Robótica e inclusão: laboratório da Marinha oferece aulas a crianças com deficiência

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Mexer com robôs apenas com o movimento da cabeça. Para crianças e adolescentes, o sonho se transformou em ação. O brilho nos olhos de quem está em cadeira de rodas.  Numa instalação militar da Marinha, no Guará,  cercado por robôs, crianças tornam simples sonhos como acender uma luz ou digitar no computador realidade para crianças sem movimentos das mãos. A robótica ganha vida especial.

O local é o Centro Comunitário Cisne Branco, no Guará, onde serão oferecidas aulas gratuitas de robótica, programação, eletrônica, mecânica e diversos outros ramos da Tecnologia da Informação para crianças e adolescentes da região, com o objetivo de incluir também alunos com deficiências motoras.

Saiba mais sobre o laboratório da Marinha

Gabriel, 12, que não tem necessidades especiais, nunca teve aulas de robótica e conta que inspirado pelo irmão mais velho, aprender robótica tornou-se o seu grande sonho de vida. Ao ver seu irmão mais velho, Augusto, 14, fazendo o curso, observava pessoas controlando drones e robôs e se perguntava: “como seria eu fazendo um drone?”.  O menino divide sua ansiedade. Seus planos incluem controlar drones, mexer na impressora 3D e montar um robô.

Augusto, aluno da primeira turma de robótica da Vila Naval e irmão mais velho de Gabriel, explica que aprendeu a fazer programação e desenvolveu um projeto de irrigação em uma plantação na Vila. Conta também que vai continuar participando das aulas e dessa vez, vai desenvolver uma nova função “vou atuar como ajudante do professor no módulo HandsFree. Quero ajudar outras pessoas com o meu conhecimento”. Para o garoto, estudar robótica é importante por ela estar cada vez mais inserida na sociedade.

A iniciativa é do Programa Include do instituto Campus Party em parceria com a Marinha e diversas instituições voltadas para o desenvolvimento tecnológico e aumento do acesso à tecnologia, como a ONG “Programando o Futuro” e o Instituto HandsFree. Participaram também do projeto a Sociedade Amigos da Marinha e as Voluntárias Cisne Branco.

O objetivo do módulo é propiciar aulas voltadas à inclusão tecnológica para a população afastada dos grandes centros ou em áreas de vulnerabilidade social. Os estudantes são alunos de 10 a 18 anos da rede pública do Guará. “É uma oportunidade para que as crianças do Guará se tornem multiplicadores desse conhecimento para o resto do entorno e possam vir a desempenhar tarefas na área”- afirma Valquíria Teodora, mãe de um dos alunos e voluntária do programa Voluntárias Cisne Branco.

Impressora 3D utilizada no laboratório 

Aulas para todos

O maior diferencial do novo laboratório está nas oportunidades criadas para a população deficiente. Graças à tecnologia fornecida pelo instituto HandsFree, estudantes tetraplégicos ou com outras deficiências que impeçam o uso dos membros superiores podem utilizar computadores, tablets, celulares e diversos outros aparelhos necessários para acompanhar as aulas, permitindo assim com que a deficiência não seja um obstáculo no aprendizado.

O Instituto HandsFree foi fundado em 2015, e busca desenvolver tecnologia que traga autonomia para que deficientes possam realizar suas atividades cotidianas; promover a inclusão social, digital e profissional; oferecer oportunidades de crescimento pessoal e profissional e por fim proporcionar o empoderamento e valorização do deficiente. “A deficiência não está na pessoa, e sim no ambiente. Se você cria um ambiente inclusivo para essas pessoas, elas poderão trabalhar como quaisquer outras”, afirmou em entrevista o Diretor Presidente do instituto, Sérgio Maymone.

O instituto não trabalha apenas com o desenvolvimento de tecnologias voltadas para pessoas com deficiência, mas também com a criação de oportunidades: o HandsFree possui parcerias com diversas instituições de ensino para qualificar gratuitamente essas pessoas, e também com diversas empresas para que possam inseri-las no mercado de trabalho.

Com a tecnologia do Instituto HandsFree, crianças com deficiência conseguem utilizar os computadores.   

Metodologia internacional

O laboratório não conta apenas com tecnologia de ponta para lecionar seus alunos, como também conta com material utilizado internacionalmente e professores qualificados para ensinar com a metodologia Tron– método que se propõe não apenas a ensinar técnicas de robótica, como também para ensinar valores e transformar os estudantes em verdadeiros empreendedores.

Para aplicar essa metodologia, os professores são escolhidos com base na experiência e, segundo o professor e coordenador Luiz Carlos Loiola, também na atitude. “O Include precisa de paixão, de emoção. É o que chamamos de fazer um trabalho sócio-emocional. Queremos abrir a mente e o coração dos alunos, e dar a eles a condição para que se tornem empreendedores e encontrem oportunidades”.

Marcos Pontes: “A Pesquisa não pode parar”

A aula inaugural no laboratório foi orquestrada pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes. O ministro ressaltou em entrevista a importância da pesquisa e desenvolvimento de tecnologias assistivas. A meta de Pontes é realizar acordos com diversos laboratórios, universidades e institutos para utilizar sua infraestrutura no desenvolvimento de tecnologias que tragam qualidade de vida aos deficientes.

O ministro também falou do plano de criar uma rede entre todos os esforços realizados no desenvolvimento de tecnologia aplicada, para que possam se ajudar em conjunto e também intercalar suas atividades com as dos demais ministérios- possibilitando assim com que essa tecnologia seja aplicada também em outros setores como na saúde, na defesa, na educação, etc.

A dificuldade orçamentária não deixou de ser abordada pelo ministro. “A falta de financiamento é um problema que nós herdamos junto com o orçamento do ano passado. Teremos que trabalhar com isso junto ao congresso, que pode nos ajudar muito a ter um orçamento compatível com a importância da ciência e tecnologia para o desenvolvimento do país.”. Pontes afirma que vai aumentar o diálogo com o congresso sobre a importância desse setor, e também buscar outros fundos, até mesmo internacionais, para dar andamento com os projetos de pesquisa tecnológica.

Marcos Pontes, Ministro da Ciência e Tecnologia, orquestrando a aula inaugural do laboratório.

Tecnologia para estudantes e generais

Diversas autoridades compareceram à aula inaugural do laboratório, e uma de grande destaque foi o general da reserva Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército entre os anos de 2015 e 2018.

Desde 2017 que Villas Bôas sofre de uma doença degenerativa neuromotora que, apesar do general não manifestar o nome, os sintomas indicam se tratar de esclerose lateral amiotrófica. A doença se alastrou limitando os movimentos de seu corpo, e hoje o general da reserva depende da ajuda de aparelhos para respirar e apresenta dificuldades na fala.

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O instituto HandsFree, o mesmo que fornece a tecnologia para que o laboratório consiga lecionar para alunos deficientes, ajuda Villas Bôas na luta contra as dificuldades oriundas de sua doença. “Quando fui chamado para assumir meu cargo no GSI, senti muita dificuldade para trabalhar com o computador. Essa tecnologia me devolveu essa possibilidade. Com eles eu me mantenho produtivo, posso eu próprio ser independente. Isso foi muito importante para mim, até mesmo no ponto de vista psicológico”. Villas Bôas disse também que pretende voltar a estudar e realizar um mestrado, e que o instituto iria o ajudar a desenvolver a tecnologia necessária para tornar isso possível.

General de Exército da reserva Eduardo Villas Bôas, atualmente funcionário do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.

Por Lucas Neiva e Larissa Calixto 

Fotos e vídeo: Henrique Kotnick

Sob supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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