No mês de março é celebrado o Dia Nacional da Síndrome de Down. O diagnóstico da síndrome chega, em grande parte dos casos, ainda na gestação. Contudo, apesar de muitos pais se mostrarem apreensivos com a notícia, diante das particularidades da condição genética, é possível proporcionar qualidade de vida para essas crianças, monitorando possíveis problemas como, por exemplo, as cardiopatias congênitas, que são as anormalidades na estrutura ou função do coração, presentes antes mesmo do nascimento.
Os defeitos do Septo Atrioventricular (DSAV) são os mais comuns entre as cardiopatias congênitas nas crianças com Síndrome de Down. Ela afeta as válvulas atrioventriculares, além dos septos interatrial e interventricular. Em alguns casos, os sintomas da DSAVT comprometem até mesmo o desenvolvimento do bebê, mas não são todas as crianças que apresentam o quadro grave e nem todas as patologias necessitam de correção cirúrgica.
Conforme pontua o cirurgião cardiovascular do Instituto do Coração de Taguatinga (ICTCor), Nestor Sabatovicz Junior, cerca de metade das crianças nascidas com a Síndrome de Down apresentam algum problema no coração ao nascer. Essas malformações estruturais ocorrem nas primeiras oito semanas e/ou nos três primeiros meses de gestação, quando se forma o coração do bebê e, nem sempre são detectadas pelo ultrassom.
“Elas (cardiopatias congênitas) ocorrem por uma alteração no desenvolvimento embrionário da estrutura cardíaca. Em termos práticos é como se durante a formação do coração ocorresse uma alteração no desenvolvimento. Essa situação anormal é o que provoca as diversas malformações, como, por exemplo, a não formação das válvulas cardíacas em ambos os lados, alterações nas paredes do coração, entre outras. Somente o exame ecocardiograma fetal pode determinar com mais exatidão a existência de um problema cardíaco”, afirma.
O especialista ressalta que não são todas as crianças com síndrome de Down que nascem com as cardiopatias congênitas. E que quando a síndrome é detectada na gestação, por meio dos exames, é feita a avaliação das estruturas cardíacas do feto.
“Quando a cardiopatia congênita é do tipo mais grave, muitos bebês precisam passar pelo procedimento cirúrgico nas primeiras semanas de vida até o sexto mês, pois, se for retardada a correção por cirurgia, a cardiopatia acaba provocando a chamada hipertensão pulmonar”, detalha Nestor.
Ainda segundo o especialista, após os procedimentos cirúrgicos nas crianças que tenham a indicação, a recuperação, em grande parte dos casos, ocorre de forma bastante satisfatória. Mas é imprescindível que a criança continue a ser monitorada para evitar qualquer comprometimento futuro.
Causas e Prevenção
A cardiopatia congênita é uma doença em que há a ocorrência de uma anormalidade da estrutura ou função do coração desde o nascimento do bebê. O médico Nestor Sabatovicz explica que as causas incluem diversos fatores como herança genética, cardiopatias em gestações anteriores ou em parentesco de primeiro grau, uso de antidepressivos como o lítio, por exemplo, alguns tipos de anticonvulsivantes e uso de drogas ilícitas.
“Doenças maternas a exemplo da diabetes, lúpus, infecções como a rubéola também podem impactar o momento da formação do coração fetal nas primeiras oito semanas de gravidez. Gravidez gemelar e fertilização in vitro também são considerados importantes fatores de risco”, destaca.
É importante frisar que não há cientificamente comprovada uma forma de prevenir a doença, mas, algumas mudanças no comportamento podem auxiliar o bom desenvolvimento do bebê.
“Quando durante a gravidez é detectada alguma cardiopatia congênita no feto, é importante que os genitores mantenham um acompanhamento médico para monitorar toda a gestação. É no decorrer desse processo que o especialista pode avaliar as alterações ou possíveis fatores de risco e, assim, indicar o melhor caminho e o tratamento mais adequado para cada situação”, finaliza Sabatovicz.