“Estamos correndo atrás dos nossos direitos que estão sendo negados’’, diz a quebradeira de côco que se identificou apenas como Maria. Ela relatou, em meio à caminhada da Marcha das Margaridas, em Brasília, nesta quarta (14), que há 40 anos trabalha das 6h da manhã às 18h sem carteira assinada, na cidade de Arcanjo do Norte, no interior do Maranhão. A agricultora e sindicalista Márcia Barros, de 37 anos, do mesmo município, lamentou que falta informações e apoio para que possam se desenvolver profissionalmente. A mulher levantava uma placa que dizia “Educação do Campo é direito e não esmola.” A manifestante diz trabalhar no campo desde a infância, ajudando na produção rural. Aos 16 anos, já encarava suas responsabilidades. Hoje, na sua pequena chácara, Márcia planta milho, arroz e feijão.
A marcha reuniu histórias de centenas de mulheres que anseiam por melhorias não só nos seus empregos, mas também na perspectiva de futuro das jovens mulheres do campo. Esse é o desejo de Flor de Liz, também do Maranhão, que faz parte da Associação Quilombola e do sindicato dos servidores públicos. “Melhores dias virão para todas as mulheres e para as nossas crianças que vão crescer e precisam de um Brasil mais justo, igualitário e com mais direitos respeitados e garantidos”. Ela teme os efeitos da reforma da previdência para as agricultoras. “Acredito que a reforma seja muito injusta e prejudica os trabalhadores”.
Enquanto algumas pessoas se mostraram cientes da reforma da previdência, outras mulheres presentes no ato diziam que não entendiam quais seriam os reflexos na aposentadoria com a medida aprovada na Câmara e que vai ser discutida e votada n Senado. A lavradora Ana Cristina Santos Cardoso, de Estreito (MA), que diz não estar ciente dos seus direitos, muito menos da reforma, devido a precariedade do acesso à informação no campo. “As televisões mal prestam”, diz a trabalhadora.
O evento, marcado pelas camisetas lilás e pelos chapéus de palha decorados com margaridas, acontece desde o ano 2000 na capital federal e carrega grande peso e significado para diversas mulheres agricultoras, quilombolas, indígenas, pescadoras e extrativistas. Seu nome é uma homenagem a trabalhadora rural e sindicalista Maria Margarida Alves, assassinada em 1983 a mando de barões do açúcar em Alagoas enquanto lutava pelos direitos trabalhistas na Paraíba.
Por Gabriel Marques, Geovanna Bispo e Mayra Christie
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira