As Olimpíadas de Tóquio se encerram no próximo dia 8 com uma forte perspectiva de ser esta a melhor participação do Brasil nos jogos. Mas ainda assim, comparando a outras nações com populações bem menores que a nossa, levanta-se novamente o debate de como o potencial nacional para várias modalidades esportivas poderia ser bem melhor, se houvesse mais investimentos em políticas públicas que ajudassem a revelar e treinar os muitos talentos que sabemos que o País tem.
E um desses incentivos primordiais para a grande maioria dos atletas é a oferta de espaços adequados. Diante disso, devemos nos perguntar: nossa cidade oferece locais preparados e democráticos para atividades esportivas? Para o arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves, que é especializado no desenvolvimento de empreendimentos imobiliários e sua interação com a cidade, áreas de lazer devem ir muito além de um lugar para realização de caminhadas ou corridas.
“Goiânia, apesar de ser conhecida como a cidade das praças e dos parques, possui poucos lugares públicos em que se pode praticar alguma modalidade esportiva, diferente do futebol. Em geral, as praças e parques que temos, apesar de serem sim belíssimos, são preparados para a simples caminhada, corrida ou exercícios funcionais. Os poucos espaços que existem não contam com pessoal preparado para desenvolver um trabalho de iniciação esportiva. Portanto, acaba que muitos espaços de lazer que são melhor estruturados ficam relegados aos condomínios de alto padrão, o que infelizmente realmente não é democrático”, avalia Paulo Renato.
O arquiteto lembra que desde 2010, o governo federal conta com o programa Praças PEC [Praças de Cultura e Esporte] que garante recursos para prefeituras construírem grandes praças multiuso, voltadas tanto para atividades esportivas quanto culturais. Mas apesar de existir desde 2010, só agora em 2021 que serão entregues em Goiânia as duas primeiras Praças PEC. O espaço total de cada praça é de 7.000 mil m² e cada uma contará com biblioteca, cineteatro com 125 lugares, salas de oficinas, espaços multiuso, Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), além de pista de skate e quadras poliesportivas. Os espaços contarão também com quadra coberta para eventos e playground.
Ginásios
Apesar de contar com ginásios de esportes, grandes cidades como Goiânia não contam muito com uma cultura de uso desses espaços, o que é diferente em cidades pequenas. O arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves tem uma explicação para essa diferença de comportamento entre as populações dos grandes centros urbanos e do interior. “Essa cultura dos ginásios de esportes acaba sendo mais forte nas cidades pequenas, porque em geral são lugares que têm poucas opções de lazer. Portanto, para os prefeitos dessas cidades, a construção de um ginásio acaba sendo um investimento obrigatório para se oferecer um mínimo de lazer para a população. Já numa cidade grande como Goiânia realmente temos mais e variadas opções de entretenimento”, afirma o urbanista.
Paulo Renato defende que esses espaços podem e devem ser melhor aproveitados também nas grandes cidades e uma das alternativas é investir na implantação de ginásios em diferentes regiões. “Numa cidade como Goiânia, com mais de 1,5 milhão de habitantes, temos bairros que são quase que uma pequena cidade do interior dentro da capital, só que não têm nenhuma opção de lazer e a sua população é obrigada a se deslocar para outras regiões da cidade”, constata o arquiteto e urbanista.
Educação e esporte
Dentro de um grande projeto que efetivamente garanta oportunidade para que crianças e jovens tenham chances de se interessar e praticar algum esporte, Paulo Renato Alves explica que as escolas têm papel fundamental. Mas ele lembra que infelizmente, no Brasil as unidades de ensino público, em sua grande maioria, mal conseguem oferecer salas de aulas adequadas, o que dirá espaços para práticas esportivas.
“Acho inclusive que os ginásios de esportes no Brasil deveriam ser construídos junto às escolas, para que você tenha, além de espaço físico adequado para a prática esportiva, tenha também mais educadores especializados nas diferentes modalidades esportivas para que essa criança ou adolescente aprenda de maneira correta e seja descoberta em toda sua potencialidade. Sem espaços adequados e um orientadores capacitados, o que acontece com nossos talentos esportivos? A grande maioria desiste, infelizmente”, exclama.
O arquiteto e urbanista lembra inclusive todos os Países que hoje são destaques na conquista de medalhas nos jogos de Tóquio, como Estados Unidos, Grã Bretanha, China e Japão, culturalmente sempre tiveram a prática esportiva como parte essencial na educação de crianças e adolescentes. Nesses países o esporte de fato faz parte da educação das pessoas, desde muito cedo. Treinamento esportivo tem que ser entendido como uma parte tão importante na vida escolar de um adolescente ou criança, como é qualquer outra matéria convencional como português ou matemática.
Para Paulo Renato, ter mais locais para a prática esportiva traz um ganho social enorme para as cidades, uma vez que estimula uma ocupação saudável dos espaços públicos. Ele argumenta ainda que não basta as prefeituras construírem e entregarem ginásios e praças de esportes. É preciso também fomentar o uso desses lugares com oferta de cursos gratuitos de iniciação esportiva, organização de competições comunitárias ou regionais.