Trabalhar ações voltadas para a geração de renda de forma sustentável foi o objetivo do curso de Produção artesanal de açúcar mascavo, melado e rapadura, realizado para 12 agricultores da comunidade Capão, em Alexânia (GO), de 10 a 13 de setembro. O curso foi ministrado pelo Senar Goiás, em parceria com o Sindicato Rural e a Emater de Alexânia e a Corumbá Concessões.
O instrutor do Senar, Antônio Geraldo de Souza, ensinou as técnicas de produção de alimentos orgânicos derivados da cana-de-açúcar, com a perspectiva de que os moradores de Capão aumentem a renda familiar e contribuam para abastecer os mercados local e da região. O curso faz parte do Programa de Educação Ambiental (PEA), da Corumbá Concessões.
Sr. Antônio cresceu vendo e ajudando o pai a trabalhar no engenho de cana, e dele herdou todo o conhecimento que hoje compartilha nos cursos que ministra em Goiás e fora do Estado. Para ele, foi muito participativa a capacitação dos produtores de Capão que poderão atender à demanda de pessoas que estão cada vez mais voltadas para o consumo de alimentos alternativos.
Segundo o instrutor, cada tipo de cana-de-açúcar resulta num produto diferenciado, dependendo da terra e da forma de cultivo. Ele ressaltou que a melhor cana é a orgânica, como é a da plantação da propriedade onde foi realizado o curso. Essa planta apresenta como diferencial em relação à do plantio convencional sabor e cheiro mais acentuados e maior quantidade de nutrientes. É rica em minerais – como ferro, potássio e magnésio – e fornece energia para o corpo, servindo como suplemento alimentar.
O processo de produção começa pela moagem da cana para extração do caldo. Depois de passar pela primeira etapa do cozimento, esse caldo vira a base para a confecção dos subprodutos: Açúcar mascavo (de fôrma e passado por centrífuga), rapadura pura e com sabores – coco, mamão, amendoim, queijo e o que a criatividade sugerir -, e o próprio melado. “Papai fazia isso tudo há 60 anos e, com 8 anos, eu já trabalhava com ele nesse serviço”, lembrou Sr. Antônio com saudade daquele tempo em que não se ouvia falar em colesterol alto e diabetes, que muitos atribuem ao uso do açúcar industrializado refinado.
Na avaliação de Demerval Gomes da Silva, um dos participantes, o curso foi muito bom e vai ajudá-lo a melhorar a renda. Ele já tem na propriedade o engenho, as fôrmas, os tachos e a cana orgânica, que é o principal, e disse que pretende começar, em breve, a produzir rapadura e mascavo, dentro das novas técnicas. “Eu achei fácil todo o processo e acredito que meus filhos, que ficam mais na cidade, começarem a ver os resultados, vão querer me ajudar no trabalho”, comentou.
Gezilene de Oliveira Menezes, mobilizadora do curso pela Emater e participante, também elogiou os trabalhos. Para ela tudo foi novidade, embora tenha vivido na fazenda até os 6 anos de idade, época em que só conhecia o açúcar natural e doces de rapadura, feitos por seu avô. O que mais chamou a sua atenção foi a produção da rapadura: “O melado tem toda uma técnica que exige conhecimento e prática. Numa espécie de ritual, ele tem que ser mexido bem devagar e não pode passar do ponto ideal quando queremos que vire rapadura, por exemplo”, disse.
Não só o aprendizado sobre a cana-de-açúcar fez parte do curso. Muito alegre, experiente, observador das coisas da vida e perto de completar 72 anos, Sr. Antônio de Souza alternou as aulas com causos interessantes colecionados durante os mais de 60 anos de lida no fabrico de açúcar de engenho e nos cursos que ministra Goiás afora. “Está havendo uma volta às coisas do campo e uma maior preocupação com a qualidade de vida. Quem sabe vão sair daqui desse grupo bons fazedores de rapadura? ”, disse num tom esperançoso.
Ana Guaranys
Assessoria de Comunicação / Corumbá Concessões