Jovens com autismo convivem com rotina de estudos e trabalho no DF

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Henrique José Melo da Cruz tem 27 anos e descobriu o autismo aos 3. Foto: Arquivo pessoal/divulgação

Estudar, trabalhar, namorar e cultivar boas amizades. Todos esses elementos podem fazer parte da vida de uma pessoa com autismo. Cada vez mais jovens e adultos que vivem com esse transtorno estão mostrando que podem ter uma vida independente e estável, sem que o estigma do transtorno os limite ou os defina.

Um desses exemplos é o do jovem Henrique José Melo da Cruz , 27 anos, geógrafo, diagnosticado com autismo aos 3.  Ele conta que o diagnóstico foi difícil por falta de conhecimento dos próprios médicos sobre o autismo. “Quando eu estava com 1 ano e meio de idade, comecei a apresentar alguns problemas, principalmente na fala. Os médicos, então, disseram para minha mãe que era algo normal da minha idade, até que aos 3 anos fui diagnosticado com autismo severo”, lembra. Na infância, Henrique foi acompanhado por uma equipe de psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e pedagogos. 

Com o desenvolvimento e conhecimentos adquiridos em uma turma de ensino especial, o jovem conseguiu se destacar e aos 11 anos foi inserido em uma turma de ensino regular.  Mais tarde ingressou na Universidade de Brasília (UnB), onde cursou geografia. Ele reforça que não teve dificuldades para entrar ou frequentar a universidade por ser autista. “Durante a minha vida acadêmica fui acompanhado pelo Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (PPNE) da UnB e por um tutor que me ajudou muito me orientando como me comportar no ambiente universitário, no trato com as pessoas e a entender os comportamentos dos outros estudantes”, explica.

Hoje Henrique está desempregado, mas não atribui isso ao fato de ser autista. “Creio que se as pessoas soubessem (do diagnóstico autista), fosse mais fácil para conseguir um emprego sem muita qualificação”, ressalta.

Para a doutora em psiquiatria, Rosa Maria Melloni Horita, o diagnóstico ainda na infância é o elemento principal para que a pessoa com autismo consiga conquistar uma vida independente quando adulto. “Quanto mais jovem, maior a neuroplasticidade cerebral, maiores os ganhos com a estimulação. É quando se tem os melhores resultados”, aponta.

Porém, a médica ressalta que o diagnóstico do autismo é algo novo na medicina. Por isso, muitos adultos que convivem com o transtorno tiverem o desenvolvimento prejudicado por um diagnóstico tardio. “Há 20 anos havia poucos métodos e poucas crianças tinham acesso a estes tratamentos com pessoal treinado. Ainda hoje é muito oneroso para as famílias oferecer este atendimento às crianças”, ressalta.

Estima-se que, no Brasil, existam mais de dois milhões de pessoas que vivem com o Transtorno de Espectro Autista (TEA) de acordo com uma pesquisa americana do Center of Deseases Control and Prevention.  Para promover maior informação sobre a patologia, 2 de abril foi intitulado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo.

Ajuda

Dos 10 aos 26 anos, Henrique não precisou fazer acompanhamento psicológico, mas, agora, aos 27, se viu necessidade de buscar por um.  “O atendimento é algo positivo, pois faz com que nos conhecemos melhor como pessoa”, ressalta.

Uma das maiores dúvidas dele é se conseguirá manter relações interpessoais quando adulto. Para Henrique, no entanto, o autismo não foi um empecilho na hora de fazer amizades e ter algumas relações amorosas. “Tenho amizades que duram há mais de 14 anos, que me fazem sentir uma pessoa igual a eles, capaz de fazer qualquer coisa”, destaca.

Diagnóstico tardio

De acordo com a doutora Rosa Maria, mesmo com a medicina e tecnologia avançadas ainda é possível encontrar casos de pessoas que só receberam o diagnóstico de autismo quando adultos. “ Esta situação acontece principalmente nos casos mais leves, mas pode ocorrer nos graves também, pois muitas vezes são vistos como deficiência intelectual desconsiderando as peculiaridades.”

Um desses casos é o do mediador em museu, Igor de Andrade Ceolin, 30 anos, diagnosticado com 24 anos, após a mãe identificar características semelhantes dele com as do personagem Sheldon Cooper da série americana The Bing Bang Theory. Na história, Sheldon possui os critérios para o diagnóstico de Asperger, conhecido como um “autismo mais leve”.  Igor conta que após receber o diagnóstico de autismo sentiu medo do que as pessoas pensariam “ Eu pensava que não iam gostar mais de mim, então comecei a pesquisar sobre o assunto e hoje sou palestrante”, destacou.

Igor confesso que ainda sofre preconceitos pela a falta de informação das pessoas a respeito do transtorno. “ As pessoas não sabem o que é autismo, pensam que vamos ficar nos debatendo, até a família achava que era manha.” Na hora de procurar emprego, ele  também sente certas dificuldades e preconceitos quando os contratantes descobrem sobre o diagnóstico.

O mediador de museus não recebe mais tratamentos, mas na época do diagnóstico foi acompanhado por uma série de profissionais. “Frequentei psicólogos, terapia ocupacional, psiquiatra e muitos outros”. Atualmente a rotina do rapaz é trabalhar em eventos de libras e em museus.

Por Isabela Péres e Maria Julia Spada

Sob supervisão de Isa Stacciarini e Luiz Claudio Ferreira

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