 100 anos, em Goiás, um município chamado Planaltina. Quando Brasília começou a ser construída, o município foi dividido em dois. Um pedaço ficou dentro do quadrilátero do DF (Planaltina-DF), o outro ficou em Goiás (Planaltina de Goiás)”, explica. Hoje, a região de Goiás abriga uma população urbana de 84.698 pessoas, de acordo com dados da Pesquisa Municipal por Amostras de Domicílios (PMAD), divulgados pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). Enquanto isso, em Planaltina DF a população urbana estimada era de 189.412 habitantes em 2015. 

Evasão escolar

Os dados também mostram que, em ambas regiões, dentre a população que estuda, o número de pessoas na rede pública ultrapassa 50%. Em ambas, o nível de escolaridade é relativamente baixo. Na cidade localizada no DF, a população concentra-se nos que têm ensino fundamental incompleto, 39,43%, assim como a cidade do Goiás, onde o número é de 36,44%. 

O conselheiro tutelar eleito em Planaltina DF, Wesley Fonseca, conta que, lá, o maior motivo da evasão escolar está relacionado com o bullying. “Muitos alunos, às vezes, têm dificuldades de aprendizagem e um colega ou outro começa a rir, a malhar, e isso deixa eles desmotivados a ir para a escola”. A falta de métodos mais modernos e inovação nas escolas de Planaltina também é apontado pelo conselheiro como uma das causas de evasão. “As crianças comentam com a gente que não têm motivação, que o conteúdo e o método ainda são muito arcaicos. Acredito que é necessário inovação, isso motiva mais as pessoas. Para muitas famílias, a única razão das crianças ainda irem para a escola é pra não perder o bolsa família”. 

O conselheiro tutelar também atentou ao fato de que, há quase 10 anos, não houve construção de mais nenhuma escola pública em Planaltina, e que devido a superlotação das turmas, o acesso à educação fica muito mais limitado. 

Já em Planaltina (GO), a também conselheira eleita, Bruna Lins, explica que, além da educação não ser vista como algo primordial para grande parte da população, que prioriza a busca por alguma atividade que gere renda, a ausência dos pais, que muitas vezes trabalham em Brasília, é a maior causa da evasão escolar na cidade. “No caso das crianças, a evasão escolar se dá principalmente pelo fato de serem cuidados, na sua maioria, por parentes e terceiros. Os pais precisam sair muito cedo para trabalhar fora da cidade e retornam somente de noite”.  “A participação dos pais na vida escolar dos filhos é baixa” completou a conselheira. 

Bruna acrescenta que, diferente da situação encontrada em Planaltina DF, a cidade do Goiás tem total capacidade de atender a toda a população que depende do ensino público. “Hoje o município oferece vagas escolares suficiente para todas as crianças e adolescentes do nosso município” relembrou.

Curso superior

As duas cidades compartilham de um número baixo de analfabetos. Em Planaltina DF, o número é de 2,53% e na do Goiás é o dobro, 5,47%. Entretanto, o número de pessoas com nível superior completo também é baixo, nas duas não chegam a 10% da população.

Wesley explica que, nesse caso, o Estado está em dívida com a cidade, e por esse motivo o número de moradores com curso superior não é maior. “Acredito que o incentivo por parte do governo poderia ser mais incisivo e turmas voltadas para o PAS e para o ENEM poderiam ser montadas para incentivar essa demanda que não pode pagar por um cursinho preparatório”, ressaltou. 

Na visão da conselheira da cidade do Goiás, o grande responsável por esse baixo número não é o Estado. Bruna diz que acredita que tanto as políticas públicas, quanto os professores estão fazendo um bom trabalho com relação ao incentivo dos jovens procurarem um curso superior, e que a verdadeira barreira para alcançar esse resultado está na falta de incentivo dentro de casa, por parte dos pais.

Saúde

Em se tratando do acesso a planos de saúde, o número de pessoas que não utilizam desse serviço é bem alto nas duas cidades. Em Planaltina DF, 85,4% da população não têm plano de saúde, enquanto na cidade de Goiás, o percentual é um maior, de 91,89%, totalizando cerca de 77.827 pessoas. Esse número está diretamente relacionado, segundo a Codeplan, ao baixo rendimento médio das famílias moradoras da região e da elevada taxa de informalidade no mercado de trabalho. 

Planaltina DF é uma cidade que tem crescido muito nos últimos anos. Atualmente, já existem mais de 200 mil habitantes. O hospital não cresceu no mesmo ritmo, mas, existem na Cidade UBS distribuídas nos bairros. De acordo com a administração da cidade, este ano foi inaugurada 1 UBS e há outra que está em processo de licitação. Além disso, o Hospital será ampliado, ganhando mais um bloco que terá UTI, hemodiálise e ampliação de alguns setores. 

O número de imigrantes é um fator em que as duas cidades divergem. Em Planaltina DF, do total de habitantes, 55,18% são naturais do Nordeste, enquanto em Planaltina (GO), a maior parcela da população, 32,21%, é natural do próprio Estado de Goiás, seguido dos nascidos no DF (29,81%). Dos que migraram pra lá, muitos declararam que o motivo foi para acompanhar algum parente, buscar emprego ou por aquisição de moradia. 

A administração de Planaltina DF explicou que, esse grande número de imigrantes se dá devido ao fato da cidade ser a mais antiga do DF. “Na época da criação de Brasília, muitas famílias se instalaram aqui”.

Quanto ao número de desempregados, a taxa em Planaltina GO é de 16,77% da população economicamente ativa, e a de Planaltina DF é de 9,66%. O comércio é a atividade que se sobressai em ambos locais.

Por Mayra Christie

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira