Prevenção de acidentes causados por animais peçonhentos; Biologia e controle do caramujo africano; Saneamento básico e ambiental; Agentes comunitários de saúde na prevenção de intoxicação por agrotóxicos; e Vetores (Dengue, Zica e Chikungunya) foram alguns dos temas abordados durante um curso de capacitação de agentes comunitários de saúde e de endemias (ACSs e ACEs), que a Corumbá Concessões realizou nos dias 3 e 4 de dezembro, na sede da Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), em Silvânia.
Nos dias 20 e 21 de novembro, o curso foi realizado em Corumbá de Goiás, com a participação de 30 profissionais. O objetivo foi contribuir para a formação, qualificação e democratização das relações de trabalho dos agentes de saúde, visando estimulá-los a multiplicar o conhecimento adquirido durante as visitas domiciliares na comunidade.
A atividade faz parte do Programa de Atenção Básica em Saúde e o curso de Silvânia fechou uma série de capacitações nos municípios de abrangência do reservatório da UHE Corumbá IV, realizadas desde outubro último, quando foram trabalhados assuntos escolhidos pela equipe organizadora, em consulta com as secretarias de Saúde, com base nas principais demandas locais. O curso em Silvânia teve a participação de 75 pessoas, entre agentes de saúde e endemias, outros profissionais da área, e contou com a presença do secretário de Saúde, André Calaça.
O atendimento à Saúde Básica em Silvânia, segundo o secretário, teve um grande avanço este ano, com redistribuição de profissionais, passando a disponibilizar médicos nas oito Unidades de Saúde da Família (USF), rede que será acrescida de mais uma unidade, a ser entregue em breve. “Toda capacitação que você faz na área de saúde é pouca e a educação continuada tem que ser feita constantemente. A parceria que a Corumbá veio buscar em Silvânia para esses dois dias de curso foi muito bem-vinda”, avaliou.
Animais peçonhentos
O biólogo e mestre em Ciências Ambientais e Saúde, de Goiânia, Cleyton Silva, falou sobre a prevenção de acidentes com animais peçonhentos (serpentes, escorpião e aranhas) e venenosos. Ele explicou que todo animal peçonhento é venenoso (aquele que tem o aparelho para inocular o veneno na presa); mas nem todo animal venenoso é peçonhento, diferenças que foram uma novidade para os participantes, que se deparam frequentemente com casos de picadas desses bichos nas visitas domiciliares. Eles aprenderam a identificar as espécies mais perigosas, buscar ajuda para aplicação do soro antiofídico e, principalmente, a nunca matarem esses animais, que prestam serviço ao ecossistema.
Segundo ele, os acidentes ofídicos estão entre os principais registrados no Brasil, que é referência mundial em estudos sobre venenos, e cerca de 70% são causados por jararacas (mais de 20 espécies). A agente de saúde Carmelita Rodrigues tirou “grande proveito” das aulas, em especial sobre prevenção de picadas de animais peçonhentos, e o principal aprendizado que ela irá replicar é que não se deve matar cobras. “Eu moro perto de uma mata e se eu ficar na minha casa não vai acontecer nada, mas se eu for onde a cobra está, eu é que vou invadir a casa dela. Muita gente se esquece disso e mata esses animais, que são de grande serventia para a natureza”, disse.
Carmelita disse que convive com muitas serpentes, na maioria cascavéis, e que orienta as famílias sobre as providências a serem tomadas ao encontrar uma ou em caso de picadas, e como buscar recursos para aplicação do soro antiofídico fora, pois Silvânia não disponibiliza a medicação contra picadas de cobras e de escorpião. “Na minha área de trabalho, um rapaz foi picado por uma jararacuçu e, por falta do soro, ficou muito tempo na UTI, quase morreu e ficou com um defeito na perna”, contou.
Outro tema que chamou a atenção dos participantes foi sobre a prevenção de acidentes por agrotóxicos, uma realidade vivida pelos agentes de saúde e de endemias. Os professores explicaram que a saúde ambiental interfere na saúde da população, uma vez que muitas doenças decorrem da poluição ambiental por uso indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras, do lixo e da água contaminada pela fossa negra, entre outros fatores.
O controle do caramujo africano também despertou muito o interesse dos participantes, por serem animais que proliferam com rapidez nessa época de chuva. A Coordenadora de Atenção Básica, Flávia Carvalho, comentou sobre o retorno que teve dos agentes de saúde em relação ao curso: “Eles gostaram muito das palestras que abordaram temas importantes com os quais trabalhamos diariamente com a população, com destaque para a questão do caramujo africano, que é uma demanda grande no município”.
