A rotina virou de cabeça para baixo. Para as mães, haja sobrecarga. Segundo a Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios), em 2019, cerca de 52% da população em idade para trabalhar era formada por mulheres. Algumas destas mulheres são mães e enfrentavam diariamente uma dupla jornada de trabalho. Agora, com o isolamento social, o dia a dia passou a ser mais carregado.
Sandra Paiva, aos 45 anos, é servidora pública federal e tem dois filhos. Desde o nascimento de Gabriel, 11, e Camila, 10, Sandra trabalhou fora de casa. “Eu levava eles para a escola de manhã e revezava com meu marido na hora de buscar. Almoçava com eles e depois só voltava a vê-los a noite”, diz. Em 23 de março, Sandra passou a fazer home office por causa da pandemia de Covid-19. E, então, muita coisa mudou.
“Agora passo o dia todo com eles. Acompanho as aulas, ajudo nos deveres, faço comida, trabalho e cuido da casa”, explica a servidora pública. Ela confessa que, apesar de gostar de passar mais tempo com as crianças, a rotina se torna pesada. “Com o home office, os horários se misturam. Esses dias eu estava assistindo aula junto com minha filha e meu chefe me mandou uma demanda. Deixei ela vendo a aula e fui atendê-lo”, afirma.
Ela diz que, mesmo com o cansaço, tenta manter algumas atividades com as crianças. “Tiramos o horário depois do almoço para um rápido descanso antes de voltar para as atividades. Também às 18h30 fazemos exercícios por meio de uma live de um educador físico”, confirma. Ela acredita que assim consegue aliviar a tensão.
Sandra explica que o marido e a tia auxiliam nas tarefas domésticas e ela agradece muito por isso. “Tem dias que se não fosse ela [a tia] eu não sei o que faria”, afirma. Ela também diz que as crianças costumam ajudar em algumas tarefas. “Às vezes eles ajudam na cozinha e na organização da casa”, explica.
Apesar das mudanças, Sandra considera que é preciso permanecer tranquila. “Tenho visto algumas mães muito agoniadas porque as crianças estão em casa. Acho que o segredo é ter calma e aproveitar o lado bom disso tudo”, diz. Ao fim da entrevista, Sandra faz um pedido: “posso mandar um beijo para a minha mãe? Não a vejo há muito tempo por causa da quarentena. Salete Paiva, um beijo e um feliz dia das mães para você!”.
Maternidade e trabalho
Os trabalhos essenciais continuam apesar do decreto da quarentena e parte deles mantém escala de trabalho presencial. Enquanto isso, mães tentam se adaptar de acordo com a rotina de trabalho, os cuidados os filhos e cuidados com a casa.
Cláudia Rezende, 47 anos, está trabalhando por escala e conta que algumas atitudes de prevenção e cuidado foram tomadas nos dias em que trabalha fora “nossa casa sempre adotou o método de retirar os sapatos do lado de fora e depois guardar na área de serviço. O que acrescentamos foi tirar toda a roupa no banheiro da área de serviço e depois depositar em um local fechado para lavar. Lá também ficam as máscaras de pano utilizadas nos dias de trabalho e idas ao supermercado”.
Nos dias de trabalho remoto, a mãe da Catarina, 6 anos, explica que adequou a rotina dela e a da filha para que ambas possam desempenhar suas atividades de maneira mais leve “foi preciso reorganizar as tarefas para dar conta de cuidar das nossas necessidades físicas (alimentação, atividade física, limpeza e atenção às necessidades dela) e ainda orienta-la nas aulas online definidas pela escola e as eventuais tarefas de casa, reservando os dias de trabalho exclusivamente às atividades que desempenho no trabalho”.
A servidora pública, que trabalha na Secretaria de Vigilância em Saúde e explica que em alguns dias não é possível equilibrar tão certo a rotina “existem dias em que tenho que dedicar mais tempo ao trabalho, por conta das demandas mais urgentes já que estamos dentro da unidade responsável pelas ações de prevenção, controle e monitoramento do Covid-19. Por outro lado, em dias mais “livres” consigo me dedicar exclusivamente às necessidades da Catarina e da casa”, afirma.
Cláudia e o marido dividem as tarefas de casa e juntos explicam para a filha a importância do isolamento de maneira pedagógica “a Catarina aceitou bem porque tivemos a preocupação de explicar e mostrar para ela o motivo do isolamento, que é para cuidado da saúde dela e das outras pessoas. É difícil lidar com a falta que ela sente da escola e tudo o que o ambiente escolar proporciona, principalmente por ela ser aluna de ensino regular e integral onde tem atividades o dia inteiro”, conta.
A mãe também sente que sua percepção da maternidade mudou após o início da quarentena, e as preocupações ficam fortes entre a saúde e a educação “são mudanças significativas se estruturantes, aumenta o cuidado com a saúde somando-se as outras vertentes relevantes ao desenvolvimento e formação da minha filha, como a educação e a qualidade de vida. Encarar o desafio de colaborar em sua educação é o mais difícil, nessa hora é que valorizamos o papel dos profissionais da educação”.
Cláudia ainda ressalta que não existe perfeição da maternidade, e que nesse momento difícil as mães precisam de força “não há perfeição, há o sentimento de amor que não se manifesta pela situação material ou externa, mas que se sente, intensamente, como da primeira vez que você viu seu filho… O amor de mãe não muda, não padece, não esmorece. Apenas cresce e cresce!”
Mãe de recém-nascido
Viviane Bernardes, 45 anos, advogada e professora universitária, mãe de Gabriela, 18, e o pequeno Bernardo de 2 meses. Viviane tinha a vida agitada antes de Bernardo nascer, com o nascimento dele, ela diz ter tido que reduzir drasticamente sua rotina.
De licença maternidade das faculdades em que leciona, ela diz está tentando conciliar os prazos com os clientes do escritório, e os cuidados com o bebê com a família, considerando que todos também estão em casa “eles revezam comigo os cuidados, o pai está em home office e minha filha tendo aula em casa. Minha mãe, minha irmã e meu cunhado moram aqui do lado, pertinho, são minha rede de apoio e tem me ajudado” comenta ela.
Por ter uma rotina de trabalho muito agitada, a casa de Viviane conta com uma secretária doméstica, que está de quarentena no momento, e por isso, as tarefas de casa estão sendo revezadas entre todos.
Além disso, ela comenta que se não houvesse a pandemia, poderia ser mais difícil para ela cuidar do bebê “se não tivesse a pandemia estaria bem pior, porque tenho minha filha e meu marido em casa, apesar de eles estarem focados em outras atividades, eles me ajudam nas horas vagas.”
Sabendo dos cuidados a serem tomados pela situação da pandemia, Viviane diz evitar sair de casa o máximo possível “só saímos para ir ao médico, e sempre tentamos fazer tudo online. Quando chego em casa, não tenho contato com ele enquanto não me higienizo” afirma ela.
O pós-parto para as mães são sempre difíceis e cansativos, ainda mais com a complexidade de uma pandemia, porém, no caso de Viviane, ela aponta um fato positivo em ter um bebê nessas condições “ter tido um filho em meio a pandemia foi positivo, pois não me faz ficar muito paranoica com o que está acontecendo, estressada, ansiosa. Tem sido positivo, nem tenho tempo para pensar no que está acontecendo”.
Por Samara Schwingel, Maria Clara Andrade e Ravenna Alves
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira