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Pandemia piora saúde dos motoristas e aumenta riscos de acidentes

A quarentena imposta pela pandemia do novo coronavírus mudou os hábitos dos brasileiros: passamos a ficar mais tempo sentados, o uso de telas aumentou, a prática de atividades físicas diminuiu e o isolamento provocou uma série de alterações mentais. Tudo isso está afetando a saúde dos nossos motoristas. Além do aumento da ocorrência de dores crônicas, do sobrepeso e dos males que acompanham a condição, há um perceptível crescimento de problemas oftalmológicos. “Durante os exames para obtenção ou renovação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) nas clínicas credenciadas, vemos a dificuldade que os jovens apresentam durante a avaliação visual. Na entrevista direcionada, percebemos que eles apresentam sintomas comuns: dor nos olhos, dor de cabeça, vista cansada e dificuldade de enxergar à distância. Então solicitamos a avaliação pelo especialista na área, o oftalmologista”, aponta o coordenador da Mobilização Nacional dos Médicos e Psicólogos Especialistas em Trânsito e diretor da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (AMMETRA), Alysson Coimbra.

Dados da Sociedade Brasileira de Oftalmologia apontam um aumento de novos diagnósticos de miopia na população. “Esse é um fenômeno que afeta tanto jovens como adultos. Essas mudanças de hábitos têm um efeito rápido na saúde e impactam também na segurança viária. O número de encaminhamentos para oftalmologistas aumentou nesse período, em função das mudanças impostas pela quarentena. O encaminhamento para a correção dessas alterações pelo especialista e posterior reavaliação pelo médico de tráfego são fundamentais para garantir que tenhamos motoristas saudáveis na direção e que não coloquem a vida de todos em risco”, alerta Coimbra.

Segundo o especialista em Medicina do Tráfego, a quarentena mudou também a forma como os brasileiros se comportam no trânsito. Os veículos passaram a ser cada vez mais utilizados, pois se tornaram um meio de segurança epidemiológica. O brasileiro passou a entender o trânsito como um espaço individualizado, e não mais coletivo. “O comportamento do motorista brasileiro ficou mais agressivo e individualista, isso fica evidente nos casos de brigas de trânsito, cada vez mais frequentes, na intolerância e no crescente desrespeito à lei. Se levarmos em conta os transtornos mentais provocados por tanto tempo de isolamento, o impacto é ainda maior”, avalia.

O perigo dessas mudanças, diz Coimbra, está no fato de problemas de saúde serem alguns dos principais causadores de acidentes e mortes no trânsito, conforme mostrou uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (ABRAMET). Segundo o levantamento, cerca de 283,5 mil acidentes de trânsito registrados em rodovias brasileiras nos últimos anos foram provocados por questões relacionadas à saúde dos motoristas. Estes acidentes causaram a morte de 14.551 pessoas e deixaram outras 247.475 feridas. “O dado que assusta e acende o sinal de alerta é que 76% destes acidentes foram provocados por falta de atenção ao dirigir, o que é provocado pela fadiga, estresse, cansaço, deficit de atenção ou comprometimento do raciocínio. E isso foi responsável por 62% das mortes e 74% dos ferimentos”, completa o coordenador da Mobilização.

Na avaliação de especialistas em trânsito, esse cenário é um alerta para o risco do aumento do número de acidentes. “A avaliação pelo especialista em medicina e psicologia do trânsito permite o diagnóstico precoce e reduz o impacto disso no trânsito. As políticas públicas de saúde bem-sucedidas partem da premissa de que somente o especialista possui o conhecimento necessário para atuar na sua área. Qualquer conduta diferente disso aumenta os riscos e interfere no resultado da avaliação”, finaliza.