Para o arquiteto Dr. Rodrigo Costa Nascimento, docente do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de João Pessoa (Unipê), a pandemia trouxe uma tomada de consciência coletiva sobre os espaços públicos. Mas para entender o que faz áreas públicas terem animação urbana, é necessário analisar como uma cidade foi e está concebida: ao fazer parte do sistema de barreiras e permeabilidades, alguns locais, como shoppings e comércios em prédios de grandes portes e a abertura de mais vias para carros, mudam o comportamento humano no ambiente urbano – discussão que foi potencializada com o atual cenário.
“Espaços mais bloqueados pela densidade construtiva e a maneira como eles se relacionam com o exterior (fachadas com poucas aberturas, muros muito longos e altos, etc.) reduzem o livre acesso das pessoas e a vigilância mútua. Consequentemente há uma tendência de desinteresse coletivo em frequentar os espaços públicos, acompanhada da diminuição da animação urbana”, diz Rodrigo.
“Quais aspectos da configuração dos espaços públicos, da sua estrutura e do seu entorno impedem ou favorecem a frequência coletiva e, portanto, os padrões de comportamento social? Há mais espaços para o carro de que para as pessoas na cidade? Há muros altos e sem aberturas ao longo das ruas e nos entornos das praças? Há infraestrutura adequada nos passeios? Há comércios e serviços pequenos próximos, inibindo o uso do carro para acessar determinadas atividades econômicas essenciais? É nesse momento que existe o despertar dessa tomada de consciência, reascendida pela pandemia: a de que a vida nas cidades acontece nos espaços públicos e quando as pessoas são privadas dela há um processo de revalorização”, avalia o docente do Unipê.
O arquiteto argumenta que a discussão sobre onde pode e onde não se pode aglomerar pessoas colaborou para que emergisse um pensamento inicial do possível desuso e, mais radicalmente, até o desaparecimento dos espaços públicos.
“Por mais que haja uma pandemia em curso, há também a possibilidade, orientada pela privação de aglomeração social, de pensar sobre o papel que os espaços públicos têm na qualidade de vida urbana”, coloca Rodrigo, que acredita que os espaços públicos permanecerão sendo importantes no pós-pandemia. “Por outro lado, é preciso incorporar diferentes lógicas e diretrizes de projeto, antes pouco praticadas em intervenções, e que dizem respeito à manutenção de saúde pública e que ao menos indiquem possibilidades de circulação que garantam o distanciamento social mínimo”, justifica.
O arquiteto diz que, nesse contexto, há um desafio que se dá a partir de um conflito: intervir para garantir distanciamento social em espaços que por excelência são destinados à agregação.
“Como disciplinar padrões de apropriação coletivos a partir do desenho urbano dos espaços públicos? Para a população o desafio é abdicar de determinadas práticas que acontecem sobre o espaço público para exercitar a empatia ao próximo. Infelizmente tem-se percebido que nem todos estão dispostos a suprimir seus hábitos regulares para proteger outras pessoas e até a si mesmos. Esse é o principal aprendizado desse período de pandemia. E esse aprendizado parece estar conectado com a principal função desses espaços: garantir qualidade de vida urbana para todos”, enfatiza.
A PANDEMIA, O CONVÍVIO SOCIAL E AS ADAPTAÇÕES URBANÍSTICAS
“Há invariavelmente um impacto no comportamento humano em situação de pandemia. No Brasil, me parece que houve um melhor entendimento sobre a importância do isolamento social em espaços fechados (privados) do que em espaços públicos, bem como a obediência às recomendações dos órgãos internacionais e nacionais de saúde. Talvez porque, no espaço privado, seja fácil alcançar esse disciplinamento, e porque o controle interno às edificações seja melhor administrável, isto é, determinadas atitudes que infringem uma ‘etiqueta’ de salubridade podem ser interpeladas por quem exerce a vigilância interna”, aponta Rodrigo.
Entretanto, ele lembra que no Brasil houve uma verdadeira “corrida” para acessar áreas públicas com as aberturas no pós-quarentena. “A consagração desses espaços enquanto locais de urbanidade e de diferentes padrões de apropriação é tão expressiva que logo após a flexibilização eles foram imediatamente ocupados. Apesar de ainda haver um consenso geral de que o isolamento social é importante para inibir a propagação da Covid-19, há muita resistência em evitar o convívio nesses espaços públicos. Assim, questões de saúde pública direcionadas à inibição da agregação social interferem diretamente em práticas culturais consolidadas. No Brasil, esse conflito é ainda mais evidente em função da espontaneidade das pessoas e das práticas sociais características da nossa identidade. Entretanto, dependendo da cultura de determinado local, os níveis de interação nesses espaços podem sofrer mudanças significativas, influenciadas pelo distanciamento”, pontua.
Para o docente, a oferta de espaços públicos estruturados deve ser um projeto político, tal qual a promoção de saúde, de forma a garantir o direito à cidade. São neles e nas cidades onde as pessoas se encontram, convivem, circulam, interagem, trabalham e se divertem. Diante disso, ele explica que na arquitetura e urbanismo se tornou essencial disponibilizar mais áreas públicas e verdes confortáveis e seguras, não só em razão das recomendações da OMS sobre utilização de parques ou áreas livres, mas para que as gerações futuras tenham maior contato com um ambiente urbano que ofereça sustentabilidade.
Rodrigo aponta que o plano diretor de um município, por exemplo, é uma ferramenta essencial para que a população possa usufruir de tais áreas, uma vez que prevê Zonas Espaciais de Preservação. Ele lembra: diversas são as vantagens dos espaços públicos e verdes nas cidades, pois elas favorecem a melhora na qualidade do ar reduzindo o risco de contaminação por agentes patológicos e, assim, prevenindo doenças e outros agravos.
“Outra vantagem dos espaços públicos é que eles permitem a interação entre diferentes grupos sociais de faixas etárias heterogêneas, diversificando assim os padrões de sociabilidade, e ainda, o contato e o acesso fácil aos espaços públicos e livres verdes é capaz de melhorar a conscientização das pessoas sobre a preservação dos ambientes naturais”, destaca.
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