A obesidade atinge 55% das pessoas no Brasil e 63% no Distrito Federal. Por uma condição de saúde, pacientes com sobrepeso buscam a cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Mas, para conseguir ser atendido, eles passam aproximadamente três anos em uma fila de espera. Além do tempo para ser contemplado, a pessoa precisa apresentar exames e perder peso.
No DF, 250 pacientes aguardam na fila. No ano passado, o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) realizou 65 operações e, neste ano, até metade de outubro, foram 75. Os dados são da Secretaria de Saúde do DF. No Brasil, o número de procedimentos cresceu 47% nos últimos cinco anos e chegou a 105,6 mil casos apenas em 2017, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).
Empregada doméstica, Maria Elza Moreira, 51 anos, está com 143kg. Ela aguarda na fila de espera do SUS há três anos, mas ainda precisa perder 11kg para fazer a cirurgia. Ela aguarda pelo procedimento desde 2016 e contou que a equipe médica começou a operar pacientes na fila de espera desde 2014.
“Acho que ainda vão demorar cerca de dois anos para eu conseguir fazer (a cirurgia). Faço parte de um grupo da bariátrica no Hran e temos um acompanhamento todo segundo sábado do mês, às 9h no auditório do hospital. Somos 87 pessoas no grupo esperando pela operação”, explicou.
Por outro lado, Lucélia Gomes, 41, ficou dois anos na fila de espera para realizar a cirurgia pelo SUS. A supervisora de vendas explicou que também precisou perder peso antes de realizar a operação. “Recebi um suporte bom do hospital, apesar de que na área mais necessária depois da cirurgia, a psicológica, eles ainda falham um pouco, porque o tratamento oferecido dura apenas dois anos após o procedimento cirúrgico”, concluiu.
No Hran o paciente deve, primeiro, ir a uma Unidade Básica de Saúde, onde, após avaliação médica, é inserido no Complexo Regulador da Secretaria de Saúde para agendamento de atendimento com endocrinologista. Depois, ele é encaminhado para o serviço de cirurgia bariátrica do hospital. O Hospital Universitário de Brasília (HUB) realiza o procedimento Passo-a-passo
Segundo o Ministério da Saúde, na rede pública do DF a população conta com a Linha do Cuidado ao Sobrepeso e a Obesidade (LCO), que prevê serviços de atenção ao sobrepeso e a obesidade de modo a melhorar a promoção de hábitos saudáveis, prevenção e o tratamento adequado para cada caso.
Tratamento da obesidade
Para fazer a cirurgia bariátrica, o paciente precisa passar por uma avaliação de uma junta composta de endocrinologista, cirurgião bariátrico e cardiologista. O procedimento operatório é indicado para pacientes com diagnóstico de obesidade mórbida que corresponde ao Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 40 (grau III) e /ou pacientes com IMC a partir de 35, associado a comorbidades (doenças decorrentes da obesidade) como diabetes, hipertensão e até depressão.
Cirurgião bariátrico, Sérgio Arruda afirma que o motivo do crescimento da operação aconteceu por causa do aumento da obesidade nos últimos anos. “Nos Estados Unidos, por exemplo, de cada quatro pacientes, três estão acima do peso, ou seja, cerca de 75% da população. No Brasil, esse índice gira em torno de 55%”, diz ele.
Mesmo assim, segundo Sérgio, os médicos não conseguem operar 1% dos obesos mórbidos, porque nem sempre eles têm acesso a cirurgias e a outros tratamentos clínicos. Isso apresenta sérios riscos à saúde, por não se resumir a apenas excesso de peso. Existem mais de 70 doenças desencadeadas ou causadas pela obesidade, dentre elas a hipertensão, diabetes e apneia do sono.
O especialista ainda conta que o aumento na quantidade de cirurgias também não está relacionado com uma procura por uma forma fácil e rápida de emagrecer. Existem critérios internacionais que definem se um paciente está qualificado ou não para realizar a operação. O cirurgião bariátrico também relata que a grande maioria das pessoas que vai até ele procurar intervenção cirúrgica são pacientes muito pesados. “São pessoas que já lutam há anos contra a obesidade e que esgotaram todas as outras possibilidades de tratamento”, ressalta.
Sérgio acrescenta que a cirurgia bariátrica não tem a pretensão de ser um procedimento que elimine o sobrepeso e seus efeitos. A obesidade continua enraizada no corpo e cabe ao paciente ter a iniciativa de mudança hábitos, como dietas e atividades físicas. “Felizmente, a reincidência da obesidade não é comum, mas, quando acontece, há uma equipe de cirurgiões, nutricionistas, psicólogos, endocrinologistas e psiquiatras que ajudam a reverter a situação”, destaca o cirurgião.
Por Gabriel Catelli, Mariana Landim, Roberta Stuckert
Sob supervisão de Isa Stacciarini