Não é à toa a capital federal leva o título de uma das maiores produtoras de café no país. Segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), com média de produção de 360 quilos de grão por hectare, a região apresenta produtividade duas vezes maior do que a média nacional. O órgão ainda estima que na região Centro-Oeste estejam localizadas boa parte das indústrias cafeicultoras. Só no Distrito Federal são pelo menos nove marcas diferentes que cuidam do tratamento do pó.
Quem anda pelo setor de indústrias de Taguatinga logo sente o cheiro de café, que toma conta da região localizada a poucos quilômetros do centro. É que das nove marcas, seis apresentam fábricas ou chácaras no setor. A mais antiga delas, a da “Café Export”, funciona desde 1981. No espaço, estima-se que saiam diariamente cerca de 15 a 20 toneladas do produto: um total de 600 sacas e uma produtividade que corresponde ao montante de dois mil quilos por hora.
Segundo a empresa, a produção tem esse tamanho em decorrência da demanda criada. Há cinco anos, a marca defende o título de maior produtora de cafés do DF e é a segunda marca local mais vendida em Brasília. Só perde para a gigante “Café do Sítio”, que distribui o produto para os quatro cantos do país, enquanto a “Café Export” prefere concentrar as vendas na região Centro-Oeste. As conquistas são motivos de orgulho do sócio-proprietário Fábio Afonso da Cunha, de 34 anos.
Ele conta que o pó preparado no local chega ainda em formato de grãos, trazido do triângulo mineiro, mais precisamente das cidades de Uberlândia e Uberaba. O café que vem de lá recebe o apelido de “pó do cerrado”, pois, segundo ele, o ecossistema da região é o mais propício para o plantio do alimento.
“O clima e a terra seca são melhores para o desenvolvimento do grão. Antigamente se plantava no Paraná, mas lá é muito frio e os pés acabavam morrendo muito rápido, pois não suportavam as baixas temperaturas”.
Ele acrescenta outro processo curioso: os que envolvem a produção do pó até ser ensacado e vendido. Antes de chegar às prateleiras dos mercados, o grão é colhido e trazido em sacas com seis quilos cada, transportadas por caminhões. Quando chegam à fábrica, os grãos recebem tratamento especial, são selecionados e lavados.
Após o processo de seleção, são levados a grandes fornos industriais que serão responsáveis por realizar a torra do café. Após torrado, o produto é conduzido por canaletas até um grande moedor que irá triturar o grão transformando-o em pó solúvel, capaz de ser consumido.
De acordo com o proprietário, existem diferente tipos de café. A intensidade, o tempo de torragem do produto e a mistura de temperos utilizadas é que definem o gosto do produto. “Quanto mais torrado e queimado mais intenso o sabor. Quanto menos tempo ele fica na torra, mais suave é a bebida”, explica.
Todo o processo exige o auxílio de 204 funcionários, além de 24 caminhões e duas carretas que se dividem entre turnos para dar conta da distribuição. A produção é tão grande que o espaço já não comporta mais o estoque do produto e exigiu do sócio uma expansão. A fábrica da marca irá se mudar para Santa Maria, em um espaço com o dobro das dimensões atuais. Lá o café poderá ser armazenado em silos antes de ser preparado para o consumo.
Medidas ecológicas
Fábio ainda explica que a empresa sente a necessidade de amenizar os impactos causados pelo descarte e pela fabricação do produto. Ele defende que todos os sacos usados para a embalagem a vácuo do pó são recicláveis e que os filtros de café, que também são vendidos pela empresa, apresentam a mesma consciência ecológica.
Além dos filtros, o sócio afirma que “todos os resíduos produzidos nesta unidade são destinados para empresas de recicláveis do DF, como a Capital Recicláveis, situada na Cidade dos Automóveis. No local, funcionários poderão dar “o tratamento adequado ao produto. Sem prejudicar o meio ambiente”. Lá, o material é misturado a outros componentes como garrafas Pet para, no final, ser comercializado na forma de resmas de papéis recicláveis.
Para ele, a consciência ambiental é imprescindível para o crescimento de um negócio responsável ecologicamente. “Sai mais caro para a gente ter todo esse cuidado, mas no final vale a pena. Na verdade, não é um dinheiro gasto, mas sim investido. Estamos investindo em um meio ambiente mais limpo e mostrando que é possível que uma fábrica produza sem impactar tanto no meio ambiente”, justifica.
Por Victor Fuzeira
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira