A segunda divisão do campeonato brasiliense, que acontece depois do Candangão e até outubro, está longe de ter a mesma repercussão de outros campeonatos do país. No entanto, entre os jogadores que disputam espaço no disputado mercado futebolístico, há africanos na escalação do Planaltina neste ano. Esse é o caso de Chimaobi Emmanuel Obi. O nigeriano de 20 anos de idade atua no Planaltina Esporte Clube, time da Segunda Divisão do Distrito Federal. No Brasil, desde o ano passado, o meia atacante está no “país do futebol” para aprender e crescer na carreira.
Nascido em Imo State, estado ao sudeste da Nigéria, o jovem é um dos sete filhos que sua mãe teve. Tem cinco irmãs, todas casadas e seu único irmão faleceu. Chimaobi deixou a família no país natal para tentar se tornar um grande jogador de futebol. “Meu sonho é crescer a partir daqui. Muitos agentes e olheiros vêm para o Brasil. Por isso, acho que vou crescer aqui”, afirmou o atleta. Ele explicou que escolheu a capital para morar por causa do convite da equipe. “Vim para cá porque o Planaltina foi um dos times que se interessou por mim, que viu talento em mim e por isso me escolheram”.
O nigeriano também acredita na fama brasileira mundo afora, o “país do futebol”. “Têm muitos jogadores, muitas estrelas aqui. Há mais alegria no Brasil. O Brasil é abençoado no futebol. Eu acredito nisso e vim para aprender mais aqui”.
Treinador de nível internacional
O jogador, que é aposta da equipe candanga, já jogava profissionalmente na África, e lamenta que tem dificuldades com o idioma na nova terra. Quem mais o ajuda é Jorge Medina, o treinador da equipe. O auxílio não é só com a linguagem, e aparece também no campo. “Estou gostando da experiência. O treinador é muito inteligente. Trabalhou muitos anos na Costa Rica. Eu acredito que aprendo mais aqui. Há muita disciplina. Eles me dão o suporte que preciso”, comemora Chimaobi. Sobre o idioma, o goleiro Johnny, de 22 anos, que é goiano lembra que, no início, foi um pouco difícil a comunicação. “Eles não entendem muito bem nossa língua. Por isso, a gente tem que falar devagar, gesticular bastante e até “arranhar” em outras línguas (risos). Mas os caras são bem tranquilos. Se adaptaram muito bem. Estão se sentindo em casa”.
Jorge Medina tem 73 anos, e quase 20 deles dedicados ao futebol costarriquenho. Membro da comissão técnica da seleção da Costa Rica em 1992, teve diversos trabalhos no país da América Central.
A admiração do comandante é recíproca, e por isso ele destaca a disciplina dos jogadores. “Esse pessoal estrangeiro é muito bom de trabalhar porque eles têm aquela mentalidade de que saíram (do seu lugar de origem), então eles têm que obedecer e cumprir para sobreviver. Então eles sabem que quando a gente vive no país, tem que ser melhor que os nativos. Isso facilita muito meu trabalho. Eles cumprem horário, respeitam e obedecem”.
O técnico explica que o objetivo é ajudar no trajetória até o “estrelato”. “Tecnicamente, eles têm alguma deficiência e a gente procura melhorar para que possam sobreviver aqui e seguir a carreira deles. É o sonho e temos que tentar ajudar”. Apesar disso, Medina alerta sobre as dificuldades dessa carreira. “Você chegar ao Brasil e tomar o lugar de um brasileiro, tem que ser realmente de altíssima qualidade. Aí eles tem que estudar futebol, praticar e entender”.
Desembarque em Planaltina
Chimaobi não é o único africano no time. Há também três companheiros camaroneses, que têm a mesma faixa etária e também moram, além de outros 14 dos 23 atletas, no alojamento do Centro de Treinamento da equipe. E tem mais gente prestes a chegar, segundo o diretor-executivo do Planaltina, Guilherme Coelho. “Nas próximas semanas, deve estar chegando um jogador da seleção do Iêmen (país asiático). O campeonato tem o limite de cinco estrangeiros por time, então temos que obedecer”.
O diretor tem a filosofia de contratar atletas de fora do país e conta com a ajuda de agentes. “Tem um empresário dele que a gente sempre trabalhou em conjunto. Ele leva jogadores para o Santos (time paulista) e aí apresentou o Emmanuel (Chimaobi) para a gente. Como eu sempre trago jogadores estrangeiros para dentro do Brasil, resolvemos contratar ele para o Planaltina, encaixou no sistema e hoje tá com a gente”.
No Brasil, desde o ano passado, os africanos do elenco já se sentem em casa segundo os companheiros de time. O goleiro Johnny conta que a rotina de treinos é prazerosa ao lado dos colegas africanos. “A alegria deles é contagiante. Não tem como ficar triste ao lado deles. Estão sempre brincando, sempre na ‘resenha’. Estar com eles é bom demais”. Além disso, o arqueiro destaca a dificuldade da decisão tomada por Emmanuel e seus conterrâneos. “É uma experiência muito grande. Aqui no Planaltina nós temos jogadores de vários estados e países. Eles vieram de muito longe, deixaram família, amigos para ir atrás dos sonhos. A gente vê o esforço deles, vê o quanto eles querem. É muito gratificante ver isso”.
Chimaobi tem cinco jogos na 2ª divisão do Distrito Federal e dois gols marcados, na estreia contra o Brasília e na quinta rodada, contra o Botafogo-DF. Até o momento de finalização desta reportagem, o Planaltina ocupava a sétima colocação na tabela de classificação do campeonato, com sete pontos, após cinco rodadas disputadas.
Por Ricardo Ribeiro e Vinícius Heck
Supervisão de Vivaldo de Sousa e Luiz Claudio Ferreira