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A Brasília dourada de dezembro com a flor do cambuí

Dezembro é o mês de maior incidência de chuva em Brasília, com precipitação de 250 milímetros em média (contra 10 milímetros em junho) e 250 mil árvores, que adoram esse clima, aproveitam para florescer, dourando com suas folhas amarelas o tom cinzento da arquitetura moderna e do concreto – e do tempo nublado, claro – de Oscar Niemeyer.

A espécie se chama cambuí e pode ser encontrada por toda parte na capital. Da Esplanada dos Ministérios à Avenida das Nações, exemplares dão um colorido especial e charmoso a Brasília. Os galhos cheios de folhas amarelas ficam visíveis de longe: a árvore cambuí é conhecida pela imponência. Chega a atingir até 20 metros de altura. 

A primeira florada leva de três a cinco anos e dura até 60 dias após florir. Por isso, vale a pena tirar o guarda-chuva do armário e sair por aí contemplando esse espetáculo da natureza.

A via entre a Universidade de Brasília (UnB) e o Setor de Embaixadas Nortes está ladeada por cambuís, transformando-se numa alameda dourada. Perto dali, na Estrada Parque das Nações (EPN), que leva à Esplanada dos Ministérios, a aglomeração delas torna o lugar especial, com um visual bem mais vistoso.

Esse espetáculo foi admirado por horas pelo engenheiro paulista Rafael Santoro. Ao fazer escala na capital, ele resolveu aproveitar a manhã livre, entre o voo de Maranhão para São Paulo, para contemplar a beleza da cidade. 

Foto: Acácio Pinheiro/Agência Brasília

Apesar da curiosidade e da admiração pelo legado deixado por Oscar Niemeyer, o engenheiro se encantou com a beleza da árvore. “É, de fato, muito bela”, disse. Paulista, ele lembra que na sua cidade, Campinas, há um bairro que leva o nome da árvore.

A suavidade da beleza do cambuí se sobressai até mesmo perto das belas, mas sóbrias, estruturas físicas dos prédios do sistema jurídico brasileiro, como a Procuradoria-Geral da República (PGR). O subprocurador da República Moacir Guimarães despacha no gabinete 504 do Bloco A, virado justamente para o jardim de cambuí. “Sempre acho um tempinho para contemplá-las diariamente”, conta ele.

As árvores plantadas próximo à PGR ficam ainda mais chamativas graças ao tratamento dado pela Novacap. O tratorista Rafael Leite é responsável por limpar e aparar o mato em volta do caule delas, deixando ainda mais belo o contraste entre o verde o dourado.

Segundo o diretor do Departamento de Parques e Jardins da Novacap, Raimundo Silva, a intenção é disseminar a beleza que a árvore proporciona para outros cantos do Distrito Federal. O viveiro da Novacap possui 150 mil mudas que serão espalhadas por todas as regiões administrativas.

Mas nem só do intenso amarelo-dourado à moda Vincent Van Gogh, que oferece descontração e otimismo, vive o cambuí. Como é muita alta, a árvore solta os galhos facilmente. Por isso seu plantio não é recomendado em estacionamentos. 


Peltophorum dubium

Foto: Acácio Pinheiro/Agência Brasília

O nome científico do cambuí define logo que ela é confundida com outras espécies, como a sibipiruna. Dubium vem do latim ambíguo, impreciso. O engenheiro agrônomo Ozanan Coelho (1943-2016), o “pai das árvores” de Brasília, contou que as sementes da planta foram trazidas de Minas Gerais. Ele foi chefe do Departamento de Parques e Jardins da Novacap por 30 anos.

ARY FILGUEIRA, DA AGÊNCIA BRASÍLIA