A dona de casa Márcia Baltazar, descobriu em março de 2018 três cistos mamários (“sacos” de líquidos arredondados que se localizam nas mamas). Na mamografia realizada por ela no mês seguinte, foram descobertos dois cistos na mama direita e um cisto na mama esquerda, porém os três já foram avaliados como benignos.
Antes mesmo de realizar os exames de ecografia e mamografia, Márcia descobriu que estava com alguma anormalidade nos seios ao acordar, de um dia para o outro, sentindo dores nas mamas. Histórias como a dela são comuns e demonstram a necessidade do acompanhamento periódico que as mulheres devem fazer com o mastologista.
“Eu descobri os cistos apalpando mesmo e notei que era mais duro do que o normal. Aí foi quando eu procurei e fui fazer consulta com a ginecologista e ela realmente constatou que havia os cistos”.
De acordo com a médica mastologista de Márcia, devido à sua idade (47 anos), a aparição dos cistos se deu como reação de seu organismo à pré-menopausa pela qual está passando.
“Fiquei muito preocupada, porque isso nunca tinha acontecido e, de repente, amanheci o dia com o seio inchado, doendo […] Só que a médica falou que isso aconteceu devido aos hormônios estarem sem controle por causa da pré-menopausa e disse que isso pode acontecer”.
Tratamento
Enquanto não realizava os exames, Márcia permanecia bastante preocupada. Mas, recentemente, ao descobrir que todos os cistos são benignos, ela está conseguindo lidar com mais paciência e esperança.
“Eu fiquei um pouco apreensiva porque a gente fica pensando se é benigno, se é maligno, é um pouco preocupante. Enquanto eu não fiz os exames, não tirei minhas conclusões, eu não tive paz”.
Logo após receber os primeiros resultados, Márcia retornou à mastologista e teve que passar pelo exame de punção (procedimento de aspiração no interior do nódulo por meio de agulha especial).
“Eu tive que procurar uma mastologista e fazer punção para retirar o líquido, onde foi retirado 8 ml do líquido. Na verdade, infeccionou [a mama] e para que isso não fique sempre acontecendo, ela recomendou que eu retirasse esse líquido”.
Márcia ainda não recebeu o resultado da punção e, portanto, a orientação dada pela sua médica é de manter o acompanhamento até então.
“Ela, por enquanto, não disse que tem que retirar, porque existem pessoas que tem que retirar os cistos, mas por enquanto o meu está controlado, mas controlado de uma certa maneira que eu tenho de estar acompanhando”.
Enfrentamento
Mesmo ainda esperando o resultado da biópsia, atualmente ela enfrenta a situação de forma otimista devido tanto ao acompanhamento médico que está fazendo quanto à sua fé religiosa, que lhe ajuda a levar a situação com tranquilidade.
“Eu estou superando tranquila por ela dizer que é um cisto benigno. Então eu não tenho porque me preocupar, mas lógico eu sempre estou tomando cuidado de estar fazendo o acompanhamento. Mas eu estou orando e, em nome de Jesus, vai sumir é tudo”.
A estudante de enfermagem da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Rebeka Bruniery, tem 20 anos e descobriu que está com cistos mamários em setembro de 2017, quando passou pela primeira consulta ginecológica, já aos 19 anos.
A partir de um exame de ultrassom, Rebeka descobriu três cistos na mama direita, um deles com mais de dois centímetros e outros dois com cerca de um centímetro. Ainda de acordo com o exame, os cistos apresentam aspectos benignos pela forma regular, porém, pelo tamanho do maior cisto, a médica mastologista da estudante afirmou ser um caso cirúrgico. Para Rebeka, a descoberta dos cistos foi um susto que lhe deixou bastante aflita.
“Mais pela minha idade, isso é um choque porque a gente não espera ter um cisto e que já seja cirúrgico, que já seja grande e palpável. Ao descobrir, fui fazer a palpação, o autoexame, e consigo palpar os três cistos, então eles já são um pouco grandes. Eu fiquei, assim, triste por ter que passar por uma cirurgia, até agora não passei por nenhuma”.
