Ansiedade, insegurança, medo e angústia são alguns dos sentimentos que surgiram ou ficaram ainda mais evidentes com as medidas de isolamento para a contenção das contaminações pelo novo coronavírus. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), estima-se que durante a pandemia, entre um terço e metade da população pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica. Mesmo com as práticas de home office, o ambiente de trabalho também precisa de atenção. A professora do curso de Psicologia do Centro Universitário IESB Camila Torres considera importantíssimo esse cuidado por parte das organizações. “O momento é crítico e todas as ações que visem minimizar os efeitos negativos são bem-vindas e necessárias. Não temos como saber o quanto cada pessoa está sofrendo, como cada um está lidando com a tensão, mas podemos inferir que todos estão sofrendo em alguma medida. O fato de algumas pessoas lidarem bem com o peso do momento não significa que todos estão lidando bem. É relevante mencionar que eu apoio que este tipo de prática continue mesmo com o fim da pandemia”, afirma.
A especialista aponta que o ideal é que as ações sejam planejadas e executadas por profissionais da Psicologia ou de áreas afins, e que sejam pautadas na realidade de cada empresa. “Além das intervenções voltadas diretamente para a saúde mental, é importante também que sejam analisadas questões do dia-a-dia do trabalho e das relações. Por exemplo, a forma como serão realizadas as cobranças dos gestores, os prazos, as exigências de produtividade, evitando sobrecarregar ainda mais os trabalhadores que já estão em uma condição extrema”, exemplificou. Fora isso, ela reforça que é fundamental que a organização busque oferecer oportunidades que garantam a segurança dos trabalhadores. “O sigilo dos atendimentos, evitando a exposição pública do sofrimento e das vulnerabilidades das pessoas também são necessários. É preciso também que as empresas respeitem as pessoas em suas dificuldades e negociem novas formas de atuação”, acredita Camila.
#ConteComigo
Pensando nisso, com o intuito de oferecer um espaço de escuta ativa e diálogo para todos os colaboradores, a Bancorbrás criou o projeto #ConteComigo. Por meio de conversas online, as psicólogas da instituição, Cleonice Maccori e Morgana Fernandes, estão à disposição de todos os colaboradores que tiverem interesse e se sentirem à vontade para falar sobre seus sentimentos. A partir dessa atividade de escuta, as profissionais buscam apoiar o colaborador na melhor decisão para dar continuidade ao cuidado com a saúde mental.
O #ConteComigo surgiu após a Bancorbrás realizar uma pesquisa com os seus colaboradores, onde ficou evidente que o isolamento social fomentou quadros de ansiedade, medo e insegurança. “O projeto visa mostrar para os nossos funcionários que eles não estão sozinhos, que nós temos uma equipe qualificada para realizar a escuta ativa e apontar caminhos para restabelecer o equilíbrio emocional”, afirma o Gerente Executivo de RH da Bancorbrás, Sérgio Alves Garcia.
Sigma Acolhe
No caso das instituições de ensino, a preocupação é também com os alunos. Os efeitos causados pela pandemia do Covid-19 nos alunos durante este período atípico precisam ser analisados e avaliados pelo corpo docente das escolas. Nessa linha, em 2020, o Colégio Sigma formulou o projeto Sigma Acolhe – um espaço de fala e escuta para os alunos do Ensino Médio.
A proposta é que cada encontro tenha uma temática específica, com o objetivo de conversar e ouvir a opinião dos jovens, a fim de tirar dúvidas e tentar buscar a melhor solução. “É um momento de diálogo entre a escola e os alunos. Um canal legítimo para pensarmos com eles as rotinas da escola. A ideia é discutirmos o cotidiano, pensando juntos em caminhos possíveis”, explica Carol Darolt, diretora da unidade 912 Sul.
O primeiro encontro de 2021 aconteceu no início do mês de março e abordou, principalmente, as alterações no calendário de provas de vestibulares e as incertezas sobre o tema, além de realizar um acolhimento em relação ao início do ano letivo, ensino híbrido e o retorno presencial. Os estudantes apontam que o projeto é essencial, principalmente neste período que estão vivendo. “Achei super necessário o encontro, pois tem muita gente passando por dificuldades emocionais.
E a escola abrir esse espaço para os alunos falarem sobre suas angústias mostrou que nós podemos contar com eles”, afirma Thiago Bragança, aluno da 2ª série do Ensino Médio da unidade de Águas Claras. “Vi que a nossa escola está muito disposta a acolher a todos, senti muita verdade”, conta Katarina Vilaça, da 2ª série do Ensino Médio da unidade de Águas Claras. “Muitas escolas deviam fazer o mesmo”, comenta a jovem.