A pandemia da Covid-19 afetou substancialmente o desenvolvimento escolar de milhões de crianças, adolescentes e jovens em todo o mundo. O Brasil foi um dos países onde as escolas públicas ficaram fechadas por mais tempo, com uma média de 287 dias – o equivalente a mais de um ano e meio letivo sem aulas presenciais. Entre esta e outras circunstâncias, houve considerável atraso e perdas no aprendizado.
Atualmente, as principais dificuldades dos professores em sala de aula com seus estudantes variam desde desatenção, incapacidade dos alunos permanecerem em suas carteiras, aumento progressivo da violência, bullying, até crises de ansiedade. Mas o que está acontecendo?
Para análise dos motivos a estas consequências, diversos fatores precisam ser levados em consideração, entre eles, existe o aspecto neurofisiológico. Segundo a especialista em Neuroaprendizagem e professora de pós-graduação do Centro Universitário Internacional Uninter, Viviane Oliveira de Melo, a pandemia e seus desdobramentos levaram ao estresse crônico de muitos indivíduos, ativando circuitos cerebrais negativos ao processo de aprendizagem.
“O estado de estresse provocado pela pandemia pode desregular o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), aumentando os níveis de cortisol e noradrenalina no sistema orgânico dos indivíduos, o que predispõe a doenças sistêmicas crônicas, tais como diabetes e hipertensão. Além disso, o cortisol em níveis elevados interfere com o hipocampo, resultando em déficit na capacidade de memorização e, portanto, de aprendizagem”, explica a professora.
Com o tempo, este processo pode levar a atrofia do hipocampo, comprometimento das funções cognitivas, desordens neurológicas, redução na capacidade de adaptação comportamental, tendência à violência, estados constantes de medo e ansiedade, entre outros sintomas.
“Embora não haja dados de estudos com consequências sobre o cérebro de crianças e adolescentes provocados pela pandemia, considerando o que já sabemos sobre o estresse crônico, ao analisar o cenário atual das escolas podemos constatar que o cérebro está desadaptado ao contexto escolar, de maneira que se torna inegável a necessidade de avaliação e tratamento psicológico adequado às comunidades escolares”, afirma Viviane.
A especialista ainda cita a necessidade de aulas dinâmicas, motivadoras e investimentos em metodologias ativas, para maior sucesso no contexto ensino-aprendizagem. A realização de exercícios físicos também pode auxiliar, pois contribui para a produção de fator neurotrófico, melhorando a neuroplasticidade, especialmente no hipocampo e córtex-pré-frontal.