O pequeno Miguel, de apenas dez meses, já é um vencedor. Ele nasceu no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) com mielomeningocele, uma falha no fechamento do tubo neural. Passou por outras unidades de saúde, fez seis cirurgias e ficou cinco meses internado na UTI.
“O objetivo é tirar a criança da UTI e treinar a família para a reabilitação, para as crianças irem para casa sob os melhores cuidados da sua família”Raquel Oliveira Caetano Ferreira, chefe do Serviço de Enfermagem da UCP Ped
Há cinco meses, ele está na Unidade de Cuidados Prolongados Pediátricos (UCP Ped) do HRSM. O setor foi montado especialmente para atender casos como o de Miguel, de crianças que não estão em estado grave – portanto, não precisam permanecer na UTI -, mas que requerem cuidados especiais. Na UCP Ped, os familiares recebem todas as orientações para aprender a cuidar das crianças e poder levá-las para casa.
A mãe de Miguel, Eulália Brito, 38 anos, mora no Jardim Ingá. “Me sinto tendo um curso de qualificação na UCP Ped; aqui adquirimos autonomia pra cuidar dos nossos filhos”, resume. O que ela mais quer? “Poder levá-lo para conhecer a casa que construímos para ele, o quartinho que preparamos antes de ele nascer e a nossa cachorrinha”, sonha.
“Tenho grandes planos para o Miguel. Ele é muito esperto, se expressa com a gente. E aqui na UCP Ped ele só vem se desenvolvendo, pois tenho mais oportunidade de estimulá-lo. Depois de ficar cinco meses na UTI, vejo a UCP Ped como uma oportunidade de fazer um treinamento para irmos para casa”, conta a mãe, que também elogia o atendimento do HRSM: “A equipe é muito sensível, próxima a nós; sinto que gostam muito do meu filho”.
“Trabalhamos para a possibilidade de uma alta segura. Nossa equipe realiza o trabalho com amor, carinho, brilhantismo e maestria”Eliane Souza de Abreu, superintendente do HRSM
Reabilitação
A UCP Ped é um sopro de esperança, uma unidade voltada para pacientes com condição crônica complexa em saúde. São crianças com enfermidades como paralisias cerebrais, síndromes, cardiopatias congênitas e complicações decorrentes da prematuridade extrema. “O objetivo é tirar a criança da UTI e treinar a família para a reabilitação, para as crianças irem para casa sob os melhores cuidados da sua família”, detalha a chefe do Serviço de Enfermagem da UCP Ped, Raquel Oliveira Caetano Ferreira.
Mães de crianças que se alimentam por sonda, por exemplo, aprendem a instalar, higienizar e fazer o manuseio adequado da dieta. Já para os pacientes que fizeram traqueostomia, as mães aprendem a aspirar a secreção e fazer a higienização correta. No caso das crianças que saem do hospital respirando com ventilação mecânica e que ficarão em home care, as mães aprendem a identificar intercorrências, realizar aspiração, verificar a presença de água no circuito e a posição correta do ventilador.
As mães também são orientadas sobre os cuidados com o paciente acamada, a troca de fralda, o banho no leito, assim como as melhores formas de posicionar a criança na cama e a maneira correta de carregá-la.
“A UCP Ped é um setor estratégico para o Hospital Regional de Santa Maria. Temos crianças que dependem de tecnologias e que ocupariam leitos de UTI pediátrica por meses ou anos. Daí, a UCP Ped existe de forma estratégica para promover o giro de leitos em toda a rede de pediatria. Além disso, a unidade promove um cuidado diferenciado e humanizado para as crianças e suas famílias, com uma equipe qualificada e capacitada. Trabalhamos para a possibilidade de uma alta segura. Nossa equipe realiza o trabalho com amor, carinho, brilhantismo e maestria”, orgulha-se a superintendente do HRSM, Eliane Souza de Abreu.
“A UCP Ped representa bem o que, enquanto gestores, esperamos da assistência: atendimento humanizado para o paciente e para a família, de modo a reduzir seu sofrimento e otimizar sua qualidade de vida, também do ponto de vista emocional”Mariela Souza de Jesus, presidente do IgesDF
Atendimento
A maior parte das crianças internadas na unidade tem doenças limitantes. Graças aos recursos da medicina e também à mudança de paradigmas, elas recebem um atendimento cada vez melhor do HRSM e hoje têm a perspectiva de continuidade dos cuidados em casa.
A técnica em enfermagem Antônia Damaceno trabalhava na UTI pediátrica e passou a atuar na UCP Ped, quando a unidade foi criada. “Aqui nós conversamos, acolhemos, estamos muito em contato com as famílias”, conta. “O objetivo é ajudar a treinar os pais para que possam cuidar dos filhos em casa. As mães sentem muita segurança quando saem com suas crianças para continuar cuidando delas em casa, e sentimos que transformamos a vida da família”, acrescenta a técnica em enfermagem Eliane Rodrigues.
A UCP Ped tem 15 leitos, distribuídos em três enfermarias, e uma equipe própria de sete médicos, nove enfermeiros e 28 técnicos de enfermagem. Atualmente, são 13 pacientes internados. “Muitos deles têm problemas neurológicos que vão requerer dos pais cuidados por muito tempo”, detalha Raquel. “A nossa UCP Ped é a maior e mais completa da rede pública do DF e uma referência no Centro-Oeste”.
“O diferencial da UCP Ped é o trabalho em equipe”, define a neuropediatra Jéssica Caetano, que atua há um ano na unidade. A equipe multidisciplinar é formada por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. “São famílias que vivem situações de internações prolongadas, e aqui buscamos fazer com que essas crianças tenham uma vida boa e feliz, de qualidade e amor”, resume a médica.
“Nós não olhamos para a doença, mas para a vida da criança. Os pais saem daqui com esperança de ter qualidade de vida em casa, com menos risco de infecções e um convívio com a família que o hospital não permite”, lembra a chefe do Serviço de Enfermagem.
Qualidade de vida
Antes de a unidade existir, houve casos de crianças internadas por anos na UTI, que nem sequer conheciam os irmãos. Daí a importância da UCP Ped: tirar as crianças dos leitos da UTI, para receber casos verdadeiramente graves, e preparar a família para levá-las para casa. O atendimento na unidade permite que o acompanhante esteja 24 horas ao lado da criança. A média de permanência dos pacientes na unidade é de 24 dias.
A Unidade de Cuidados Prolongados Pediátricos foi criada em 2019. Em 2022, foram 171 internações. Além de suporte para a família, a equipe oferece acolhimento, promove reuniões, dá apoio psicológico e psiquiátrico e auxílio do serviço social. “Olhamos para o paciente e para sua família também, pois quanto melhor a família estiver, melhor cuidará de sua criança”, acredita Raquel.
“A UCP Ped representa bem o que, enquanto gestores, esperamos da assistência: atendimento humanizado para o paciente e para a família, de modo a reduzir seu sofrimento e otimizar sua qualidade de vida, também do ponto de vista emocional. Um orgulho para o IgesDF essa unidade tão importante e tão reconhecida, que propicia um atendimento diferenciado, que consegue mudar a realidade das famílias que acolhemos com tanto profissionalismo e amor”, elogia a presidente do IgesDF, Mariela Souza de Jesus.
*Com informações do IgesDF
Agência Brasília* I Edição: Débora Cronemberger