Iniciou-se um burburinho generalizado. Alguns alunos começaram a conversar, outros a sorrir e ainda outros a zombar. O professor errou, diziam algumas alunas mais candidamente, já com pena do profissional de educação.
O professor pediu silêncio e perguntou o que havia acontecido. Um aluno, parecido comigo, daqueles que gostam de se apresentar para os colegas, disse: “- O senhor errou. Nove vezes um não é sete. É nove.” E sorriu sarcasticamente.
Novamente o professor tomou a palavra e começou a comentar com os alunos sobre a importância do reconhecimento erro. Citou Bill Gates que havia dito que suas maiores aprendizagens tinham acontecido por causa de seus erros. E acrescentou que as pessoas valorizam por demais os erros alheios, mas não os seus próprios erros. Para o professor a única forma do ser humano evoluir, crescer, melhorar, é reconhecendo os próprios erros.
Lembrou também de uma passagem bíblica em que uma mulher, reconhecidamente, havia errado. E que as singelas palavras de Jesus para salvar essa mulher de morrer apedrejada tinham por finalidade apelar para a consciência daqueles que queriam matá-la, ao dizer: “- Aquele de vocês que não tiver pecado atire a primeira pedra.” Ninguém jogou nenhuma pedra. Acusados pela própria consciência de que também tinham errado, os acusadores foram saindo, não ficando ninguém.
Acrescentou ainda o educador que da mesma forma que existe o verbo errar, existem outros, como, por exemplo, corrigir, consertar, melhorar, crescer, evoluir,…
A essa altura o alunos já estavam quietos, prestando atenção ao que o professor dizia e não já não tinham mais a mesma sanha acusatória.
Resumiu o professor: a fraqueza de um é a força dos outros. Quando eu errei, vocês cresceram e fizeram-se fortes, sabedores, conhecedores, achando-se no direito de me corrigir. Da tabuada de multiplicação com 10 itens que escrevi no quadro, com um errado, vocês não se aperceberam que os outros nove itens estavam corretos. E o que eu coloquei errado no quadro, 9 x 1, é o mais fácil, pois qualquer número multiplicado por ele mesmo terá como produto o próprio número, no caso, 9.
Para concluir, o experiente professor dirigiu-se à silenciosa turma: – Posso fazer uma pergunta para vocês? – Claro, responderam os alunos.
– “Posso corrigir as provas de vocês com o mesmo critério que vocês usaram para corrigir o que eu escrevi no quadro, com um erro invalidando tudo o que vocês acertaram?” Os alunos, apressadamente, responderam que não.
Um engraçadinho lá do fundo da sala gritou: se mesmo assim eu passar de ano, pode. Um gracejo geral. Em seguida, fez-se silêncio.
O professor retornou ao quadro negro e corrigiu o item que estava errado e colocou: 9 x 1 = 9, e disse-lhes: nunca deixem que nada nem ninguém os impeçam de caminhar porque um dia vocês erraram. Corrijam o erro e sigam em frente sempre. Como diz o poeta, o que passou, passou. Ademais, o céu é o limite e não é à toa que o mesmo céu também é conhecido como infinito.
O professor continuou sua aula. Agora, com a sala em silêncio e o apreço dos alunos.
F. Moacir Barros é professor, escritor e advogado público