No próximo dia 8 (quarta), será comemorado o “Dia da Vitória” na Segunda Guerra Mundial. Trata-se da data formal da rendição da Alemanha nazista em relação aos Aliados. Militares das Forças Armadas do Brasil participaram da campanha. No dia 31 de agosto de 1942, após torpedeamentos de navios brasileiros por submarinos alemães e italianos, Getúlio Vargas assinou o Decreto nº 10.358 (confira como foi redigido à época). Estava declarado estado de guerra em todo território nacional. O Brasil se juntava oficialmente aos esforços aliados contra a Alemanha, Itália e Japão. Dois anos depois, desembarcou em Nápoles o primeiro contingente da Força Expedicionária Brasileira (FEB).
A coalizão aliada contou com a adesão de mais de uma dezena de países que ajudaram de forma direta ou indireta no combate ao Eixo. O pesquisador Antônio Guerra (tenente reformado da FAB), estudioso da 2ª Guerra Mundial e membro honorário do 1º Grupo de Aviação de Caça (GAvCa), disse que os militares brasileiros tiveram uma trajetória heroica na campanha na Itália.
O Brasil antes da guerra
Quando a Segunda guerra mundial começou, em setembro de 1939, o Brasil assumiu uma postura neutra em relação ao conflito. “Getúlio Vargas era simpatizante do fascismo, mas era cercado por uma equipe de pessoas que pensavam diferente dele”, afirma Antônio Guerra. Se por um lado o Brasil importava dos países do Eixo diversas medidas governamentais (como a CLT, que se inspirava na legislação trabalhista italiana), por outro, o Brasil exportava materiais estratégicos como minério de ferro e látex para alimentar a indústria bélica das Potências Aliadas. Getúlio Vargas chegou a afirmar que seria “mais fácil uma cobra fumar cachimbo do que o Brasil participar da guerra na Europa”.
Segundo o tenente Guerra, o flerte com o Eixo decaiu graças à política de Osvaldo Aranha, na época ministro das Relações Exteriores do governo de Getúlio Vargas. Osvaldo Aranha tinha um relacionamento próximo com o governo norte-americano, e pressentia, desde cedo, a derrota do Eixo. Guerra aponta que o ministro tentou convencer Vargas de que um alinhamento com as forças aliadas seria mais vantajoso, ao mesmo tempo que aplicou uma política de aproximação entre Brasil e Estados Unidos.
Essa política de aproximação foi logo percebida pela Alemanha e Itália, que enviaram seus submarinos ao Atlântico Sul para iniciar uma campanha intensa de torpedeamentos a navios comerciais brasileiros, que transportavam mercadorias para a Inglaterra e aos Estados Unidos. “Em agosto de 1942, os alemães chegaram a afundar seis navios em menos de uma semana”, contextualiza o pesquisador. A agressão aos navios brasileiros fez com que o Brasil declarasse guerra ao Eixo no dia 31 de agosto de 1942.
Brasil vai à guerra
No ano seguinte, começaram os esforços para que o Brasil participasse da invasão aliada na Europa. O Exército mobilizou e treinou a divisão que viria a formar a Força Expedicionária Brasileira (FEB), com cerca de 25 mil homens. A recém formada Força Aérea Brasileira (nascida em 1941) criou seu 1º Grupo de Aviação de Caça, treinado nos Estados Unidos e equipado com caças americanos P-47. As mulheres também não ficaram de fora do esforço de guerra: 80 enfermeiras foram mobilizadas para participar da campanha da Itália.
O primeiro contingente da FEB desembarcou em Nápoles em julho de 1944. Segundo o pesquisador, as primeiras unidades a entrar em ação foram os grupos de engenharia, que, por duas semanas, fizeram reparos e construções no território italiano ocupado pelos Aliados. Durante esse período, as demais unidades recebiam equipamento e treinamento para serem incorporados ao 5º Exército Americano. O batismo de fogo da FEB veio a acontecer em 16 de setembro de 1944.
A Força Expedicionária Brasileira e o 1º Grupo de Aviação de Caça alcançaram diversas vitórias importantes na campanha das Forças Aliadas na Itália. Algumas de destaque foram as vitórias nas batalhas de Monte Castello (1944-45) e Montese (1945) – posições fortificadas pelos alemães que davam acesso ao norte da Itália. Outra vitória marcante para a FEB foi em seu último combate, na batalha de Fornovo di Taro (1945), em que uma divisão alemã inteira se rendeu aos brasileiros.
A infraestrutura brasileira também teve um importante papel no esforço de guerra aliado. O nordeste brasileiro recebeu bases aéreas americanas, utilizadas para transportar suprimentos dos Estados Unidos até suas bases na África e na Europa. Em Natal (RN), foi construída a maior base aérea americana fora dos Estados Unidos.
A Campanha do Atlântico Sul
A Itália não foi o único palco da guerra em que o Brasil participou. Mesmo antes de entrar oficialmente no conflito, o Brasil já importava aviões e treinava pilotos para proteger o litoral contra os torpedeamentos de navios por parte dos submarinos alemães e italianos.
Ainda em 22 de maio de 1942, um bombardeiro brasileiro já havia afundado um submarino alemão próximo ao arquipélago de Fernando de Noronha. Cinco dias depois, os aviões brasileiros realizaram mais dois ataques a submarinos alemães. Em junho do mesmo ano, Adolf Hitler ordenou uma ofensiva submarina contra a navegação marítima na costa brasileira.
Ao todo, 35 navios brasileiros foram atacados ao longo do conflito pelos alemães e italianos, sendo 26 dentro do litoral brasileiro. Mas com a entrada oficial do Brasil no conflito, tornou-se possível realizar um esforço conjunto da Força Aérea e a Marinha para que fosse retomado o controle do Atlântico Sul, uma operação que resultou no afundamento de um total de 11 submarinos do Eixo.
Por Lucas Neiva
Colaboração de João Carlos Magalhães Teles
Sob supervisão de Luiz Claudio Ferreira