Os millennials são filhos de uma geração que deu tudo pelos seus trabalhos e conseguiu ter uma vida relativamente estável. Mas, eles estão cansados de fazer o mesmo; de trabalhar para mal conseguir pagar as contas no fim do mês; de ver a possibilidade de ter uma casa para chamar de sua cada vez mais longe; e, principalmente, de ter que esperar um ano inteiro (e a autorização do chefe) para sentirem-se livres.
Eles estão, há anos, insatisfeitos com o modelo de trabalho tradicional, onde precisam trabalhar durante onze meses e têm apenas trinta dias do ano para viver; onde ter um dia de folga durante a semana é uma batalha interminável entre empregado e empregador.
Não é uma surpresa que a necessidade de liberdade e autonomia venha crescendo junto com a insatisfação pela rigidez do modelo atual.
Essa insatisfação, por sua vez, fez com que algumas pessoas começassem a pensar em alternativas. E graças à internet, isso começou a ser possível para alguns. O trabalho remoto e o nomadismo digital ganharam espaço como uma nova forma de trabalhar.
Isso porque, antes da internet, a ideia de trabalhar remotamente era impossível, quanto mais a ideia de trabalhar de qualquer lugar do mundo. Logo depois de sua criação, trabalhar de casa — ou enquanto viajava — era um conceito bastante distante, afinal, nem todo lugar possuía uma conexão confiável à internet e muito ainda precisava evoluir em termos de comunicação.
Entretanto, com a criação e evolução da web 2.0 (a internet como conhecemos hoje) e das telecomunicações, novas possibilidades surgiram. A internet criou profissões e novas formas de nos comunicarmos. Ao longo dos anos, aqueles que foram encontrando espaço neste universo, e formas de trabalhar remotamente, começaram a fazê-lo. Porém, o caminho não era simples porque nunca havia sido trilhado.
Foi há cerca de quinze anos que este movimento rumo ao trabalho remoto começou a dar os primeiros passos. O livro “Trabalhe 4 horas por semana” foi precursor de um movimento global de implementação e evolução do teletrabalho. Com ele, muitos começaram a entender que era possível se desvencilhar das amarras do modelo de trabalho convencional.
Ao mesmo tempo, mais profissões relacionadas à internet surgiram. E há cerca de cinco anos houve um maior movimento de pessoas tornando-se nômades digitais — pessoas que trabalham enquanto viajam pelo mundo e não têm uma residência fixa.
Apesar de, na época, o conceito ainda ser estranho para muitas pessoas, haviam algumas oportunidades para trabalhadores freelancers e empreendedores. Mas, foi apenas depois da pandemia que as empresas — e especialmente seus colaboradores — perceberam que o modelo de trabalho remoto poderia funcionar não só para aqueles que trabalham diretamente com internet.
A insatisfação com o modelo de trabalho restrito, a necessidade por mais liberdade e flexibilidade e a busca por mais satisfação pessoal são apenas algumas das razões que motivaram cada vez mais pessoas a buscarem o nomadismo digital como opção de vida.
Hoje, é possível trabalhar de quase qualquer lugar com uma boa conexão à internet. Desde um café no México até uma praia no Vietnã.
É possível, também, trabalhar nas mais diferentes áreas. Você pode ser um contador, advogado, nutricionista, gestor de tráfego, personal trainer, artista, produtor de cursos e e-books, designer e ser um nômade digital.
E, apesar de ser mais fácil adotar este estilo de vida sendo freelancer ou empreendedor, é possível ter um contrato de trabalho e viajar o mundo ao mesmo tempo. Hoje, alguns trabalhadores em regime CLT conseguem negociar condições especiais com seus empregadores que permitam que eles trabalhem de uma forma mais flexível.
Atualmente, cerca de 35 milhões de pessoas viajam o mundo enquanto trabalham. E 17% delas têm um contrato como trabalhador remoto. Apesar de ser um número relativamente baixo (a maior trabalha por conta própria), há esperança para aqueles que querem se aventurar sem perder o emprego.
É preciso lembrar, entretanto, que para começar nesta jornada é necessária muita preparação e cautela. É preciso entender tudo que o nomadismo digital compreende, desde as escolhas a serem feitas (como deixar a família e amigos para trás) ao planejamento financeiro (ter uma boa reserva para caso as coisas não saiam como esperado).
Como começar:
- Análise da situação: é importante entender se o modelo de vida atual pode ser trocado pelo nomadismo. Há muito o que considerar: se está num relacionamento sério, se tem filhos ou animais de estimação, se existem despesas fixas (como financiamento de uma casa), se tem resiliência em situações adversas e se consegue lidar com estresse ou prefere ter uma rotina estável. Todos estes questionamentos são peças importantes para definir se este estilo de vida funcionará ou não.
- Planejamento financeiro: começar a viajar sem ter a vida financeira em ordem é a pior coisa a ser feita. As viagens em si já provocam uma sensação de instabilidade. Adicionar mais incertezas, além disso, pode ser demais. Insegurança financeira e no trabalho, é pior ainda. Por isso é importante calcular seus custos estimados e ter uma boa reserva financeira, que possa durar pelo menos 6 meses (1 ano é mais recomendado).
- Trabalho: ter um trabalho que não ofereça a oportunidade de teletrabalho (e isto seja inegociável) é o maior obstáculo. Portanto, é importante verificar se é possível trabalhar desta forma, e se não, talvez procurar um novo emprego ou tentar uma nova área (é recomendável não viajar até que a situação do trabalho esteja estabilizada).
- Plano de ação: começar a vida nômade sem ter um planejamento pode funcionar, mas não é sustentável. É necessário traçar uma rota (desde a análise da situação até embarcar na primeira viagem). Mais uma vez, a vida de um nômade digital é cheia de instabilidades, e não ter um plano pode ser caótico.
- Viajar: após executar o plano de ação, é hora de encontrar destinos compatíveis com seu orçamento e viajar. É preciso comprar as passagens, despedir-se de amigos e familiares e embarcar nessa nova aventura, sabendo que sempre é possível retornar caso perceba que não quer mais viver desta forma.
Enquanto é necessário ter cautela em diversos aspectos pessoais e profissionais, este é o melhor momento para ser um nômade digital. Se há alguns anos era difícil encontrar uma conexão estável à internet e até mesmo fazer uma videochamada, agora tudo está diferente.
Não só a tecnologia evoluiu, mas as pessoas também se acostumaram a esta nova realidade.
Hoje, existem empresas no mundo todo contratando trabalhadores remotos. E a tendência é que este número cresça.
Também não faltam oportunidades para empreender ou trabalhar como freelancer.
Se há algo que a pandemia provou, é que é possível, para muita gente, trabalhar remotamente. Agora cabe às empresas e aos trabalhadores entenderem que o cenário está mudando e buscarem formas de trabalhar em harmonia com mais flexibilidade — e parar de contar as horas para bater o ponto.