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Inventário é feito na Praça dos Três Poderes

São 26,4 mil metros quadrados desenhados no coração de Brasília, abrigando os três poderes da República: o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. A Praça dos Três Poderes é o berço da monumentalidade ansiada por Lucio Costa, patrimônio cultural brasileiro e mundial e símbolo da nossa democracia. Entre os últimos dias de janeiro e o início de fevereiro, um olhar que mirasse atento o céu azul da Capital Federal perceberia um drone percorrendo todo o percurso da Praça e examinando, à distância, o que quase não se pode ver de perto.

 

Técnicos da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec) acompanharam, nos últimos dias, o arquiteto e professor da Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat) Fernando Birello em uma série de voos programados, que realizaram mais de 10 mil fotos aéreas em um intervalo de quatro dias. Essas imagens vão se contrapondo e completando, constituindo uma série de dados, ou nuvens de pontos, que criam modelos visualizáveis em 3D. Assim, por meio da chamada aerofotogrametria, é possível criar “gêmeos digitais”, ou metamodelos, que geram centenas de dados precisos, detalhados e que podem ser utilizados para ajudar a contar a história da Praça dos Três Poderes e fazer uma melhor gestão do espaço.

 

“Esse trabalho é um esforço da Secretaria para atender a todos os critérios necessários à preservação da Praça e, finalmente, começar a tão esperada obra de restauro de seu calçamento, um projeto que conduzíamos há anos e que, agora, após os atentados do dia 8 de janeiro, se tornaram ainda mais urgentes”, afirma Bartolomeu Rodrigues, secretário de Cultura e Economia Criativa. Na referida data, milhares de pessoas ocuparam o local, realizando atos de vandalismo tanto nos edifícios e seus acervos, quanto na Praça dos Três Poderes em si, que teve diversos blocos de calçamento arrancados e afundamentos no piso devido ao peso dos veículos que por ali trafegaram.

 

O trabalho de Fernando Birello vem, então, criar um inventário de base gráfica, que acompanha os desenhos dos tapetes de pedras portuguesas, reconstituindo de forma virtual o calçamento da Praça como existe atualmente. Esse mapeamento subsidiará o trabalho do corpo técnico da Subsecretaria do Patrimônio Cultural da Secec, explicitando a paginação do piso e possíveis patologias. “Existe uma paginação feita na época da inauguração da Praça, mas a gente já viu que existem também inserções posteriores, de eficiência e apuro duvidoso, constituindo o desenho da situação atual”, explica o arquiteto, que também é doutorando e pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Habitares Interativos (Nomads), na Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, esse primeiro desenho, feito a partir da vetorização dos dados e do mapa das patologias, já é muito importante para o trabalho que será feito pela Secec, mas os desdobramentos do mapeamento são os mais variados, incluindo, por exemplo, o monitoramento do espaço e respostas de gestão mais eficazes.

 

CONHECIMENTO E PRESERVAÇÃO

Além disso, Birello também destaca a relevância do projeto na produção do conhecimento. “Minha contribuição tem custos muito reduzidos para a Secretaria, e não por questões filantrópicas, mas porque é importante as instituições públicas colaborarem entre si. A gente deveria ter canais mais transparentes, estreitos e profícuos de colaboração entre instituições: de produção de conhecimento, de aplicação de conhecimento e das que necessitam tanto de uma coisa quanto de outra. É importante não ter preciosismo nesse sentido, porque tudo é muito importante para o patrimônio cultural brasileiro”, argumenta.

 

Ainda nesse sentido, o assessor especial da subsecretaria de Patrimônio Cultural da Secec Felipe Ramón Rodríguez destaca que o levantamento subsidiará os relatórios que a equipe de arquitetos da Secretaria vem produzindo para garantir a aprovação de todos os quesitos de preservação solicitados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), visando ao início da obra de restauração da Praça. Além disso, o inventário também gera um conteúdo que poderá ser utilizado tanto para pesquisa, quanto para registro histórico do que está presente no local hoje.

 

“É uma demanda de anos, que a gente vem trabalhando e levantando relatórios para que a restauração, enfim, se inicie. Só que alguns danos que já haviam sido documentados foram ampliados com os atentados do dia 8 de janeiro”, justifica. Por isso, segundo Rodríguez, esse é um momento propício para que se refaça o mapeamento, dessa vez com uma tecnologia melhor e mais moderna e precisa.

 

Quando iniciar, a obra de restauração do calçamento da Praça dos Três Poderes vai incluir trabalhos de impermeabilização, de correção de topografia e da troca de pedras – apenas quando necessário. “A grande questão é que a gente também está trabalhando para preservar as pedras portuguesas. Em alguns casos, vamos ter que colocar novas, porque existem áreas com grandes buracos, sem pedra nenhuma. Mas, fora essas exceções, elas serão retiradas, guardadas em local seguro enquanto a obra acontece e, depois, colocadas novamente. Nós não podemos trocá-las, porque as pedras também possuem um importante valor histórico”, explica o assessor da Secretaria.

Texto: Déborah Gouthier. Edição: Sâmea Andrade/Ascom Secec