De acordo com o último Censo Agropecuário, a agricultura familiar é a base da economia de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes. Além disso, é responsável pela renda de 40% da população economicamente ativa do País e por mais de 70% dos brasileiros ocupados no campo. Produz, por exemplo, 70% do feijão nacional, 34% do arroz, 87% da mandioca, 46% do milho, 38% do café e 21% do trigo. O setor também é responsável por 60% da produção de leite e por 59% do rebanho suíno, 50% das aves e 30% dos bovinos.
Ao mesmo tempo, sem-terra vivem em extrema dificuldade. No Brasil, 20 milhões de pessoas padecem por falta de moradia. Ao todo, cerca de 33 milhões de brasileiros não têm onde morar, segundo relatório do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos. Mesmo com iniciativas do governo federal, como o programa Minha Casa Minha Vida, o problema tem se acentuado. Especialistas em habitação traduzem os números: a falta de moradia aumenta o número de invasões e de população favelada — o índice chegou a 11,4 milhões, segundo o Censo 2010 do IBGE. O Incra diz que já foram criados 9.374 assentamentos, que são áreas já desapropriadas e destinadas oficialmente para a reforma agrária. Ainda assim, há uma grande quantidade de acampamentos, ou seja, áreas ocupadas, mas que não são de posse dos camponeses.
No ano passado, 70 trabalhadores foram assassinados, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Os piores lugares são Bahia (10 mortes), Pará (21 mortos) e Rondônia (17).
Confira histórias de trabalhadores
Professora do campo no RS
A professora Marilene Korb, de 62 anos, trabalha em área rural “a vida inteira” próxima à cidade de Porto Alegre. Como professora, ensina o cultivo de hortas, frutos e a prática de jardinagem para crianças do primeiro ao 5º ano do ensino fundamental. Ela atua como agricultora orgânica e professora de agroecologia urbana. Ela explica que é filha de trabalhadores sem-terra que participaram das lutas por reforma agrária seguindo a ideologia de Luiz Carlos Prestes. Marilena nasceu em acampamento de escola de agricultores. A escola de agricultura não recebe nenhum tipo de apoio governamental, e “já foi atacada por traficantes”.
“Eles só querem lucro”, diz agricultor de MG
O agricultor que se identifica como Luis Fernando, de 70 anos de idade, vive em Uberaba (MG). Ele trabalhou no campo na infância com grãos, por exemplo, milho e amendoim. “Os grandes proprietários de terra não se importam com o trabalho do pequeno produtor. “‘Só querem lucro‘’, lamenta.
“Nossa rotina começa às 5h”
O agricultor sem-terra José Carlos da Silva, de Piraí (RJ) cultiva mandioca, feijão, milho, batata doce e jiló. “A crise está apertando, mas está dando para sobreviver. A maioria da mercadoria sai daqui para o povo comer. Fomos nós que produzimos. A redução dos direitos trabalhistas só deixa mais pessoas desempregadas”. A rotina dele começa às 5 horas da manhã. “Quem tem gado, para tirar leite, a jornada começa 3h da manhã. Quando o sol começa a esquentar, a gente para mais ou menos 10h. Voltamos durante a tarde e ficamos até escurecer. No tempo que ficamos parados por conta do sol, nós fazemos artesanato dentro de casa para ajudar na renda, ou descansamos.
Líder de trabalhadores no Acre
O agricultor Francisnilton Silva, 35 anos, trabalha em Marechal Thaumaturgo, Acre. “Sou sindicalista e trabalho com produtores rurais. farinha, arroz feijão e uma grande variedade de produtos rurais.A minha rotina é reunir com os trabalhadores e mostrar os direitos deles e tentar fazer melhorar a vida deles no campo. Ele vive para manter trabalhadores informados sobre as condições que o governo está oferecendo para eles. “O homem que vive no campo tem pouco acesso à informação. Tenho a função de levar essas informações para eles e mostrar o que esse governo está tentando fazer. Os grandes fazendeiros e empresários fazem ameaças aos trabalhadores rurais, tentam tirar terra, que o lugar que eles produzem e fazem a economia familiar.
“Estamos em risco no PA”
O agricultor Adilson da Silva, 62, é o responsável pelo setor de comunicação do MST no Pará. Ele acusa que os trabalhadores do campo são vítimas de violência, inclusive da polícia. “Soubemos que um colega nosso, Ulisses Manaça, coordenador do MST no Pará, tinha a cabeça a prêmio por R$ 50 mil. Em 20 anos de luta nunca mataram ele. No dia 14, ele morreu por conta de um câncer. Como agricultor familiar, cultiva diferentes tipos de hortaliças que “chegam ao Brasil inteiro. Mas lógico que a gente se sente ameaçado”.
Por Guilherme Fonseca, Lorena Cabral, Lucas Mayon, Mariana Fraga, Vinícius Heck e Vítor Mendonça
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira.