Diante de tanta informação a respeito do uso das máscaras (caseiras ou cirúrgicas) para se prevenir do Covid-19, encontra-se a dificuldade de filtrar quais são as instruções corretas de uso. Diante disso, especialistas da área da saúde alertam sobre os cuidados com esse tipo de material e o como devemos manusear. Há anúncios de máscaras de outros materiais em redes sociais, nos intervalos comerciais e até no meio da rua.
As máscaras são os principais personagens desse cenário, e os que mais causam dúvidas também. Se usadas de maneira errada, podem se tornar um grande vilão na contaminação. O próprio Ministério da Saúde tem feito orientações para a produção caseira.
“Por mais que ainda não haja evidências que comprovem o benefício para outros grupos de pessoas (que não apresentam sintomas ou não trabalham na área da saúde), a Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que o governo pode recomendar o uso restrito, assim como o ministério da Saúde aqui no Brasil está fazendo”, explicou o presidente do Conselho de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF), Marcos Wesley
Marcos Wesley também alerta que, uma vez no rosto, esse equipamento não deve mais ser manuseado. “A ideia da máscara é manter o foco de transmissão, então, se ela for manipulada, seja para tossir, falar ou espirrar, ela estará sendo contaminada por agentes externos”. Marcos ainda sugere que, ao estar fora de casa, é sempre importante estar com uma máscara reserva dentro de uma sacolinha. “Isso por que, o recomendado é usá-las por até duas horas. Depois disso, com a respiração e fala, a máscara fica úmida e há a necessidade de trocá-la. Ao espirrar também é necessário que ela seja substituída”, informou o presidente.
Por que usar
“A máscara tem por objetivo impedir a passagem de gotículas que são liberadas através da fala, tosse ou espirros”, explica a enfermeira Gabriela Oliveira. Ela informa que o uso é obrigatório apenas para pessoas com sintomas da doença e para funcionários da saúde. Entretanto, o uso por parte da população pode contribuir com a segurança. “Até mesmo pelo fato de existirem pessoas assintomáticas”, completa a enfermeira.
Gabriela Oliveira recomenda a utilização do equipamento quando surgir a necessidade de sair de casa, mas atenta a questão da importância de estar com as mãos devidamente limpas antes de colocá-las. “Antes de usá-las, higienize as mãos com água e sabão ou álcool em gel”, orienta.
Segurança
O pesquisador em biologia molecular Thiago Campos explica que é importante não deixar espaços entre o acessório e o rosto, e que este deve cobrir não só a boca, mas também o nariz. Se houver a necessidade de tocá-la, é importante higienizar as mãos logo em seguida.
O problema surge quando a pessoa acredita estar imune apenas com o uso da máscara. Marcos Wesley é incisivo ao alertar os ricos que isso pode trazer. “Seu uso pode acarretar numa falsa sensação de segurança, fazendo com que as pessoas negligenciam outras medidas importantes como não levar a mão ao rosto. Muitas pessoas passam a acreditar que, por estarem usando esse equipamento, podem ficar saindo de casa com frequência”, alerta o presidente do Coren-DF.
Thiago Campos também adverte sobre esse comportamento. “Não se pode achar que as máscaras são um método 100% eficiente contra o vírus, o isolamento social ainda é a forma mais ideal de combate” explicou. “Deve-se evitar ao máximo ambientes públicos, principalmente fechados. Só assim conseguimos garantir o mínimo de contágio”. Desta forma, segundo o pesquisador, é preciso estar consciente e entender que os riscos de contaminação continuam presentes, e que é necessário ser responsável e obedecer todas as recomendações.
“Atualmente, o Ministério da Saúde está recomendando a utilização de máscaras de pano e o governo dos Estados Unidos está, inclusive, recomendando o uso de máscaras caseiras. Porém, aquelas pessoas que já estão com a Covid-19 ou fazem parte do grupo selecionado pela OMS, devem utilizar as máscaras cirúrgicas (brancas)”, adverte Thiago Campos.
Máscaras caseiras
Com esse cenário, muitas pessoas estão aproveitando essa recomendação para obter uma renda extra e ajudar as pessoas que estão tendo dificuldades em encontrar as máscaras tradicionais, devido a grande procura.
A bancária Laylanny Carneiro mora em Planaltina (DF)e começou a confeccionar as máscaras para se ocupar na quarentena. “Comecei produzindo só para minha família, mas quando minhas amigas viram elas ficaram super interessadas, então eu fiz, sem avisá-las, e deixei na caixinha de correios das casas delas. Deixei a quantidade para todos que eu sabia que moravam nas casas. Elas ficaram muito felizes com a surpresa”. Ela afirma que distribui as máscaras caseiras sem cobrar nada por elas.
“A reação das pessoas ao receberem as máscaras vale mais que qualquer dinheiro. Eu confecciono na máquina da minha mãe, que foi embora para outro estado em janeiro. Toda vez que estou costurando lembro dela e eu sei que se ela estivesse aqui ela também estaria ajudando outras pessoas”, completou Laylanny Carneiro.
“Produzo como se estivesse produzindo para mim, então procuro usar um bom tecido, 100% algodão, e não economizo na quantidade. Faço com duas camadas para aumentar a proteção e em tamanhos diferentes para servirem em crianças e adultos.” conta a bancária, que afirma já ter passado mais de 14 horas costurando e já ter entregue cerca de 150 máscaras, inclusive para parentes que moram em outro estado. “Ajudo as pessoas e também me ajudo, ocupando meu tempo”, finaliza.
Juliana Ribeiro, dona de uma loja em Planaltina, também viu nas máscaras uma oportunidade para ajudar em seus negócios. “Depois do decreto para o fechamento do comércio não essencial, as vendas caíram mais de 70%. Comecei a receber mensagem de clientes pedindo pra gente produzir as máscaras para venda, então resolvi abraçar a ideia.” Conta a empresária que diz vender todas as unidades produzidas no dia. A empresária também alerta que segue todas as recomendações do Ministério da Saúde para a produção do acessório.
Se tratando dessas máscaras caseiras, Marcos Wesley esclarece que podem ser usadas mais de uma vez, mas jamais deve ser compartilhada. “Deve ser higienizada sempre que retirada. A limpeza dela pode ser feita com Hipoclorito.”
O presidente do Coren-DF também enfatiza que, para serem consideradas seguras, as máscaras de tecido devem ter duas camadas de pano e apenas podem ser usadas por quem não apresenta nenhum sintoma, seja de Coronavírus ou qualquer outro quadro respiratório. “As máscaras cirúrgicas (brancas) são as únicas que devem ser usadas por pessoas que apresentam sintomas de quadros respiratórios, pois são as únicas com eficiência testada e provada” alerta.
Descarte e higienização
O descarte desse equipamento de proteção também é outro ponto que precisa de atenção. A orientação de Thiago Campos é que, se a máscara utilizada for a cirúrgica (branca), ela deve ser descartada no lixo e nunca reutilizada. “Na hora de retirar a máscara, deve-se tirar por trás (pelo elástico da orelha), pois não se deve tocar na frente do acessório. Deve ser imediatamente descartada em lixeira fechada, sempre mantendo a higiene das mãos” atenta Thiago.
Máscaras N95
As máscaras N95, de acordo com a enfermeira Gabriela Oliveira, são mais fechadas que as cirúrgicas, e protegem não só contra gotículas mas também aerosóis presentes no ar. “Elas devem ser exclusivas para profissionais da saúde e pacientes confirmados com Covid-19”, completou a enfermeira.
No entanto, atualmente, este equipamento encontra-se em falta na rede de saúde. Diante disso, o presidente do Coren-DF, faz um apelo. “Quem tiver a máscara N95 em casa, doe para a área da saúde. Ela não tem utilidade para as pessoas que não estão no ambiente hospitalar. Ela é necessária para procedimentos específicos no hospital e estão em falta no mundo todo.”, relatou Marcos.
Por Mayra Christie
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira