O candidato derrotado à presidência pelo PT, Fernando Haddad, participou, nesta quinta (25) de um debate intitulado de “O papel da educação na defesa da democracia em tempos de autoritarismo”, que foi realizado no Centro Comunitário Athos Bulcão, na Universidade de Brasília (UnB). No evento, criticou principalmente a proposta de reforma da Previdência e a diminuição de recursos para educação. Como contraponto a Bolsonaro, disse que a universidade é um espaço “de mais patriotismo” do que o Exército.
Durante a palestra, ele lamentou os efeitos da Emenda Constitucional 95/2016, (que congela os gastos da União, incluindo a educação), o programa Escola sem Partido e a militarização dos colégios públicos. O evento teve a participação da deputada federal Erika Kokay (PT/DF), e os deputados distritais Arlete Sampaio (PT/DF) e Chico Vigilante (PT/DF), e o ex-presidente do PT, Ricardo Berzoini. Movimentos como a UNE (União Nacional dos Estudantes), Juventude Socialista, SINPRO (Sindicato dos Professores) e o CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores) também estavam presentes no evento.
Homenagem, ideias e deboche
Fernando Haddad entrou no Centro Comunitário às 19h12 e passou no corredor central que leva ao palco. Pelo caminho, foi ovacionado e cumprimentou o público. O petista começou a falar às 19h36, para a felicidade dos presentes. Nesse tempo, entre a chegada e o discurso, acompanhou a manifestação de alguns dos estudantes convidados e recebeu um livro das mãos de Chiquinho, considerado figura histórica da UnB, que trabalha no local há mais de 40 anos com a venda de livros e foi homenageado pela organização.
Ao longo do discurso, o ex-candidato à presidência defendeu mais verbas e alunos nas universidades públicas. Ele criticou os posicionamentos de Jair Bolsonaro em relação às políticas públicas também no campo de segurança pública. “Segurança Pública é inteligência, é conhecimento, é ciência, é o ingresso de pessoas pobres nas Universidades. É disso que eles têm medo, porque eles sabem que as armas são impotentes diante do preparo que é dado nas Universidades do país”. Ainda sobre o assunto, falou que ele e Bolsonaro têm visões diferentes da guerra que o Brasil deve tratar. “Essas armas servem para travar uma guerra que nós não vamos comprar. A nossa guerra é para colocar 12, 15, 16 milhões de pessoas nas universidades” (hoje são 8 milhões, de acordo com os dados passados pelo próprio Haddad).
Em diversos momentos e com senso de humor, Fernando Haddad usou sua versão debochada como ele mesmo intitulou. Fez piadas com as notícias negativas que surgem a todo momento no governo Bolsonaro e arrancou risadas do público. “Todo dia ele apronta. Se não é ele, é o filho. Ele podia acordar mais tarde todos os dias”, ironizou Haddad. Em tom de pilhéria, ele mostrou-se indignado com os primeiros meses do atual governo. “Que pecado cometemos para ter este traste na presidência?”.
O ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo também fez críticas às prioridades de Bolsonaro. Haddad diz que tem orgulho de ter sido reconhecido pelas entidades educacionais após os cargos públicos que ocupou. “Os americanos deveriam dar medalhas para Bolsonaro todos os dias, por prestar tantos serviços para os Estados Unidos. É um presidente que não dialoga com as mazelas do Brasil”.
Clima de “Lula, livre”
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi lembrado nos discursos e pelo público formado pela comunidade acadêmica durante a noite. Lula cumpre pena em Curitiba (PR) acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do apartamento tríplex do Guarujá. Já na entrada do Centro Comunitário, máscaras com o rosto de Lula eram distribuídas, além de jornais e folhetos trazendo frases e notícias sobre ele. Os estudantes exaltaram a importância de programas que surgiram ao longo dos oito anos de mandato de Lula, como o Prouni e o Reuni. Marcelo Neves, professor de direito da UnB, acusou o judiciário brasileiro de manter Luiz Inácio preso de forma injusta, não respeitando o processo legal. O ex-presidente Ao final de vários discursos, os palestrantes puxavam o grito “Lula, livre!”. Ao todo, ouviu-se o brado por 6 vezes durante o evento.
Líderes de Centros Acadêmicos da Universidade discursaram pela importância da educação pública para o país. Logo em seguida, foi a vez da Deputada Erika Kokay dar seu posicionamento em relação ao que está sendo feito com a educação no atual governo. A parlamentar começou seu discurso com um pedido de resistência e luta aos presentes. “Resistência a esses que querem nos tomar os nossos corpos, calar as nossas vozes e destruir a educação brasileira”. A deputada também falou que a universidade é lugar de diversidade e que é nela que as pessoas se fazem humanas.
Por Guilherme Gomes e Vinícius Heck
Imagens Larissa Calixto
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira