Mesmo sendo a nona economia do mundo, o Brasil está estagnado na 79ª posição no quesito desenvolvimento humano, que tem como foco de estudo o progresso da renda, educação e saúde de um país. As informações são do Índice de Desenvolvimento Humano divulgado pelo Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD). “É muito importante que qualquer dirigente, ou candidato reflita que temos um passivo de políticas públicas, que não estão dando resultado ao desenvolvimento humano médio” diz a professora.
A socióloga e doutora em desenvolvimento sustentável e políticas públicas Ida Brasil considera que há uma contradição de estarmos entre uma das maiores economias do mundo e não acompanharmos o mesmo ritmo quando o assunto é oportunidades para seus cidadãos. “A sociedade não tem o acolhimento dessa posição econômica. Isso indica em grande medida que alguns têm um nível de renda bem melhor do que outros. Isso pode ser uma tendência para que a desigualdade social seja um problema crônico persistente”, explica.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma medição feita pelas Nações Unidas que visa olhar para o ser humano e avaliar aspectos relacionados a oportunidades oferecidas aos cidadãos e vai além da medição do Produto Interno Bruto (PIB), que possui um olhar voltado para as riquezas do país e não leva em consideração as desigualdades sociais.
Para a socióloga, o IDH significa uma verificação matemática de que estamos parados. “Não adianta o governo ou os governos relatarem que muito foi feito e muito será feito. Enquanto intenção, pode ser verdade, mas enquanto uma prática matemática, é um dado questionável”.
Segundo a ONU, “em relação ao Coeficiente de Gini (2010-2017) – instrumento que mede o grau de concentração de renda em determinado grupo e aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos – o Brasil possui o 9º pior valor do mundo (51,3)”.
Política sem representatividade
Enquanto permanecemos estagnados na avaliação sobre avanços nas oportunidades de educação, renda e saúde, em dois anos, a disparidade entre homens e mulheres cresceu. Entre 2016 e 2018, despencamos quatro posições quanto à avaliação de desigualdade de gênero.
A pesquisa das Nações Unidas mostra que, em termos de representatividade política e renda, há uma contradição entre os gêneros: tendo praticamente o mesmo tempo de estudo (média de 7,85 anos entre ambos), as mulheres ainda recebem 42,7% a menos que os homens. Isso significa que, num mesmo cargo, enquanto os homens recebem R$1000,00, as mulheres recebem R$573,00.
Segundo o PNUD, temos menor representação feminina que o país com o pior IDH do mundo, o Níger. Enquanto as mulheres no Brasil ocupam 11,3% das cadeiras na política, no país africano, elas correspondem a 17%.
Segundo a socióloga, “não há uma condição social histórica até o presente momento para que homens e mulheres tenham uma equidade de oportunidades naquilo que é mais relevante em termos de comando e renda. Ou vamos tomar algum tipo de providência ou teremos um país igualmente estagnado. A mulher é parte, mas ela não é igual, o que torna a condição feminina cruel”, analisa.
Quando questionada sobre a perspectiva de futuro, ela diz que quanto às questões sociais a perspectiva é de enfrentamento às desigualdades. “Esse enfrentamento se torna melhor em ambientes democráticos, então é muito importante que haja uma tendência coletiva a defesa da democracia”, conclui.
Por Larissa Mota Calixto
Sob supervisão de Luiz Claúdio Ferreira