Após dois anos sem Carnaval, o brasiliense está sedento pela folia, mas a animação em torno da festa não pode distanciar o folião de curtir o festejo com consciência. No cenário epidemiológico em que o Distrito Federal registrou no ano passado dois mil casos de sífilis adquirida, é preciso redobrar os cuidados no período em relação às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
Neste Carnaval, as unidades de pronto atendimento (UPAs) estão distribuindo preservativos masculinos e femininos – o que é geralmente feito pelas unidades básicas de saúde (UBSs), que só voltam a funcionar na quarta-feira (22) a partir das 14h.
“As próprias unidades de saúde já planejavam para a semana que antecede o Carnaval o aumento na solicitação e no consumo. Nesse período, a gente procura reforçar que as pessoas se divirtam, mas se protegendo”Daniela Magalhães, enfermeira da Subsecretaria de Vigilância em Saúde
Para incentivar a proteção, antes mesmo da folia, a Secretaria de Saúde (SES) aumentou os estoques de camisinhas e lubrificantes ofertados gratuitamente nas UBSs. “As próprias unidades de saúde já planejavam para a semana que antecede o Carnaval o aumento na solicitação e no consumo. Nesse período, a gente procura reforçar que as pessoas se divirtam, mas se protegendo”, afirma a enfermeira responsável técnica pelo tratamento de sífilis da Subsecretaria de Vigilância em Saúde, Daniela Magalhães.
“Muitas vezes os foliões ingerem bebidas alcoólicas, e esse excesso de euforia pode fazer com que as medidas de proteção sejam negligenciadas. Temos que lembrar que o preservativo e o lubrificante são métodos de proteção”, diz. “É importante conhecer as estratégias de proteção e saber que existe uma forma que combina com cada um.”
O preservativo deve ser usado em todas as relações sexuais (oral, anal e vaginal) por ser o método mais eficaz na redução do risco de transmissão de ISTs. Atualmente, sugere-se a combinação com o gel lubrificante, que reduz a chance de a camisinha romper durante a prática, além de diminuir o atrito e a permeabilidade de vírus e bactérias na mucosa.
“Nas unidades básicas já oferecemos o gel lubrificante junto ao preservativo. Estudos comprovam os benefícios, mas ainda se fala pouco sobre a utilização como estratégia de prevenção. Mas é bom lembrar que deve ser utilizado de forma associada”, reforça a enfermeira.
Importância do teste rápido
Apesar de o HIV ser a infecção sexualmente transmissível que traz maior preocupação e estigma à população, o aumento dos casos de sífilis têm chamado a atenção do governo. “Temos tido um crescimento bem grande de sífilis, que é uma infecção que acaba favorecendo a ocorrência de outras ISTs, inclusive o HIV. Hoje, essa é a nossa grande preocupação. Então, é muito importante que as pessoas usem o preservativo e busquem a testagem nos postos de saúde”, defende Daniela Magalhães.
O teste rápido está disponível em todas as UBSs. Além de diagnosticar a sífilis, o procedimento identifica HIV e hepatites B e C. Basta coletar uma gota de sangue, e o resultado fica pronto em até 30 minutos. Para o público sexualmente ativo até 30 anos, a recomendação é fazer uma vez por ano.
O zelo em relação ao controle da sífilis se dá também devido às características da infecção. “Há longos períodos silenciosos. Os sinais são confundidos com outras doenças, e após seis meses o paciente não apresenta mais sintomas. Por isso, o exame é tão importante”, afirma a responsável técnica.
Causada pela bactéria Treponema pallidum, a sífilis é caracterizada por lesões nas genitálias que não doem e que desaparecem espontaneamente. Pode ser transmitida de uma pessoa para a outra durante o sexo sem preservativo ou por transfusão de sangue. O período de incubação pode ser de dez a 90 dias. A infecção tem cura, e o tratamento é feito com três doses de penicilina.
Atualmente, a rede pública de saúde conta com duas vacinas específicas para ISTs. A imunização para a hepatite B está disponível para o público geral, com aplicação de três doses. Já a vacina contra a HPV é ofertada para jovens de 9 a 14 anos e para homens e mulheres de até 45 anos com aids, em tratamento oncológico e transplantados, com relatório médico.
Adriana Izel, da Agência Brasília | Edição: Saulo Moreno