Desde os 13 anos, quando começou a perceber o crescimento dos seios, Rebeka utiliza sutiã e tinha a prática comum de dormir com a peça. A hipótese da médica da estudante é que essa prática tenha desencadeado ao menos algum desses três cistos.
“A localização do maior é bem próxima à região externa, próxima ao braço, axila mais ou menos, bem na região onde fica o aro do sutiã. Então por passar muitos anos sempre com sutiã, sempre dormindo (às vezes com sutiã de aro), pode ter desencadeado”.
Cirurgia
Por confiar bastante em sua mastologista, que também é cirurgiã, Rebeka quer fazer a cirurgia por meio particular com sua médica. Seu plano era realizá-la ainda em janeiro de 2018, mas não conseguiu por questões financeiras. Atualmente, ela está se organizando com a família para efetuar o procedimento ainda este ano, pois teme que a demora possa causar alguma evolução no tamanho dos nódulos.
“Dentro de um mês ele pode ter um crescimento muito grande, com certeza não é o que eu quero. Se for o caso, vou fazer pelo SUS, público, se não der certo, a gente vai se organizar mais um pouco e vai fazer no final do ano, particular. Mas eu quero me ver livre disso, quero ficar bem.”
Reação comum ao receber uma notícia como esta, no início, Rebeka ficou bastante aflita e com medo do que poderia ser. Atualmente, apesar do incômodo, por não apresentar dores nos seios, ela lida de forma otimista com a situação.
“No momento eu estou bem, não estou agoniada, até porque eu vou voltar a fazer exames ou esse mês de maio ou no mês de junho para ver se vou já marcar a cirurgia ou se vai ficar para o final do ano. Mas, já teve dia de eu ficar bem agoniada, chorosa, porque não é uma coisa fácil. Não é uma coisa maligna, grave, mas não é uma situação que você queira ter, ainda mais por ter que resolver isso cirurgicamente. Eu consigo palpar, então uma vez ou outra eu sinto e me dá aquele friozinho na barriga. Mas eu sei que vai dar certo, ainda bem que é uma coisa bem simples”.
Autoexame
Rebeka não fazia exames ginecológicos nem das mamas até descobrir os cistos e, agora, enquanto não faz a cirurgia, precisa fazer acompanhamento de seis em seis meses. Hoje, ela aponta para a importância do autoexame e do acompanhamento médico periódico.
“Muitas mulheres não sabem e não tem esse conhecimento da importância do autoexame. Eu estou entrando na área de saúde, faço faculdade de enfermagem, porém nunca tinha realizado o autoexame e tive que passar por uma coisa bem aleatória, que era mais ginecológica, para poder detectar”.
“[…] Sempre buscar formas de você saber, você conhecer o seu corpo, fazer palpação das mamas é importante sim. Agora que eu descobri eu indico às minhas amigas. Faça a palpação, veja, porque se você constatar alguma anomalia, alguma coisa estranha, é correr no médico e avaliar, porque o diagnóstico precoce é sempre mais importante”.
Segundo o médico mastologista da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Dr. Farid Buitrago, para cada faixa etária existe uma doença mamária prevalente na mulher. Entre 15 e 25 anos, o problema mais frequente é o nódulo benigno. Entre 35 e 50, é o cisto mamário e, acima de 50 anos, a doença mais comum é o câncer de mama.
Ele explica que quando uma mulher identifica um nódulo na mama, a primeira coisa a se fazer é buscar saber se ele é benigno ou é maligno, algo que se descobre através de uma biópsia. As providências a serem tomadas dependem das características encontradas na biópsia, se o nódulo é benigno ou maligno. De acordo com o mastologista, no caso dos nódulos benignos, a cirurgia é indicada apenas em alguns casos, dependendo do tamanho e do avanço dos nódulos. Já no caso dos malignos, a cirurgia é sempre a solução mais próxima, independente do tamanho.
De acordo com o INCA, Instituto Nacional de Câncer, o cisto mamário é a manifestação clínica e ultrassonográfica mais frequente encontrada na mama e se enquadra no grupo das alterações funcionais benignas das mamas. Eles são mais comuns em mulheres entre 35 e 50 anos, coincidindo com a fase de regressão dos lóbulos mamários. Os cistos incidem em 7% a 10% da população feminina, podendo ser únicos ou múltiplos e apresentar-se em apenas uma ou nas duas mamas.
Em 2015, ao fazer uma ecografia de rotina, Cristiane Basques, 46 anos, coordenadora no Ministério do Planejamento, descobriu uma alteração em sua mama direita e seu médico pediu para que fizesse uma mamografia (exame de raio-X da mama que tem como objetivo principal identificar lesões malignas ou suspeitas). A partir do resultado do exame, Cristiane foi diagnosticada com câncer de mama in situ, isto é, o primeiro estágio, no qual as células cancerosas estão somente na camada em que se desenvolveram e ainda não se espalharam. Logo em seguida, ela realizou exames complementares e fez uma investigação geral, uma vez que já deveria passar pelo processo cirúrgico.
“Eu tive que fazer punção. É um exame muito dolorido e eu fiz não só da mama em que foi constatado o câncer, que foi a mama direita, como da mama esquerda também”.
Mastectomia
Ainda em 2015, logo após descobrir o câncer, Cristiane passou pelo procedimento de mastectomia na mama direita, isto é, a retirada cirúrgica de toda a mama.
“Era um câncer in situ, ou seja, eram células cancerígenas que estavam alojadas nos dutos, por onde passa o leite materno. Então seria necessária a remoção de toda a mama”.
Devido ao câncer estar in situ, o tratamento de Cristiane não precisou envolver quimioterapia ou radioterapia, porém, ela passou por três cirurgias após a descoberta. Além da cirurgia de retirada da mama, Cristiane passou por mais outras duas para reconstituição mamária.
“Em 2016, eu fiz a minha primeira reconstituição, porque em 2015 quando eu retirei a mama eu coloquei um expansor, como se fosse uma prótese [silicone], mas uma prótese que você faz o enchimento justamente para acomodar o músculo para receber posteriormente uma prótese definitiva. Só que eu realizei a minha primeira reconstituição após esse processo em 2016 e finalizei no ano passado, em 2017”.
Família
Ao descobrir o câncer e durante todo o processo de tratamento, Cristiane, como todas as mulheres que passam por esta situação, ficou extremamente abalada, especialmente com a queda do cabelo e a remoção do seio direito.
“Eu tive uma queda de cabelo extremamente acentuada e talvez isso foi o que mais me incomodou no processo, a questão do cabelo e não propriamente do seio. A queda do meu cabelo, que começou a cair, cair ,cair e eu lembro que nesse momento eu chorei, chorei até mais do que me olhar no espelho e me ver sem um seio, por incrível que pareça”.
Apesar de toda a dificuldade inicial em lidar com a doença e com a queda de sua autoestima, com o tempo Cristiane conseguiu passar pela situação de forma mais calma e otimista. Ela atribui essa superação ao grande apoio que recebeu de sua família.
“E o que me fez caminhar desta forma, com tranquilidade, com organização, me certificando da melhor forma para realizar o tratamento e da forma mais adequada para eu buscar essa cura, foi a família sem dúvida”.
“O seio é uma das belezas da mulher, então mexe com a nossa autoestima, mexe com a nossa cabeça, mexe com tudo. Mas ouvir do meu esposo que eu era linda, que a gente ia superar junto, que a gente ia vencer junto, isso foi muito importante para me dar muito mais segurança para tocar isso. E ter a participação dos meus filhos muito próxima a cada dia, nossa, isso faz toda a diferença”.
Tratamento e acompanhamento médico
Logo após retirar a mama direita, Cristiane refez a biópsia e foi constatado que já não havia mais células cancerígenas em seu corpo. A partir daí, ela começou um tratamento quimioterápico preventivo com um medicamento chamado Cerazette, do qual faz uso até hoje e deve usar até 2019 (duração de cinco anos). Por ser um medicamento forte, até hoje ela sente reações adversas causadas por ele, porém consegue reduzi-las mantendo uma vida saudável com exercícios físicos.
“No primeiro momento eu senti muita dor de cabeça, senti muito cansaço. Ele tem mais de 20 tipos de reações, eu tive duas, graças a Deus. Depois dos três primeiros meses não tive mais dor de cabeça, a única coisa que eu sinto é um pouco de cansaço, ele dá um pouco de fadiga. Mas como eu combato isso: com exercício físico. Além da academia (que odeio) faço dança (adoro) – zumba e fit dance. A dança me alegra e tem sido uma terapia”.
