Em um ofício artístico que precisa de tanto contato físico, como é a produção da tatuagem, os profissionais do setor no Distrito Federal precisaram se reinventar rapidamente para sobreviver nesse novo mercado, durante a pandemia. Com alternativas criativas como a venda de vouchers de desconto para trabalhos futuros ou mesmo com a comercialização de outros produtos, os tatuadores buscam atrair a clientela com novas experiências.
Felipe de Morais, tatuador profissional há 6 anos, lembra que só ficou tanto tempo sem tatuar no início de sua carreira, quando o fluxo de trabalho ainda era menor. Ele trabalha em um estúdio no Setor Comercial Sul e relata que o trabalho teve que se diversificar. “A gente não faz só tatuagem, tem muito material que produzimos: pinturas, prints, camisetas e por aí vai. Agora, tem muita gente focando nisso para conseguir gerar alguma renda, mesmo que seja menor do que a que a da tatuagem, já ajuda.”
A rede social do Instagram tem sido um dos principais aliados de Felipe durante a Covid-19. Ele comenta que, pela plataforma, anuncia a venda de suas pinturas e as disponibiliza para compra. “Eu já consegui vender sete quadros, o que me ajuda com um terço do que a tatuagem me dá normalmente, mas em tempos de crise está ótimo”, acrescenta.
Outras alternativas
Artistas de um estúdio em Águas Claras tiveram outra ideia para contornar a situação de isolamento: a venda de vouchers (comprovante usado como forma de oferecer descontos totais ou parciais na aquisição de produtos e serviços). “Colocamos o valor mais em conta do que normalmente seria para atrair a galera. A pessoa compra um voucher nos valores de R$ 200, R$ 300 ou R$ 400 e recebe um crédito maior. Sendo assim, a pessoa faz uma tattoo que em tempos normais valeria R$350 e paga R$200”, explica o tatuador Daniel Viriato.
Ele está surpreso com o resultado positivo dos vouchers. “Para mim tem sido ótimo, não vendi tanto como em condições normais, mas está sendo bem melhor do que eu esperava.”
Falta de prática
Outro problema durante a pandemia é a falta da prática dos profissionais iniciantes e amadores. Praticar é um fator essencial para o desenvolvimento e aprimoramento de qualquer bom profissional. Uma opção é a auto tatuagem, como relata Thales Camilo, artista e tatuador iniciante. “Durante esse período, eu me tatuei algumas vezes e também tatuei membros da minha família que estão em isolamento comigo.”
Além disso, ele também fala sobre como a prática pode ser mantida por meio do desenho. “Você acaba descobrindo que há técnicas que você usa no desenho que são muito parecidas com as técnicas que você usa na tattoo, então dá para treinar um pouco desenhando”, acrescenta Thales.
“Temos que ter uma expertise em outras habilidades também. Ser sempre adaptável na arte e transmitir isso na tatuagem, por que nesse ramo você é sempre obrigado a sair da sua zona de conforto. Então treinar de outras formas acaba sendo sempre muito importante”.
A estudante de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília e também tatuadora Maria Luísa Melo encontrou outra alternativa para manter a prática durante a pandemia. “Parei de trabalhar no dia 8 de março e aproveitei a quarentena para renovar todo o meu estúdio, que era o mesmo desde que comecei a tatuar, há um ano atrás”. Ela comenta que se ocupa decorando o ambiente, mantendo o seu Instagram e desenvolvendo projetos para seus clientes.
Auxílio Emergencial
Tatuadores e artistas em geral são profissionais autônomos que podem se beneficiar do Auxílio Emergencial do Governo Federal, como alternativa para o complemento da renda.
O tatuador João Ricardo, que é estudante de artes visuais, já fez a solicitação para o auxílio e aguarda resposta da Caixa Econômica Federal. A análise demora de 3 a 5 dias para aqueles que não fazem parte do programa Cadastro Único. O CadÚnico é um instrumento criado pelo governo federal para identificar e caracterizar famílias de baixa renda. Ele também auxilia na seleção e inclusão dessas famílias nos programas sociais do governo, como o Bolsa Família. Para mais informações acesse o site.
“Para me manter, em tese, não daria muito, mas estou ficando na casa dos meu pais, então pelo menos com o aluguel eu não preciso me preocupar… Minha mãe queria muito que eu pegasse o auxílio do MEI também, até por que as contas do estúdio ainda existem.”, conta João.
Para cadastro e mais informações sobre o Auxílio Emergencial, acesse o site.
Por Gabriel Albuquerque e Clara Lobo
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira