Praças, museus, teatros, e cinemas de Brasília que respiravam arte foram esvaziados para assegurar a saúde da população. Apesar do delicado cenário, há quem encontre força e inspiração através das redes sociais para iniciar projetos literários, musicais, e até de moda.
O publicitário Rafael Bicalho, 29 anos, deixou a rotina do Rio de Janeiro e voltou para Brasília no primeiro semestre por causa da pandemia. Ele aproveitou o momento que estava enclausurado para transformar sentimentos negativos, em fontes criativas. A série ‘Sobre o tempo’ foi idealizada juntamente com a produtora Marina Lima em 2019. A saga é formada por quatro livros independentes que serão publicados pela editora ‘Temos Histórias’, após a divulgação parcelada de podcasts. Rafael pretende lançar um livro por ano, no formato de temporada. A previsão é que seja em novembro. Ele conta que produzir essa série tem sido importante para amenizar a tristeza causada pela pandemia. ‘‘Pessoalmente, o projeto serviu para me tirar de um processo de depressão. A quarentena me fez perceber que eu poderia colocar tudo em prática de maneira simples, e gastando quase nada de dinheiro’’.
Em modelo de audiolivro, a primeira temporada ´Contratempo’ possui episódios com duração de dez a trinta minutos. O lançamento oficial aconteceu dia 26 de junho. A trama conta a história do personagem Ulisses que adora bisbilhotar a vida de vizinhos, e de quebra pegou a doença que tem apavorado o mundo. Ao presenciar o assassinato brutal de uma moça, ele acorda no dia seguinte em outro corpo, outro apartamento, e começa a se questionar sobre o universo que está submetido. Assim, a possibilidade de retornar no tempo empolga Ulisses para desvendar onde a história acontece, quando acontece, e que vírus é esse que está mexendo com todos. Em tempos de crise, viver somente com a própria companhia pode se tornar um desafio.
Toda sexta feira serão lançados episódios em plataformas digitais como Youtube, Instagram, Facebook, Spotify e Deezer. Além disso, a editora independente Temos História criada por R.ERRE, pseudônimo utilizado pelo publicitário, tem o objetivo de encontrar jovens talentos interessados por literatura brasileira. Com o propósito de incentivar a leitura, obras clássicas como Dom Casmurro, Hamlet, Dom Quixote, e O Alienista são transformadas em vídeos educativos que duram apenas um minuto.
Do violão a máquina de costura
A era tecnológica permitiu que aplicativos e sites conectassem produtores de conteúdo a públicos de interesse. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o uso da internet teve um aumento de 40% a 50% durante a pandemia. Isolados, profissionais que perderam empregos transformaram o tempo e a crise, em aliados. Gabriel Lobo, 23 anos, músico, aproveitou o ócio da quarentena para investir na carreira, e correr atrás de sonhos que estavam adormecidos. Além de postar covers no Instagram, o jovem decidiu lançar a primeira música autoral. O canto de um bem-te-vi estreou dia 20/07 em plataformas digitais, e está com 774 visualizações. “O lançamento dessa música significa o primeiro grande passo em busca do meu maior sonho. Espero ter a chance de alcançar milhares de pessoas”, conta Gabriel. Confira vídeo do artista postado no Instagram.
Brasília é conhecida por projetar diversas bandas na cena do rock. Porém, desde os anos 90, o reggae balançou palcos com os grupos Nativus, Maskavo, Jah Live e Alma D’jem. “Como ouvinte, sinto a falta de uma presença maior de canções nesse estilo, e me inspirei em diversas bandas e artistas para composição dessa canção, principalmente em Natiruts, Armandinho e Maneva. Sonho em um dia conseguir uma notoriedade tão grande quanto eles”, explica Gabriel sobre objetivos que possui como artista. O canto de um bem-te-vi perpetua a melodia, e retrata princípios e valores, que o músico recebeu dos pais ao longo de sua vida.
Mas a harmonia do violão não é a única que ecoa no Distrito Federal. Aos 24 anos, recém formada e frente à pandemia, Bianca Mendes se desdobra na máquina de costura, e faz do seu quarto, um ateliê. Modelista e costureira, a jovem precisou se restabelecer após perder o emprego. O apoio que Bianca encontrou está nas redes sociais. Com tempo e vontade, a profissional confecciona peças em casa e de quebra compartilha tudo através do Instagram. “Tive que me reinventar, começar a publicar nos stories, mostrar a rotina e processos de cada peça que eu estava fazendo. Durante março e abril o trabalho deu uma parada, mas logo depois foi voltando aos poucos,” conta a jovem.
O sonho de trabalhar com moda está presente em sua vida desde os 14 anos. Bianca percorreu um longo caminho, mas não desistiu. Hoje, após realizar cursos e faculdade de designer de moda, ela pretende ter um espaço fixo para receber clientes. “Espero conseguir viver do ateliê e ter um espaço só para ele. Quero receber clientes e alunos em um espaço legal, e que seja minha fonte de renda. Pretendo com meu trabalho conscientizar pessoas sobre o slow fashion, e a importância de apoiar o pequeno empreendedor local.” Mesmo com dificuldades e adaptações, a vontade de executar sonhos e projetos, acompanha o brasiliense.
Por Rafaela Martins, especial para a Agência de Notícias UniCEUB