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Mulheres na ciência: conheça as pesquisadoras que contribuem para a tecnologia e inovação no Brasil

No Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, comemorado em 11 de fevereiro, das 76 unidades EMBRAPII (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) espalhadas pelo país, há muitas mulheres que contribuem para o desenvolvimento tecnológico por meio de projetos inovadores.

Em São Paulo, por exemplo, a pesquisadora Camila Camolesi tem inovado ao conseguir recuperar solos degradados por meio de esterco de aves. A profissional é bacharel em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo e mestre em Ciência Ambiental pelo Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo. Atualmente é pesquisadora na Seção de Investigações, Riscos e Gerenciamento Ambiental do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.

Tem experiência na área de Ciência Ambiental, atuando em projetos de P&D&I relacionados aos seguintes temas: investigação e recuperação de passivos ambientais, biorremediação de solos contaminados, estratégias de gestão integrada de resíduos sólidos, tratamento aeróbio de resíduos sólidos (compostagem) e educação ambiental em resíduos sólidos.

Atualmente, a pesquisadora desenvolve um projeto que utiliza esterco de galinhas para despoluir solos contaminados por derivados de petróleo. O projeto é apoiado pela EMBRAPII e pelo Sebrae, na categoria Desenvolvimento Tecnológico, tendo recebido aporte total de R$ 514 mil. A iniciativa é da empresa Eckoslife Soluções Ambientais em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).

“A importância da EMBRAPII neste projeto é apoiar o desenvolvimento por meio de pesquisas pelos institutos, como o IPT que faço parte, em conjunto com um parceiro da indústria ou de serviços. É muito importante desenvolver a tecnologia e inovação por meio de financiamento para uma pesquisa aplicada que é essencial para o desenvolvimento tecnológico do país”, explica a pesquisadora do IPT e coordenadora do projeto, Camila Camolesi Guimarães.

Profissionalmente, Camila nunca pensou em ser pesquisadora, achava que a carreira era para quem se dedicava ao mestrado ou ao doutorado. Depois, ao fazer parte do IPT, descobriu que a pesquisa pode ser estendida a outros setores que não seja apenas a academia.

Como uma mulher pesquisadora, ela conta que vê os desafios na profissão serem os mesmos comparados a qualquer profissional no mercado de trabalho. “Vemos a questão ainda do machismo na ciência, preconceito porque temos que tirar a licença-maternidade, questões relacionadas a equiparação salarial.

Acho que para quebrar este paradigma, temos que mostrar para a menina, desde o ensino fundamental, que é normal ter mulheres na ciência e claro, ter programas educativos que as capacitem”, conclui.

Camila Camolesi

 

Mulheres e algoritmos, sem espaço para o preconceito

 

Eliane Collins, 39 anos, natural de Porto Velho e manauara radicada, é engenheira da computação e doutora em inteligência artificial (IA) e machine learning. Trabalha atualmente em uma unidade da EMBRAPII no Instituto de Desenvolvimento Tecnológico (INDT) em Manaus, em projeto relacionado a criação de novos métodos e avaliação de qualidade dos sistemas de inteligência artificial para dispositivos móveis.

Eliane Collins

 

Coordena uma equipe de 22 pessoas, sendo 10 mulheres. Começou sua carreira como estagiária de desenvolvimento de softwares e passou a trabalhar como analista de testes. Com habilidade para programar, passou a automatizar testes. Logo veio o desejo de contribuir na parte acadêmica. Começou, então, a pesquisar mais e publicar artigos sobre o assunto. Passo natural foi complementar a formação com o mestrado na Universidade Federal do Amazonas em engenharia elétrica, voltado para automação de testes e desenvolvimento ágil. O título de mestre a fez crescer profissionalmente e passou a gerenciar projetos de P&D&I. Em seguida, começou o doutorado em 2016 na USP de São Carlos e em breve defenderá sua tese em IA, em Deep Reinforcement Learnning Based Mobile Application Testing.

 

A importância do investimento da EMBRAPII no projeto que gerencia, permite que ela se sinta uma profissional de sorte “é um privilégio poder trabalhar na minha área de pesquisa. Ter um ambiente de laboratório adequado para inovar, para trabalhar e pesquisar. Trabalho no que eu gosto, trabalho com o que eu estudo, com o que eu pesquiso”. O incentivo da EMBRAPII permite, inclusive, que ela possa fazer planos para o futuro “ainda tem muita coisa que eu quero pesquisar, é um desejo que não passa nunca”.

 

Mas o caminho até o protagonismo profissional já colocou Eliane em situações de machismo estrutural sentido na pele. Em uma das disciplinas do doutorado, justamente a de IA, passou por uma turma de 40 alunos em que somente três eram mulheres e ouviu comentários indiretos de que ali não era seu lugar. Eliane não deu ouvidos, aproximou-se de outras pesquisadoras o que só fez crescer a admiração pelas colegas e professoras.

 

Ela lamenta a falta de referências femininas na área, desde a faculdade. “Depois é que eu fui descobrindo várias professoras com trabalhos brilhantes. Isso me incentivou a continuar. É muito importante a gente ter a diversidade em todas as áreas”. Contudo, acredita que já há mais movimentação no mercado para as meninas virem para a área de tecnologia, pois há muitas mulheres empreendedoras e CEO´s, mesmo que não sejam destaque na grande mídia. Quando perguntada sobre suas inspirações nas ciências, ela cita Marie Curie, Ada Lovelace e Grace Hopper, e enaltece as professoras Tayana da Universidade Federal do Amazonas e Maria da Graça Pimentel da USP.

 

O Dia Internacional das Mulheres e Meninas nas Ciências lembra que a garantia da maior representatividade está diretamente ligada à redução da desigualdade de gênero, não só na área de tecnologia, mas em todas as esferas sociais. ” É um dia importante para dar visibilidade ao trabalho de mulheres na ciência, para incentivar e destacar nossa importância, pois por muitos séculos esse lugar nos foi negado”, pontua Eliane.