Artesã, Lisângela mudou para Brasília há 13 anos em busca de emprego. Natural da Bahia, frustrou-se também na capital e adotou a vida de camelô. Ela viu sua única fonte de renda ser destruída por agentes da Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis). Lisângela tem três filhos e hoje se sustenta de um valor inferior a 1 salário mínimo oferecido pelo Bolsa Família. Além disso, consegue a renda do comércio de artesanato nas redondezas da Praça do Relógio, em Taguatinga. Sentada ao chão, a artesã apanha seu alicate, e com dos mais variados tipos de arames e sementes retiradas das árvores da Asa Sul cria suas peças de arte para a venda. “Queria que as pessoas olhassem melhor para a gente, né? Tenho meus 3 filhos e meu barraco, não tenho estudo, mas tenho orgulho de falar que eles estão na escola, mas só consigo dinheiro para comer e pagar o que eles precisam para estudar”.
No chão
Da pequena cidade de Alegre (ES), Jozete trabalhava desde os 12 anos como empregada doméstica. Aos 17, casou-se e com 24 anos durante inúmeros casos de agressão fugiu do ex-marido, para Brasília, com os 4 filhos. Ao chegar em Brasília, Jozete trabalhou como faxineira e perdeu o emprego. Sem dinheiro para pagar aluguel, Jozete se tornou camelô e não muito tarde aprendeu a fazer lembrancinhas para vender no centro de Brasília. Sentada sob um pano branco estendido sob o chão, ela conta que aprendeu a fazer artesanato com um amigo. “Quando morava no lixão usava restos de celulares e computadores. Hoje vou em pontos de coletas e uso o que quiser, o que importa é a criatividade.”
Hoje, a artesã se sustenta do benefício do Bolsa Família com um valor inferior há um salário mínimo e do artesanato, mas não nega a felicidade em trabalhar como artesã. “Sou muito feliz fazendo isso, nunca deixei ninguém atrapalhar minha vida, sento aqui todo dia e começo a fazer meu trabalho bem cedinho, me sinto uma artista”.
Reabilitação
Aos 18 anos, Valdir saiu do interior da Bahia e se mudou para Brasília em busca de trabalho, ao chegar em Brasília foi empregado como caseiro em uma chácara a 5km de sobradinho, após ser demitido Valdir entrou em depressão e se tornou usuário de drogas. Ao 22 foi internado em uma clínica de reabilitação. “Não desejo isso para ninguém, perdi tudo e quase morri tentando roubar na rua”. Aos 28 saiu da clínica de reabilitação onde fez cursos de artesanato, trabalhou na coordenação da clínica e começou a vender suas artes na rua. Aos 32, sobrevive somente de artesanato e de trabalhos informais. “Achava que não podia viver de novo sem roubar ou usar droga, quando estava lá (clínica de reabilitação) não pensava em outra coisa. O artesanato me fez conhecer um outro lado do mundo, não tiro um dinheirão como essas pessoas fazem, mas faço a coisa certa agora”.
“Falam que sou doido”
“Falam por aí que sou doido, que eu tinha tudo e fiquei maluco. Eu saí da minha cidadezinha no Piauí e larguei tudo para trás…”, conta Sebastião que preferiu não revelar o sobrenome. Seu Roque como gosta de ser chamado, Sebastião saiu de casa aos 30 anos de idade, juntou dinheiro e foi para o Norte do país: “Vivi com os Anambé (povo indígena oriundo da cidade de Cairari Pará), eles me ensinaram a fazer isso aqui (aponta para peneiras, cestos e arcos e flechas espalhados em cima de um lençol). Queriam que eu casasse com uma deles, eu sai fora”, sorri.
Depois de viver com os Anambé, seu Roque se tornou andarilho e chegou até Brasília vendendo sua arte. Ele vende cestos, acessórios e itens de decoração, todos sob forte influência das tribos indígenas do norte do país, especificamente no Pará. “Não sei como vim parar aqui não, nem o porque eles me “chama” de Seu Roque. Um dia desses encontraram minha família, eles falaram que eu não sou feliz, é mentira, é tudo mentira. Eu não tenho dinheiro, não tenho documento e não tenho nada pra me preocupar, tô com 67 anos e não tenho filhos, sou feliz”.
Carismático, Seu Roque ainda dá uma dica sobre como alcançar a felicidade. “Se eu tivesse um conselho para ser feliz, é viver tudo sempre, poxa eu fui embora com 30 anos, acho que tava doido mesmo”.
Por Victor Mayrink
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira