O primeiro Carnaval de Brasília aconteceu um ano após a inauguração da capital federal, em 1961. Desde então, milhões de pessoas foram arrastadas pelas ruas, celebrando a folia momo. Neste ano, mais de 100 blocos foram autorizados a desfilar pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec-DF). Alguns acumulam anos de história com a capital. Outros, surgiram há pouco, mas já conquistaram a população.
A subsecretaria de Difusão e Diversidade Cultural da Secec-DF, Sol Montes, comenta que, entre as principais características dos blocos brasilienses – entre novos e antigos -, destaca-se a diversidade e a irreverência. “Nós somos uma das cidades que mais tem blocos que tratam da temática LGBT. E isso vale tanto para aqueles que surgiram há pouco quanto para os que têm mais de 20 anos de existência”, afirma Montes.
Criado e protagonizado por artistas transformistas do coletivo Distrito Drag, em 2018, o Bloco das Montadas ilustra o cenário diverso e colorido da capital. Neste ano, o evento ocorreu no domingo (19), com o tema “O Futuro é Agora”, ao som de DJs, cantores e cantoras, shows de drag queens e um campeonato de bate-cabelo.
No ano de fundação, o público da festa foi de 15 mil pessoas. Em 2020, o número saltou para 60 mil pessoas e, em 2022, 100 mil foliões prestigiaram o bloco, no estacionamento do Setor Bancário Norte (SBN), no dia 19 deste mês. Com o aporte de R$ 220 mil do FAC, o Bloco das Montadas promete continuar movendo multidões, em uma festa diversa e inclusiva, nos próximos carnavais.
“Celebramos os corpos, as liberdades, a arte performista, em um bloco organizado por sujeitos LGBTs, que fazem a arte drag. Retomamos o Carnaval protagonizando a vida, fazendo arte a partir daquilo que a gente vive”, afirma um dos organizadores do Bloco das Montadas, Hony Sobrinho.
Diversidade, representatividade e alegria também fizeram parte do bloco CarnaFlow, realizado pelo Projeto Jovem de Expressão, no sábado (18), em Ceilândia. A quinta edição da festa se consolidou no calendário brasiliense como uma alternativa de folia para moradores da cidade, Sol Nascente/Pôr do Sol, Taguatinga e Samambaia, além de regiões do entorno, como Águas Lindas de Goiás.
Neste ano, foi a primeira vez que o bloco recebeu aporte do FAC, no valor de R$ 29.900 – investidos na estrutura e organização do evento. “Temos a cultura como um vetor de transformação social, entendemos que é um gerador de renda, desde a venda de bebidas e alimentos ao pagamento da equipe de produção, dos artistas”, afirma um dos organizadores do CarnaFlow, Antonio de Pádua.
“O recurso contribui com o desenvolvimento local. Há 15 anos promovemos a formação de jovens no mercado de cultura e todos os eventos que realizamos conta com a participação dos alunos, ou seja, realizar o bloco com o FAC, permite o aumento da estrutura e a promoção de experiência profissional a estes jovens, que também são incentivados a captar recursos para atividades culturais”, completa Pádua.
Já em Águas Claras, a festa ficou por conta do Bloco da Toca, criado em 2017, por moradores da região. “Começamos com uma roda de samba e, em 2018, resolvemos fazer a primeira edição do bloco. O público gostou, deu certo, e nos dois anos seguintes bombamos. Até que veio a pandemia e o sonho teve que dar uma pausa”, relata o produtor cultural Alyson Soares.
A ideia da organização é unir os moradores da cidade em um único objetivo: festejar. “Estávamos com sede de Carnaval. Em 2020, mais de cinco mil pessoas compareceram, e, neste ano, tivemos um recorde, que mostra que estamos no caminho certo. Mais de 10 mil pessoas passaram pelo bloco nos três dias”, revela Soares. O evento ocorreu entre os dias 18 e 20, na Avenida Boulevard Norte.
Tradição
O Carnaval Oficial do Distrito Federal recebeu cerca de R$ 12 milhões de investimento – sendo R$ 5 milhões de recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) e R$ 2,8 milhões de emendas parlamentares. “É o principal fomento para a realização dos tradicionais blocos de rua e, neste momento de recomeço, permitiu que a festa acontecesse da melhor forma possível”, afirma o presidente da Liga dos Blocos Tradicionais de Brasília e dos Blocos Baratona e Baratinha, Paulo Henrique de Oliveira.
Estes dois são alguns dos blocos mais tradicionais da capital federal. Mistura de “bar” com “maratona”, o bloco Baratona surgiu em 1976 e, ao passar do tempo, entrou para o calendário oficial da folia de Brasília. Já o bloco Baratinha foi criado em 1990, com o intuito de animar as crianças e afastá-las das drogas, bebidas alcoólicas e cigarros.
Neste ano, o bloco Baratona levou foliões para o Parque da Cidade no dia 20, com o tema “Baratona – o Bloco da Família”. No mesmo lugar, o Baratinha, reuniu mais de 50 mil pessoas nos dias 19 e 21, com brinquedos infláveis, espuma, serpentinas e confetes. A realização dos dois contou com R$ 220 mil de recursos do FAC.
“O Baratona é um dos blocos de rua mais antigos de Brasília e foi criado por pessoas que não tinham condições de frequentar os clubes, para celebrar a cultura pernambucana. Já o Baratinha chamou a criançada para curtir em um espaço seguro, com apresentações de mágica e muita folia. O Carnaval de Brasília é isso, uma festa para todos”, diz Oliveira.
Catarina Loiola. da Agência Brasília | Edição/ Isaac Marra