“Ter coragem para mudar o mundo ou aceitar as coisas como elas são”. Foi assim que o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869) pediu dispensa da escola em que trabalhava na França dos anos 1800 por não aceitar as imposições da igreja católica no sistema educacional da época. Ao decidir se abdicar dos trabalhos escolares para sobreviver de aulas de reforço particular, ele não imaginava que a sua verdadeira missão seria revolucionar o campo da religião do mundo todo. É assim que o filme Kardec, estreia nacional desta semana, inspirado na biografia escrita pelo jornalista brasileiro Marcel Souto Maior, mostra o início da pesquisa do professor Léon Rivail (que usa o pseudônimo Allan Kardec), o propagador da Doutrina Espírita através do “O Livros dos Espíritos”, e outros escritos na França. Foi a partir daí , que um novo campo de crença dos ensinamentos de Jesus Cristo foi crescendo e hoje ocupa um lugar entre as oito maiores religiões do mundo.
Quando as mesas começaram a girar em 1855 e grande parte da sociedade francesa se interessou pelo fenômeno, Kardec era membro da Academia de Ciência do país. O estudioso não acreditava nos acontecimentos até, depois de muita resistência, aceitar participar de uma sessão mediúnica e receber uma mensagem dos espíritos desencarnados ali presentes. Na carta, havia um comentário sobre um acontecimento entre ele e sua esposa a sós em sua casa. Incrédulo, Kardec passou a observar as mesas de madeira com receio de que o episódio fosse um engano, mas foi “vencido” pelos espíritos.
Após aceitar escrever as mensagens do mundo espiritual, Kardec frequentava sessões mediúnicas em que os espíritos respondiam os seus questionamentos através de médiuns que psicografavam ou verbalizavam os comunicados. A partir disso, passou a sofrer ameaças de frequentadores da Igreja Católica e condenações de pessoas próximas, inclusive dos companheiros de estudo.
No filme, quem dá vida ao personagem é o ator Leonardo Medeiros, e o processo de aceitação e transformação de Kardec são explorados. As cenas remetem o telespectador a França do século 19. Os jogos de luzes das velas e os movimentos rápidos de câmera esquadrinham o lado humano de Kardec. As sessões mediúnicas são retratadas no enredo, diferente dos filmes que retratam a vida de Chico Xavier, elas são leves e gravadas em cenários mais iluminados.
O preconceito que Kardec e os simpatizantes da doutrina sofrem são expressados no filme. Um dos destaques da obra é para a representação da esposa de Kardec, Amélie Gabrielle Boudet, interpretada pela atriz Sandra Corveloni. O perfil dela ganha espaço no longa com detalhes sobre a influência dela no olhar do protagonista. No filme, trechos do Livro dos Espíritos são narrados pelo personagem principal em forma de poesia nas passagens de cenas.
Por Marília Sena*
- A convite da Espaço/Z
- Fotos e trailer: Divulgação
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira