Presente na exibição do filme “O Processo” no Cine Brasília, que ocorreu na noite desta quarta-feira (09), o ex-ministro da Justiça e da AGU, José Eduardo Cardozo, falou com a reportagem ao final da sessão e relembrou os conflitos do procedimento de impeachment enfrentado pela ex-presidente Dilma Rousseff. Ele conta que, na época, sentia que falava ao “vazio” com relação aos senadores responsáveis por julgar a então presidente. “Não havia um interesse para ouvir as nossas razões e nossas provas. O que nós fizemos foi desconstruir o discurso deles para que a sociedade percebesse que aquilo era algo absolutamente insustentável”.
O ex-ministro considerou como positiva a defesa feita em todo o processo. Por essa razão, ele afirma que não mudaria a argumentação, pois, segundo ele, os opositores da ex-presidente se apoiaram em “todo um conjunto” de argumentos que não se “mantinham de pé”. “Você pode dizer: ah, mas se você perdeu a causa, qual foi o objetivo? Nós já sabíamos que aquilo já estava julgado. Então, a nossa preocupação era mostrar para a sociedade e para a história que aquilo não se sustentava. E acho que nós fomos bem sucedidos”, explicou o jurista.
Para o advogado, em um julgamento onde a defesa não tem voz e o resultado dos “juízes” já está posto, o defensor tem duas alternativas. Ou ele larga o processo e deixa o discurso dos acusadores prevalecer ou ele o enfrenta com argumentos que possam ser ouvidos “fora da sala de audiência”. “Foram discursos para a sociedade e para a história. Porque nós já sabíamos que os julgadores, em sua maioria, não seriam convencidos”, esclarece.
Segundo o jurista, os principais articuladores do impeachment da ex-presidente enfraqueceram politicamente, pois criaram as condições para o próprio “sepultamento” . “Começo por Eduardo Cunha, preso. A carreira política de Aécio Neves acabou. A de Michel Temer ainda não acabou, pois ele é o presidente da República, mas todo mundo sabe que é talvez o governo mais impopular da nossa história e que sofrerá profundas consequências ao término do mandato”.
Por Lucas Valença
Sob supervisão de Katrine Boaventura e Luiz Claudio Ferreira