Quem nunca ouviu a célebre recomendação “evite chocolate, ele causa espinhas”? Esta afirmação, amplamente difundida e respeitada, costuma ecoar especialmente durante os festejos pascais ou diante da tentação de saborear uma deliciosa barra de cacau. No entanto, surge a indagação: há efetivamente uma conexão direta entre o consumo de chocolate e o surgimento das indesejadas espinhas? Antes de abdicar definitivamente desse prazer culinário, urge investigar essa questão sob o prisma científico.
A acne, afligindo a pele de aproximadamente 80% dos jovens brasileiros com idades entre 15 e 25 anos, conforme dados do Ministério da Saúde (MS), é uma condição corriqueira na juventude, mas não raro estende sua presença da infância à idade adulta. Nesse contexto, a dermatologista Paula Luz Stocco aproveita o momento em que o chocolate assume protagonismo nas mesas para esclarecer como esse alimento pode impactar na aparição das temíveis espinhas.
“Nós observamos que a relação entre a dieta e a acne tem sido um tema de interesse e debate na comunidade científica por muitos anos. Tradicionalmente, o consumo de alimentos ricos em gorduras e açúcares, como o chocolate, foi associado ao aumento da incidência de espinhas. No entanto, estudos mais recentes têm sugerido que outros fatores, como o consumo de laticínios, podem ter um impacto ainda maior nesse aspecto”, explica a dermatologista.
Paula conta que o chocolate, particularmente o chocolate ao leite, contém ingredientes que podem potencialmente desencadear ou piorar a acne. O açúcar presente no chocolate pode aumentar os níveis de glicose no sangue, levando a um aumento na produção de insulina. Essa elevação nos níveis de insulina pode estimular as glândulas sebáceas a produzirem mais sebo, o que pode obstruir os poros e resultar no surgimento de espinhas.
Além disso, o chocolate ao leite também contém leite e seus derivados, que são fontes de hormônios e proteínas que podem influenciar a saúde da pele. O leite, em particular, contém hormônios como o IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina), que pode estimular o crescimento celular e a produção de sebo, contribuindo assim para a formação de espinhas. Fora isso, as proteínas do leite, como a caseína, podem desencadear processos inflamatórios no organismo, o que também está relacionado à acne.
“A acne é uma condição dermatológica comum que afeta as glândulas sebáceas da pele. Essas glândulas produzem uma substância oleosa chamada sebo, que tem a função de lubrificar a pele e os cabelos. No entanto, em certas situações, como durante a adolescência ou devido a alterações hormonais, a produção de sebo pode aumentar, levando à obstrução dos poros e ao desenvolvimento de lesões características da acne. É importante ressaltar que nem todas as pessoas que consomem chocolate ou laticínios desenvolvem acne. A susceptibilidade à acne pode variar de pessoa para pessoa, sendo influenciada por uma combinação de fatores genéticos, hormonais, ambientais e de estilo de vida. Por exemplo, indivíduos com predisposição genética à acne podem ser mais sensíveis aos efeitos do consumo de certos alimentos”, conta a especialista.
A dermatologista explica ainda que a higiene da pele, o uso de produtos adequados para o cuidado da pele e a adoção de um estilo de vida saudável também desempenham um papel crucial na prevenção e no tratamento da acne. Consultar um dermatologista é fundamental para avaliar o tipo de pele, identificar possíveis gatilhos alimentares e recomendar o melhor tratamento e cuidados para cada caso específico.
Então está proibido comer chocolate?
A dermatologista desmistifica a ideia de que o chocolate é o vilão principal do surgimento da acne. Ela esclarece que, embora o chocolate não seja a causa principal da acne, optar por chocolates com menor teor de açúcar e incentivar o consumo de chocolates com percentual maior de cacau pode ser uma opção benéfica para algumas pessoas.
“É importante considerar a introdução de alimentos com baixo índice glicêmico, como grãos integrais, frutas e vegetais na dieta. Fora isso, para algumas pessoas, o consumo de laticínios, especialmente o leite, pode estar relacionado ao aumento da acne devido aos hormônios e proteínas presentes nestes produtos. Reduzir o consumo de laticínios ou optar por alternativas como leites vegetais pode ser uma estratégia a considerar para quem tem predisposição ao problema na pele”, alerta.
Para finalizar, a médica recomenda evitar alimentos processados e ricos em gordura saturada, que podem desencadear processos inflamatórios no organismo e afetar a saúde da pele. Uma dieta equilibrada, rica em alimentos naturais, integrais e proteínas magras, é fundamental para manter a pele saudável e reduzir a incidência de acne.