O setor de Endemias de Silvânia encontrou uma solução de manejo e controle do caramujo. A partir da próxima semana, serão colocadas bombonas nas USF para descarte dos animais. “É nessa época de umidade que eles se reproduzem muito e estamos pedindo a população, com orientação dos agentes de saúde e de endemias, para fazerem a cata dos caramujos, com o uso de luvas, para que possamos incinera-los”, disse a médica veterinária e coordenadora de Endemias, Tamires Rodrigues.
Segundo ela, uma empresa vai incinerar os animais, com o cuidado de enterrar as carcaças, junto com cal virgem, para evitar que fiquem no ambiente e virem foco do mosquito da dengue. Tamires comentou sobre uma pesquisa que está sendo desenvolvida numa escola de Itumbiara (Goiás), que consiste no preparo de um extrato feito com folhas de pequizeiro, para matar o molusco. A professora e bióloga Ayanda Nascimento, que coordena a pesquisa juntamente com os alunos, vai fazer teste de campo em Silvânia, para comprovar a eficácia do veneno natural e de baixo custo, informou Tamires.
Corumbá de Goiás
No curso ministrado em Corumbá de Goiás, o técnico agropecuário Luciano Andrade, coordenador do projeto em campo, falou sobre a importância da mudança de hábitos alimentares voltada para o consumo de alimentos orgânicos, dentro do tema Saneamento básico e saúde ambiental. Ele distribuiu aos participantes sementes de milho crioulo, espécie plantada por produtores tradicionais há milhares de anos, e que não foi geneticamente modificada, conservando muito mais nutrientes do que o milho convencional transgênico. O ACS e produtor rural, Jonatas Canedo, manifestou bastante interesse nessa variedade e disse que só não conseguiu sucesso no plantio porque a semente que usou estava velha. “O percentual de proteína bruta por matéria seca do milho convencional, transgênico, chega a 8% ou 9%, enquanto o do milho crioulo pode chegar a 18%”, comparou.
Quanto às vantagens dessa variedade, Jonatas pontuou que além de ser um alimento saudável, com o seu plantio e consumo há o resgate de uma espécie antiga, rara e em extinção. “Agora vou correr atrás desse milho para plantar e incluir na ração que faço para meus animais (gado e galinha) ”, disse. Ele elogiou o curso dizendo: “Nós, agentes de saúde, somos amigos das famílias e quanto mais conhecimento tivermos, melhor poderemos contribuir para a saúde da população e para mudar a cultura do uso do agrotóxico na produção de alimentos”.
A ACS Lucilene de Moura observa que houve uma mudança muito grande em Corumbá de Goiás em relação à forma de produzir alimentos. Na sua opinião, muitos pequenos produtores que antes plantavam e consumiam seu próprio alimento sem uso de agrotóxicos, acabaram vendendo suas terras para os grandes produtores e foram morar na cidade, passando a consumir produtos industrializados. Mas ela e sua família resistem a essas mudanças e continuam vivendo do que a terra dá. “Nós mantemos muitos costumes dos antepassados, como por exemplo o de fabricar sabão, guiar pela lua para plantar e combater pragas de forma biológica. Ao contrário, há muita gente que hoje tenta voltar para a vida do campo, por modismo, mas não é tão fácil fazer isso”, comparou.
Para Milene Gonçalves, coordenadora de Agentes de Saúde, todos ganham com capacitações como a que foi dada aos profissionais do município. “A sociedade é muito carente de conhecimentos e quando temos a oportunidade como esta que nos foi dada, podemos multiplicar as informações. O agente de saúde é chave em todo o processo e o atendimento não funciona sem esse profissional que é os nossos olhos, braços e pernas e trazem para nós as demandas e carências da população”, comentou.
Fazendo um balanço das capacitações, a analista ambiental da Corumbá Concessões, Marinez Caetano de Castro, disse que foram ministrados seis cursos nos municípios de influência da Usina, num total de 96 horas/aula, com a participação de 291 agentes de saúde e de endemias, e envolvimento de 30 coordenadores e equipe das prefeituras beneficiadas. “ Este projeto foi inovador para a Corumbá Concessões, pois ainda não havíamos trabalhado com este público da saúde específico. Foi um trabalho gratificante que gerou debates e mais conhecimento às 321 pessoas diretamente envolvidas, quando tivemos a oportunidade de aprofundar os temas com profissionais qualificados”, disse a analista, que agradeceu o trabalho da equipe e dos municípios.
Ana Guaranys