Das telas menores às maiores, o início do período de férias deu a largada para a tentativa de “enfeitiçar” o público infantil. Nos cliques, controle-remoto, na fila do cinema. Dentro das estratégias de fazer arregalar os olhos menores, histórias de bruxarias caem no gosto especial da criançada. Pode ser o caso de “Detetives do Prédio Azul: o mistério italiano”, o segundo filme derivado da série de TV, que estreia no próximo dia 20 nos cinemas. O conteúdo audiovisual se originou dos livros de Flávia Lins e Silva, que é responsável pelo roteiro na TV e no cinema.
Nas TVs abertas e fechadas, e também via streaming no Netflix, um emaranhado de ofertas inclui atrações como “Esquadrão Bizarro”, “Gravity Falls” e até o eterno suspense de Scooby doo. No Brasil, o exitoso “Detetives do Prédio Azul” (do Gloob, do Grupo Globo) chegou à 11ª temporada com historietas de “mistérios” simplórios, ao estilo de narrativas de clubinho de prédio. Três crianças contam com os adultos para dar conta de sumiço de objetos no tal do prédio azul e até investigam comportamentos estranhos. Os movimentos de anéis e amuletos mágicos (na TV e no cinema) trazem à recordação, ainda que de forma subliminar, a magia de Harry Potter.
A série na TV chegou a ter escorregões, por exemplo, ao não discutir ocasiões em que o único garoto negro da turminha de detetives, Capim, ajudava o pai, o zelador Severino, a limpar a entrada do prédio, diante da naturalidade dos moradores. Perdeu oportunidades de repudiar trabalho infantil e também o racismo.
Apesar disso, a fórmula na TV fez sucesso. Tanto que ganhou uma primeira versão para cinema em 2017 (dirigido por André Pellenz), e que levou mais de um milhão de pessoas para assistir às bruxarias lideradas pela síndica do prédio, Dona Leocádia (interpretada até o início deste ano pela atriz Tamara Taxman). Ela foi substituída por Claudia Netto. O time das três crianças também se alterou. Capim (Cauê Campos), Tom (Caio Manhente) e Mila (Letícia Pedro) cresceram e se mudaram do prédio. No primeiro filme, já haviam aparecido Pippo (Pedro Henriques Motta), Bento (Anderson Lima) e Sol (Letícia Braga), os personagens substitutos. O longa venceu o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, na categoria de longa para o público infantil. O enredo tratava da chance de demolição do prédio. Não passava de feitiço.
No segundo filme, agora em 2018, dirigido por Vivianne Jundi, a história é mais movimentada de efeitos especiais e exuberância de cores. Interessante como no cinema são filmadas cenas externas que não ocorrem na série de TV. “DPA 2: o mistério italiano” traz, em primeiro lugar, o sonho dos detetives se tornarem uma banda musical, mas são boicotados. Isso não os impede de participar de seletiva e ir à Itália, onde ocorre uma espécie de congresso de bruxaria, a Expo Fluxo Na Europa, emaranhanene, há menos cenas externas. Mas há raios a exaustão, tubos em neon que carregam energia e até viagens numa moderna vassoura de bruxa. Na primeira parte do filme, também, destaque para os trabalhos de Diogo Vilela e Fabiana Karla, vilões divertidos na história. No entanto, na última parte do filme, os desfechos não são apenas previsíveis como também apressados, o que pode desmerecer o carinho e a inteligência da criançada que curte os detetives.
Funcionaria, então, quase como um feitiço temporário. Com ingredientes cinematográficos e narrativos em falta. O caprichoso efeito visual arregala os olhos, mas a um estalar de dedos, como na magia, o encanto para a criançada mais exigente pode acabar quando as luzes do cinema se acenderem.L
Por Luiz Claudio Ferreira*
* Jornalista e professor responsável pela Agência de Notícias UniCEUB
*Assisti ao filme a convite da Espaço/Z
*Colaborou: Maria Luiza, 11 anos, minha filha, fã da série e que assistiu à pré-estreia comigo