A coragem é uma qualidade tão nobre que possui até uma data própria no calendário para ser lembrada: 6 de maio. Mas o Dia da Coragem, poderia muito bem ser chamado de Dia do Empreendedor, afinal abrir um negócio ou mesmo mantê-lo é sempre um grande desafio, e em tempos de uma crise gerada por uma pandemia esse sentimento de enfrentamento às dificuldades é ainda mais necessário.
E coragem foi o que não faltou à empresária goiana Luana Lúcia, de 24 anos, que depois de apenas 13 dias de funcionamento da loja que tinha acabado de abrir, precisou fechar o estabelecimento, em virtude das medidas restritivas ao comércio que começaram a entrar em vigor em março do ano passado. “Via as notícias na TV que vinham lá da China e achava que demoraria a chegar no Brasil. Mas não completou nem duas semanas e tivemos que fechar temporariamente a loja”, lembra Luana, que é lojista no Shopping Estação Goiânia, maior shopping de atacarejo em confecção no Centro-Oeste.
Ela, assim como muita gente, pensou que a pandemia seria breve, mas as dificuldades se estenderam muito mais tempo do que se imaginava. Mas desistir não foi uma opção para a jovem empreendedora que, mesmo sem ter sua marca de moda feminina conhecida no mercado, decidiu ir em frente com a sua primeira empresa. Luana integra um enorme contingente de empreendedores brasileiros que mesmo em pleno ano da pandemia do novo coronavírus, decidiram enfrentar as dificuldades e abrir seu próprio negócio. O Brasil registrou um número recorde de abertura de empresas, segundo dados do Ministério da Economia. Foram 3,359 milhões de novos empreendimentos criados em todo o ano de 2020, contra 1,044 milhão que foram fechados, o que dá um saldo positivo de 2,315 milhões de novos CNPJs criados. O número de novos negócios abertos é 6% maior do que em 2019. Os dados demonstram que maior que o medo do novo vírus foi a coragem dos brasileiros em empreender.
Sonho
Formada em arquitetura, Luana diz que sempre gostou de moda e antes mesmo de entrar para a faculdade tinha o sonho de ter sua própria loja. “Eu não queria trabalhar como empregada e sabia que não conseguiria me manter só da arquitetura, então comecei a me planejar”, conta a jovem empreendedora. Além de coragem, Luana teve também uma boa dose de inspiração, que veio da irmã mais velha, que também é empresária e já trabalhava com moda desde os 16 anos. “Minha irmã e minha mãe me apoiaram muito neste momento difícil”, ressalta.
Luana diz que as estratégias de marketing digital que aprendeu com a irmã foi o que a ajudou. “Investi no marketing pelas redes sociais, principalmente o Instagram. Isso no começo me ajudou demais. Então quando fomos liberados para abrir, em julho do ano passado, já tinha alguns clientes, mas mesmo assim dava para pagar só o essencial. Só no fim do ano que consegui ter um lucro”, relata. Mas tais dificuldades não desanimaram Luana que, para poder manter o seu negócio durante a crise, usou muito da criatividade e da resiliência. “Como precisava gastar o mínimo possível, eu e minha irmã fazemos tudo. A gente monta os looks, orientamos as costureiras, administramos, fazemos o marketing, as fotos, somos as vendedoras e as modelos também”, diz a microempreendedora.
Depois de um ano de pandemia, mesmo ainda com algumas dificuldades, Luana diz que a coragem para empreender só aumentou e a experiência também. Ela inclusive dá dicas a outros pequenos empreendedores que passaram ou estão passando pelas mesmas dificuldades. “No caso da moda, faça uma boa estratégia de marketing digital; preocupe-se mais com variedade do que com quantidade; traga sempre novidades, e nas finanças seja muito pé no chão, guarde sempre uma reserva para reinvestir na empresa”, orienta a lojista.
Além da coragem
Segundo o educador e planejador financeiro Maurício Vono, além da coragem, um bom empreendedor precisa ter outras qualidades igualmente fundamentais como organização e planejamento. Nesse sentido o especialista dá dicas importantes, tanto para quem está começando um novo negócio ou quem já tem um, mas sente que as coisas não andam bem.
“Entender a dimensão do negócio é importante. A grande questão não é ter pouco recurso para montar um negócio, mas sim subestimar o tamanho do recurso que é necessário, esquecendo de coisas básicas para qualquer negócio, como o capital de giro, importante para repor mercadorias, pois muitas serão vendidas a prazo”, afirma Maurício Vono.
Segundo o educador financeiro, não cuidar do fluxo de caixa da empresa é o erro mais comum entre os empreendedores iniciantes. “Muitas pessoas abrem um negócio por necessidade, e aí quando começam a vender e o dinheiro entra, elas logo começam a fazer retiradas, mas esquecem que qualquer negócio tem uma cadeia de custos fixos e custos variáveis”, orienta Vono. As despesas fixas, como o próprio nome já diz, são aqueles gastos que a empresa terá todos os meses, independente de vender ou não, tais como aluguel, energia elétrica, água. Já os custos variáveis, no caso de uma loja de roupas, por exemplo, são a comissão dos vendedores, o custo das mercadorias, matéria-prima e outros.
Outra dica do educador financeiro é o empreendedor prever no orçamento da sua empresa um percentual mínimo para reinvestir. Criatividade e resiliência são outras duas características essenciais a qualquer empreendedor, segundo Maurício Vono. “Na minha opinião, criatividade é a principal qualidade de um empreendedor, depois vem a resiliência, que é muito importante para termos foco e resistir às dificuldades que certamente virão, neste sentido acho que a resiliência até se confunde com a coragem. E por fim é preciso ter organização, entender os processos de gestão básicos”, destaca.