Cristiane já fazia exames periodicamente antes de ter o câncer, fazia a ecografia mamária e a mamografia pelo menos uma vez ao ano e o último exame era recente. Na última mamografia realizada havia se identificado alguns nódulos, mas nada grave. Atualmente, ela continua fazendo exames regulares, não só da mama, mas também ginecológicos.
“Após esse cenário, eu reduzi de uma vez ao ano para duas vezes ao ano, então a cada seis meses eu faço a ecografia e a mamografia”.
Ação no trabalho
Um tempo após a sua descoberta do câncer, uma colega de trabalho também foi diagnosticada e teve que passar por processos ainda mais difíceis, como a quimioterapia. Ela conta que no local de trabalho, em meio à campanha do outubro rosa, os colegas se reuniram em prol de uma ação que promovesse um apoio às mulheres passaram por esse processo.
“Ela ia com os turbantes [lenços] coloridos, com uma amarração diferente, e a turma para dar um apoio, […] aderiu. E aí nós fizemos uma campanha, todos colocaram turbante. Nós resolvemos fazer um outubro rosa interno em apoio à colega, não só a ela, mas aos outros colegas que passaram por esse processo, inclusive eu”.
Superação
Ela destaca, também, como sua vida mudou de forma positiva após a superação da doença.
“Quando a gente passa por uma situação dessa, que coloca em cheque a sua vida, a sua saúde, coloca você entre a vida e a morte, faz com que você faça uma retrospectiva da sua linha do tempo. Eu procuro ter mais tempo para mim, mais tempo para a minha família, mais tempo para as coisas que eu considero interessantes e importantes. A gente começa a ver a vida com olhos mais leves, com olhos mais puros, com olhos mais alegres. Eu me tornei uma pessoa muito mais alegre, muito mais brincalhona, muito mais leve, muito mais despojada”.
“A mensagem para as mulheres é: se cuidem, se toquem, se vejam, se amem”.
Segundo o INCA, o câncer de mama é o segundo tipo de tumor mais frequente no mundo e o mais comum entre as mulheres, excluindo-se o câncer de pele, respondendo por cerca de 28% dos casos novos a cada ano. A estimativa de novos casos em 2018 é de 59.700.
De acordo com o médico mastologista Farid Buitrago, a maioria das doenças mamárias podem ser detectadas com o autoexame, mas o melhor é sempre fazer consulta médica uma vez por ano e fazer o exame da mama. Ele explica que o principal sintoma do câncer de mama costuma ser o nódulo, principalmente o endurecido, que pode causar algum tipo de deformidade na mama (pode ser alguma retração, um abaulamento, ou pode sair algum tipo de secreção sanguinolenta do mamilo). Outro sintoma também pode ser o aparecimento de nódulos na axila.
Quanto aos tratamentos do câncer, o mastologista comenta que os mais utilizados costumam ser a cirurgia, seguida da quimioterapia e da radioterapia e, em menos casos, a hormonioterapia. Entretanto, ele destaca que nem todas as pessoas diagnosticadas precisam fazer esses quatro tipos de tratamento. “A necessidade de fazer cada tratamento depende muito do momento do diagnóstico da doença. Se a doença é diagnosticada ainda no começo, às vezes não é preciso fazer esse tipo de tratamento, a quimioterapia ou radioterapia”, afirma o mastologista. Quando ocorre o diagnóstico precoce da doença, as chances de cura do câncer de mama podem passar de 90%.
“É fundamental o diagnóstico precoce do câncer de mama, porque fazendo um diagnóstico precoce, nós conseguimos curar a maioria das pessoas e podemos evitar tratamentos mutiladores, tratamentos mais agressivos, como a retirada da mama, por exemplo”.
Além disso, ele chama atenção à melhor forma de prevenção, isto é, uma vida saudável. “Hábitos de vida saudáveis, hábitos de vida com atividade física, alimentação balanceada, evitar a obesidade, sedentarismo. Tudo isso contribui para evitar o câncer de mama.”
Por Ana Karolline Rodrigues.