Professor Moacir
Talvez o momento cívico mais importante de uma nação seja a realização das eleições gerais. As eleições permitem que muitos fatos pitorescos aconteçam por esses rincões brasileiros. Um amigo (que foi eleito Prefeito) me relatou um desses eventos acontecidos na fase de campanha eleitoral em um Município do Entorno de Brasília – D.F.
Os candidatos saíam pelas fazendas da região noticiando que haveria visita de um dentista e de um protético, ambos práticos, para extração de dentes e distribuição de dentaduras. Marcavam a data e o local, normalmente, se estou bem certo, numa fazenda da região conhecida como Bonsucesso.
Na data marcada, logo pela manhã, começavam a chegar os eleitores moradores da região e da vizinhança. E não eram poucos. Enquanto os candidatos não chegavam, os presentes tiravam um dedo de prosa com os donos da casa, reviam-se mutuamente, contavam causos e histórias, sorriam e tomavam café com alguns pães de queijo.
Quando os candidatos chegam todos os cumprimentam com sorrisos, afagos, apertos de mão. Cria-se um ambiente psicológico afável e cordial. Os profissionais práticos são apresentados e merecem uma aparente admiração daqueles que irão ser “consultados” ou “tratados”.
O dentista se apresenta e esclarece como serão feitos os procedimentos de extração de dentes e de distribuição de dentaduras. Ele pede que os que pretenderem a extração fiquem de um lado e os que terão dentes novos se direcionem para outro lado. Os pacientes para extração sentam-se em um banco que fica no alpendre e são orientados a abrirem a boca. O dentista prático traz uma seringa com anestésico e de uma só vez, com o mesmo instrumento, vai identificando os dentes a serem extraídos e anastesiando-os.
Em seguida o dentista espera passar uns dez minutos e com um boticão, da mesma forma que aplicou a anestesia, em série, vai arrancando os dentes de seus pacientes.
Enquanto isso, o protético prático orienta os interessados a fazerem uma fila e começa a distribuição de dentaduras. Ele chega com um saco cheio de prósteses para o eleitor que testa para ver se ficou boa ou não. Se o cliente gostar, pronto já leva aquela. Se não estiver boa, devolve-a ao saco, pega outra e testa novamente, até achar uma que dê certo. Esse procedimento dura enquanto existir desdentado. Terminados os trabalhos é servido um farto almoço, com bastante animação. Às vezes tem até uma dupla de cantores para abrilhantar o evento. O dia passa e foi muito bom.
Chegam as eleições e os candidatos são eleitos e quanto aos eleitores, alguns ficam sem dentes e outros com dentaduras pré-fabricadas. Algumas delas, disse esse amigo, são tão mal feitas que às vezes tem um queixal na parte frontal. Quando os eleitores encontram os eleitos reclamam que a dentadura estava machucando e que parou de usá-la. Então recebe o afago do ex-candidato de que a dentadura postiça servirá para tirar fotografias.
Isso aconteceu algumas décadas atrás. As coisas precisam ser aperfeiçoadas. Não se pode trocar ou vender votos, sob pena de se comprometer o futuro de todos, principalmente da educação, da saúde e da segurança pública. A educação tem a capacidade de impedir a perpetuação de tais práticas.
F. MOACIR BARROS é professor, escritor e Advogado da União.