“Dia de vitória, pai”. Com estas palavras, Ruan Felipe, do Capital incentivou e profetizou para o atacante ou para Gui, autor da cobrança do título da segunda divisão do Candangão, diante do Taguatinga (ambas as equipes estão garantidas na Série A no ano que vem). Ruan lembrou que muitas andorinhas sobrevoavam o gramado do Bezerrão e isso daria sorte. A previsão foi correta, mas nem o camisa 9 sabia que seria tão suado, literalmente. A vitória nos pênaltis fez a comemoração explodir. No tempo regulamentar, mais a prorrogação, o placar foi de 1×1. Já na decisão por pênaltis, a Coruja venceu por 5×4 e garantiu o bicampeonato, dessa vez invicto.
Sob um calor de 30°C (às 10 horas) , Taguatinga e Capital fizeram a final da Segunda Divisão do Campeonato Brasiliense de Futebol. Antes e durante a partida, fogos de artifício na parte externa do estádio. Porém, nada tinham a ver com a partida.
Em campo, o Taguatinga trocava mais passes com a experiência dos atletas. O Capital, formado em sua grande maioria por jovens, jogava na força física e velocidade. O lado direito dos dois times marcou o jogo.
A primeira grande chance da partida veio dos pés de Wisman, atacante do Capital, que recebeu no lado direito do campo, avançou e bateu forte, arrancando suspiros da torcida.
Kelvin, jogador do Taguatinga, recebeu passe na intermediária e chutou pelo lado direito do goleiro Matheus.
(Quase) cai cai
Em uma bola levantada para a área, o zagueiro Lúcio, capitão do Capital, escorregou, mas ainda conseguiu afastar o perigo. Não era seu primeiro escorregão na partida. O goleiro Matheus, preocupado com as chuteiras estarem prejudicando o companheiro, falou “eu caio aqui e você fala lá (para trocar as chuteiras)”. Não aconteceu. Lúcio manteve seus instrumentos de trabalho e não mais caiu.
Mais tarde, outra projeção de queda. “Matheus, cai também pra gente segurar”. O Taguatinga era mais incisivo no momento. O goleiro optou por se manter de pé e o time segurou a partida de outras maneiras.
Funcionou. Jobson perdeu chance claríssima aos 42 minutos. Recebeu passe livre na área, ajeitou para a perna direita e bateu cruzado, rasteiro e pra fora, para desespero dos companheiros.
Segundo tempo: gols e profecia
O relógio marcava 11 minutos da segunda etapa quando Gui, do Capital se surpreendeu com as andorinhas. Ruan, em um tom profético e otimista, garantiu que elas estavam ali por um motivo especial: a vitória viria.
Pouco tempo após sua previsão, o gol veio, mas a favor do Taguatinga. Em uma troca de passes rápida pela direita, ele recebeu enquanto entrava na área e bateu firme, cruzado e rasteiro. A bola ainda tocou na trave antes de balançar as redes.
O empate, porém, não demorou a aparecer. Wisman aproveitou cruzamento e cabeceou forte. Sucuri espalmou para frente. Dougão, bem posicionado, cabeceou novamente. Edmar Sucuri tocou na bola, mas ela entrou e definiu o empate no placar.
Prorrogação
O cansaço era evidente no rosto dos atletas. No futebol também. Os 30 minutos complementares se resumiram a cruzamentos e chutões dos dois lados, sem grandes chances.
Jobson, 7 do Capital, falou aos companheiros que gostaria de receber uma “bola boa”. O atacante teve 3 dessas “bolas boas” durante os 90 minutos de jogo e não soube aproveitar. Além do desejo, apoiou o goleiro de seu time. “Se for pros penaltis, tu que vai brilhar”. Dessa vez o jogador estava certo.
Pênaltis
“Deixa o Radamés bater a 4ª ou a 5ª, mas acho que nem vai precisar”. Maninho, craque do Tagua, tentou fazer previsões assim como os adversários, mas não teve a mesma eficiência.
Rodrigo Raposo, árbitro da partida, escolheu o gol localizado do lado direito das cabines de imprensa do Bezerrão.
O Taguatinga abriu a série de cobranças. Os gols saíram até a segunda cobrança do Capital. João Magalhães bateu forte e Edmar Sucuri caiu para o lado direito. Melhor para o goleiro, que espalmou por cima do gol.
O primeiro erro do Taguatinga veio dos pés de Radamés, na 4ª cobrança, que Maninho achou que não seria necessária. Rasteiro, seu chute foi no canto direito de Matheus, que defendeu e empatou a série.
O jovem goleiro, como previu Jobson, brilharia novamente na sexta cobrança, quando Marcos Douglas chutou à meia altura, no canto esquerdo do arqueiro, que espalmou e correu como se já fosse campeão. Um erro de cálculo, visto que seus companheiros ainda precisavam converter para a festa ser completa.
Gui, o reserva que se espantou com a quantidade de andorinhas, teve a missão de cumprir a profecia de Ruan. O “pai” mandou uma bola alta, que voou como uma andorinha e estufou as redes do predador Sucuri. Capital campeão!
Festa, política e provocações
Enquanto os companheiros recebiam as medalhas, Jobson estampava uma camiseta com os dizeres “Chupa, Eduardo”. Questionado, disse se tratar de um supervisor do Brasiliense, equipe em que treinava antes da segunda divisão começar.
“Alguém pegou mais de uma medalha”. Essa foi a reclamação de Matheus ao ficar sem a premiação enquanto seus colegas festejavam.
Nessa festa, suspeito de 4 estupros e ex-presidiário Jobson defendia um candidato a presidência dedicando o título ao mesmo.
Mulheres na arbitragem
Pela primeira vez no campeonato, duas mulheres compuseram a equipe de arbitragem da partida. Leila Cruz atuou como auxiliar (bandeirinha) e Cassia França foi a 5ª árbitra da Final.
Por Ricardo Ribeiro e Vinícius Heck
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira