Quem diria que o dia dos namorados de 2020 seria o da distância para tantos casais? No entanto, as circunstâncias podem fazer com que relacionamentos mudem de características. Diante da separação física, as pessoas têm resolvido, inclusive, se juntarem. Seja como for, casais tiveram que se adaptar a uma nova rotina. Para alguns, a quarentena virou uma oportunidade para se aproximarem mais ou se reinventarem. O Dia dos Namorados é o primeiro de uma nova fase. Os pares que já se relacionavam à distância e os que tiveram que se adequar a ela devido ao distanciamento, buscam maneiras de celebrar a data, nesta sexta (12). Criada no Brasil em 1949 pelo publicitário João Doria Neto, tinha como slogan principal “Não é só com beijos que se prova o amor”. Naquele momento, a intenção era mercadológica.
Conexão forte
Depois de se encantarem em um hostel no Rio de Janeiro, Camila Henrique, 28, e Juan Rivas, 29, começaram seu relacionamento em solo carioca e continuam o namoro até hoje mesmo com um coração na Argentina e outro no Brasil. Ele, de Mar del Plata, e ela, de São Paulo, estão há 6 meses juntos. Diante do momento de isolamento, citam a saudade física como o principal empecilho durante o período. Porém, acostumados a essa circunstância, já planejam morar juntos em breve, mais especificamente quando a situação nos seus países for normalizada.
Embora a tentativa de tentar ir para Argentina passar a quarentena ao lado do namorado tenha sido frustrada – as fronteiras do país foram fechadas -, Camila não se diz muito apegada ao Dia dos Namorados, mas tem em vista outro dia importante se aproximando. “Eu nunca me apeguei a essa data. Eu estou mais preocupada com o aniversário dele, que é em junho”. Apesar da dificuldade imposta pelo atual momento, o casal frisa que o isolamento social trouxe resiliência. “Nos reinventamos dentro de nosso relacionamento, e, diferente do que era esperado que acontecesse, nos unimos ainda mais. Criamos uma conexão muito mais forte e estamos nos sentindo ainda mais prontos para começar a vida morando juntos”.
Resiliência
Após se conhecerem em São Paulo durante o curso universitário e, logo em seguida, engatarem um namoro, Priscila Cantelli, 28, e André Caetano, 27, estão juntos há seis anos e se relacionam à distância desde 2017, desde que ele voltou para sua cidade, Guarapuava (PR). Eles comentam que conseguiram se adaptar bem rápido a esse cenário, apesar de acharem que, no início, seria difícil moldar a relação morando longe um do outro. Com o WhatsApp como seu maior aliado e ainda que a rotina seja corrida, ela acredita que o afastamento se tornou um ponto positivo na relação visto que, segundo ela, o par se aproximou mais e conseguiu aproveitar cada vez mais o tempo juntos, evitando brigas.
A situação em que o país se encontra atualmente acabou jogando um balde de água fria nas intenções do casal para o Dia dos Namorados desse ano. “A gente estava super empolgado porque cairia bem no feriado, mas os planos não deram muito certo. Esse ano vai acabar sendo por facetime”, comentou Priscila. Eles pensam em uma futura volta de André para a capital paulista. Ela acredita que esse período serviu como um aprendizado. “Uma lição para valorizarmos mais os momentos em que podemos estar com a pessoa”.
Deu “match”
Quando o paulista Arthur Suman, 26, veio a Brasília encontrar seu pai, conheceu Tais Marques, 30, através de um aplicativo de relacionamentos, o Tinder, e hoje estão juntos há três meses. O casal, que só se via nos feriados, está tendo a oportunidade de passar a quarentena juntos, desde que a brasiliense foi para São Paulo de carro ficar com o namorado. Dentista e professora universitária, ela teve seus trabalhos paralisados devido aos decretos da capital, e está conseguindo ficar na casa do Arthur, que é médico, e está diretamente envolvido no combate ao vírus.
Segundo Tais, a quarentena foi um divisor de águas na vida dos dois, pois ele se conheceram mais e perceberam que ficar juntos é o que eles realmente querem. Na vida conjunta, ela vive os ônus e os bônus que a convivência em tempo integral proporciona. “Descobri que aprendi a lidar com a diferença, a ceder muitas vezes, a entender que a minha vontade não pode sobrepor a vontade do outro, que a gente tem que entrar em um consenso muitas vezes, e que, para ‘manter a paz’, às vezes ele deixa de fazer alguma coisa ou eu deixo. E para ficar bem o dia a dia, descobri que eu amo mesmo”.
No primeiro Dia dos Namorados juntos, o casal entende que é uma experiência inédita. Ainda assim, será muito especial. Mesmo de casa, eles planejam comemorar com algo diferente, desfrutando principalmente da companhia um do outro. Aproveitando intensamente o tempo mais próximos, eles ainda não pensam na despedida. Tais diz que gostaria de continuar na capital paulista após a quarentena para ficar com o namorado, porque, segundo ela, é muito ruim ficar longe. Arthur, por sua vez, complementou que ainda não consegue morar mais próximo da amada, mas afirma “Depois de passarmos esse tempo todo juntos, fica difícil acostumar com a distância, só o tempo é capaz de construir a ponte entre nós”.
Distância foi rotina
Muito amigos desde o colégio, Evelyn Henriques, 18, e Caio Romaguera, 19, namoram há mais de dois anos, sendo mais da metade desse tempo à distância, pois ela se prepara para o vestibular no Rio de Janeiro, e ele faz faculdade em São Paulo. Apesar das dificuldades que estar longe implicam em um relacionamento, o casal diz que foi complicado a adaptação inicial, porém, com o tempo, conseguiram se acostumar. Para amenizar a saudade, eles consideram importante as ligações por vídeo e se manter informado sobre o cotidiano do parceiro, na intenção de se sentir parte da vida um do outro.
Habituados a passar o Dia dos Namorados distantes, Evelyn se diz tranquila quanto celebrar a data longe do namorado por já ter vivido a situação em outros anos. No entanto, ela pretende voltar a ver Caio quando a pandemia passar, com a mesma frequência de antes, quando se viam geralmente de mês em mês, ou talvez até mais. A jovem também aconselha casais que estão experimentando o relacionamento à distância pela primeira vez devido à quarentena. “Apesar da distância ser ruim, quando você reencontra seu parceiro, o valoriza ainda mais e valoriza os momentos em que estão juntos. Manter uma rotina de ligação, buscar jogos online para jogarem juntos, assistir filmes juntos por vídeo, são meios para aproveitar seu namorado mesmo de longe”.
Tabus
Bruna Mirele Alves, 22, conheceu a namorada, Júlia Campos Calixto, 19, através da proximidade com a irmã da sua parceira. Ela conta que tudo começou como amizade nas redes sociais, mas que, a partir do momento que elas se encontraram pessoalmente, o cenário mudou e passaram a se envolver cada vez mais até que, por fim, engataram o namoro. Ainda assim, nem tudo foram flores nesses seis anos de relação, pois, no começo, infelizmente, passaram por alguns problemas de aceitação na família quanto à sua orientação sexual.
Durante a quarentena, o casal teve que se adaptar, pois estavam acostumadas a conversar todos os dias e se encontrarem sempre que possível. A conexão por mensagem continua a mesma, entretanto, a física foi interrompida por medo da contaminação pela COVID-19. “Nos vimos poucas vezes desde o início do isolamento, porque achamos que não teria risco, já que estamos as duas sem contato com pessoas que estão frequentando as ruas, mas mesmo assim, preferimos não arriscar”, cita Bruna. Para tentar amenizar a saudade, as meninas buscam incentivar uma a outra a realizar pequenas metas diárias e, além disso, as duas investiram em jogos online e nas chamadas de vídeo como forma de aproximação.
Sobre a comemoração da data, Bruna disse que revelou a vontade de, ao menos, poder trocar presentes com a amada. Apesar da circunstância “caótica”, o casal tenta se manter positivo, “A gente acredita que é um momento, e por mais difícil que seja pra todos, vai passar. O importante é saber que tudo isso não tem nada a ver com nosso relacionamento, e fazer nossa parte agora, para não agravar mais ainda a situação”. Quando tudo isso passar, Bruna diz que vai aproveitar muito mais todos os momentos juntas.
Consciência
Pedro Henrique Porto, 20, conheceu Keith Bastos, 20, durante o ensino médio, em Brasília, porém, só se aproximaram quando coordenaram um encontro católico juntos e, enfim, se apaixonaram através da rotina de estudos em um curso preparatório para o concurso da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx). Juntos há 10 meses, os namorados estão sem se ver durante a quarentena principalmente por conta da mãe de Keith ser enfermeira e, consequentemente, propiciar maior possibilidade de contágio aos dois. Tendo em vista esse cenário, Pedro utiliza a sua vivência como aprendizado, “Já tive a experiência na minha família e não quero trazer o vírus para casa”.
Por outra perspectiva, Porto ressalta os pontos positivos do distanciamento. “Acho que tudo isso que está sendo vivido amadurece a relação e você acaba conhecendo mais a pessoa que está ao seu lado. Até porque, durante esse período, as pessoas acabam ‘surtando’ mais fácil, normal. Assim, às vezes ela acaba mostrando o lado que não mostraria normalmente. Você acaba aprendendo a conviver com os defeitos e as coisas boas da pessoa em qualquer cenário”. Além disso, o estudante conta que planeja visitar a amada com mais frequência assim que for possível, para, segundo ele, recuperar o tempo perdido ao longo do isolamento.
Como forma de comemorar o Dia dos Namorados, Pedro Henrique comenta que, apesar de não poder dar detalhes, pretende fascinar a sua parceira. “Vou dar um jeito, nem que seja pedir alguma comida pelo delivery ou até mesmo uma surpresa”.
Comemoração em dobro
Namorando desde o começo do ensino médio, Larissa Gusmão, 20, e Rodrigo Cadore, 19, moram juntos há um ano, e o dia 12 é uma data única e muito querida para os dois, não somente por ser o Dia dos Namorados, mas também porque, nesse dia, eles completam 4 anos de namoro, bodas de quartzo azul. Para a celebração, o casal programa uma noite especial com jantar e jogos de tabuleiro. Mesmo compartilhando a casa, eles consideram que conseguiram se unir ainda mais. “Muitas coisas mudaram na nossa rotina e acabou aproximando mais a gente. Antes da quarentena, nós quase nunca jantávamos ou almoçávamos juntos. Agora sempre fazemos as refeições e separamos um tempo para assistir filmes e séries reunidos”.
“Acho que uma pandemia é algo que eu nunca pensei que iria passar na minha vida, sinceramente, e quando você está na sua rotina normal, você esquece de alguns pequenos detalhes importantes, que influenciam tanto em você quanto no seu relacionamento, mas que sempre são deixados de lado por falta de tempo ou porque passam despercebidos mesmo”, diz Larissa. Ela também comentou que o fato de estar em casa é um elemento que ajuda a reflexão sobre o relacionamento e, consequentemente, a melhora dele.
Com a benção de São Francisco
Rafael Brasileiro, 19, e Iara Pereira, 21, se conheceram no Santuário São Francisco de Assis, em Brasília. Desde então, já são 9 meses de namoro, e, antes da quarentena, o casal relata que se via com certa frequência, após Iara sair do estágio, sempre que possível buscavam visitar a casa um do outro, nos ensaios da banda que tem em conjunto e outras saídas em casal. Eles contam que está sendo insuportável lidar com a distância e com a saudade, devido ao afastamento, pois o pai de Rafael é transplantado e faz parte do grupo de risco, enquanto o pai de Iara é militar, e continua em serviço, então evitam o contato para não trazer problemas para a saúde de seus familiares.
Preparando-se para comemorar seu primeiro dia dos namorados juntos, o par já tem a forma comemoração em mente. “A tela do celular, uma vídeo chamada, um prato de miojo de cada lado, e um jantar romântico a luz de velas”, compartilhou Rafael, e Iara completou a fala do namorado, “Perfeito. Um jantar romântico por vídeo chamada”. Apesar das dificuldades do momento separados, eles consideram que se aproximaram mais neste período. Iara comenta sobre um dia que resolveu fazer um joguinho no Instagram com o amado ao estilo ‘ele ou ela’, “o Rafa fez e falou que eu era mais chorona que ele. E eu fiquei ultrajada porque ele é muito mais chorão que eu, e aí tivemos uma pequena discussão, mas serviu pro crescimento desse relacionamento”, completou rindo.
3, 2, 1, Feliz amor novo!
Um romance que começou na noite da virada, Amanda Lima, 20, e Isaac de Carvalho, 20, já se conheciam através de amigos em comum, mas só aproximaram pra valer na virada do ano (2018/2019). Namorando há 1 ano e 2 meses, o casal conta que antes da quarentena se via no mínimo umas cinco vezes na semana, “A gente passava o dia inteiro assistindo à Netflix, conversando, fofocando, e no fim de semana a gente saia juntos. É basicamente isso. E tudo que dava pra gente fazer junto a gente fazia”, comenta Isaac.
O isolamento acabou quebrando a rotina do casal, já que, antes dela, eles não tinham passado ao menos uma semana sem se ver, então precisaram se adaptar. Isaac não gosta de redes sociais, não tem Instagram ou Facebook, e a solução que eles encontraram foi a boa e velha ligação. “O hábito da ligação foi a melhor coisa, porque aí não fica aquela cobrança de estar online o tempo todo nas redes sociais, e ao final do dia podemos contar absolutamente tudo”, acrescentou Isaac. Mesmo longe, Amanda considera o lado positivo da situação. “Acho que a melhor coisa que conseguimos durante o distanciamento foi ter mais certeza ainda de que somos muito felizes. Essa certeza do relacionamento e valorização do que antes era rotina, cotidiano, foi muito bom. A gente temos sorte de estar vivendo tudo o que vivemos. Quarentena me ensinou que se você ama, você consegue deixar de lado”.
Durante o período de distanciamento, o casal se encontrou duas vezes, uma no final de março para comemorar o aniversário dela e o deles de namoro, e outra no final de maio para matar a saudade. Assim, por estarem evitando o contato devido ao vírus, o casal não deve se ver no Dia dos Namorados, e a celebração será virtual com uma possível chamada de vídeo. Porém, os planos não param por aí. “A gente tem a vontade muito grande, principalmente eu, de ir pro litoral. Meu pai mora no Rio de Janeiro, em Cabo Frio, e eu tenho o desejo de ir conhecer ele. E além disso, o Isaac nunca conheceu a praia, então estamos focados, de quando puder, dar prioridade pra essa viagem. E nesse ano de namoro fomos umas 3 meses na roça dele, lá geralmente fazemos um detox de tudo, é maravilhoso. Estamos pensando muito nisso, nessa viagem pra conhecer minha família no Rio, realizar esse sonho dele conhecer a praia, ter essa viagem de casal, e também aproveitar o máximo possível pra poder ir nessa roça, porque é um programa que a gente não estava dando prioridade, e percebemos o quanto é importante isso. São coisas pequenas que fazem muita falta. Foi o que eu falei com ele, eu não tava lembrando a sensação do que era abraçar, do que era beijar, do toque, faz muita falta e isso muda completamente tudo”, finalizou Amanda.
Por Arthur Ribeiro, Bernardo Guerra, Gabriella Tomaz e Thiago Quint
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira