Quando nos deparamos com uma criança de inteligência acima da média, um prodígio, que demonstra habilidades inesperadas para sua faixa etária, nos maravilhamos e ficamos intrigados. No entanto, um estudo publicado no site especializado em humanidades Eu Sem Fronteiras, o psicanalista e filósofo Fabiano de Abreu mostra que, na verdade, o que soa extraordinário para nós é apenas mais um dia para estes pequenos gênios.
Abreu elucida esta questão definindo o que é o cognitivo e como se dá o desenvolvimento intelectual: “Por vezes, ter noções mais corretas e fiéis de certas características e comportamentos ajudam os pais a lidarem com os seus filhos de uma outra forma, entendendo algumas das problemáticas nos seus sentidos mais amplos e ao mesmo tempo compreender que o que parece nem sempre é. Precisamos antes de perceber o que acontece com as crianças inteligentes, compreender alguns conceitos. Cognitivo é uma expressão relacionada ao processo de aquisição de conhecimento. O processo cognitivo envolve diversos fatores e nuances dentro do conhecimento e das percepções através da arquitetura da mente. Dentro deste meu conceito, falamos de memória primitiva, o inconsciente, o sobre inconsciente, o pré consciente e o consciente. Pensamentos, linguagem, percepção, memória, raciocínio, entre muitos outros fatores, como comportamento mediante a personalidade que fazem parte do desenvolvimento intelectual. A experiência é parte relevante no desenvolvimento do cognitivo.”
Genética x Intelecto
Para o psicanalista, a chamada inteligência é genética e é diferente de intelecto: “o intelecto pode ser trabalhado e desenvolvido dentro do conhecimento adquirido e da experiência. A inteligência é algo que possuímos com características muito próprias desde que nascemos. Uma pessoa de grande inteligência tende a ser um intelectual e intelectual é quem tem e busca conhecimento de determinados temas.”
Crianças inteligentes são incompreendidas
Abreu aponta que uma criança inteligente, de alto QI, tem o cognitivo mais desenvolvido que muitas outras crianças do seu ciclo, diferenciando-se assim do comportamento natural das demais e, dessa forma, pode se sentir incompreendida: “observamos muitas vezes que esse tipo de criança é quase um camaleão, mesmo que inconscientemente. Ela se adapta quase instantaneamente ao local e à pessoa com quem se encontra de forma a se integrar. Consegue ser criança mas também ser mais adulta se a ocasião assim o pedir. Mudam os assuntos, a forma de estar e comportar, a forma de falar e de ocupar o espaço. Não deixa de ser também uma manipulação constante e da qual ela não tem verdadeira consciência. Isso não tem que ver com ser introvertido ou não, a criança pode ser introvertida e adaptável ao ambiente. Na realidade, não confie em características de crianças superdotadas como um padrão pois há nuances que diferenciam, por exemplo, dizem que crianças superdotadas começam a falar com 6 meses de vida e isso não é verdade, depende do cada caso, estímulo, ambiente e etc. Geralmente há sim um padrão comum mas precisa ser observado alguns certos padrões. O melhor é um teste de QI para definir.”
Uma criança com um cognitivo avançado devido à sua alta inteligência, pode apresentar um descompasso entre a idade cronológica e a mental:”aquela criança não tem experiência ainda para ter consciência do seu comportamento, por isso vive uma dualidade experiência vs. inteligência, com o cognitivo baseado nesta inteligência. Portanto, o seu comportamento pode ser entendido de uma forma diferente e, assim, o adulto não saber lidar com essa educação.”
Crianças inteligentes tendem a usar a mentira para manipular
Para Abreu, crianças inteligentes tendem a mentir e são manipuladoras: “A mentira, ou mentirinha, pode ser uma forma de manipular para conquistar de forma inteligente. Nessa situação os adultos têm a capacidade de distinguir, pois a criança ainda não tem a experiência necessária para que possa fazer uma melhor manipulação e cairmos nela. Mentir não é necessariamente um padrão de comportamento mau. A mentira faz parte do mundo infantil, por conta da fantasia, do pensamento mágico. Usar a inteligência para mentir manipulando os que a amam para obter o resultado final a seu favor é completamente natural. Deve existir, contudo, alguém que identifique os excessos e saiba delimitar, cortar e impor limites para proteger essa criança dela mesma.”
Ser inteligente não significa que a criança não precise de ser guiada, amada e educada.
O especialista refere que não devemos acreditar que se a criança é inteligente o tempo junto com a sua inteligência a fará se auto educar ou que ela sozinha, encontrará uma forma para ter um bom futuro. Traumas ou uma má educação na infância refletem-se nos problemas dessa criança quando se tornar adulto: “ Se queremos o melhor para os nossos filhos ou os nossos educandos, devemos ter inteligência para saber lidar com eles e os ajuda para que possam ser adultos plenos e grandes profissionais. Ter o resultado que pretendemos começa a partir da educação dada desde a infância. A criança tem que sentir que o mundo não gira em torno dela, que há mais para além da sua existência e que para cada escolha ou ato há uma consequência. Ensinar a saber lidar com as perdas e com os ganhos, saber dosear a excitação e a frustração são alguns dos principais papéis dos pais.”
Fabiano de Abreu é especialista em estudos da mente humana, com especialidades em neuropsicanálise, neuroplasticidade, psicopedagogia e neurociência em cognição e comportamento humano. Membro da Mensa, associação de pessoas mais inteligentes do mundo, tem o QI percentil 99 sendo considerado o ponto máximo em um teste de QI.