Na última sexta-feira (27/03), o governo federal anunciou que disponibilizará uma linha de crédito de R$40 bilhões para financiar a folha de pagamento de micro e pequenas empresas. A medida deve atender a 1,4 milhão de empresas e 12,2 milhões de trabalhadores, segundo o Banco Central. O intuito é tentar amenizar os impactos econômicos causados, principalmente, pela Covid-19 no Brasil e no mundo.
Uma crise econômica já era prevista pela Bolsa de Valores. Com a chegada do coronavírus ao Brasil, a B3 (Bolsa de Valores de São Paulo) sentiu o impacto e iniciou uma sequência de quedas. Em março, o Ibovespa (principal índice da B3) chegou perto dos 60 mil pontos, sendo que as previsões para 2020 eram de cerca de 140 mil. Especialistas afirmam que as baixas na bolsa antecipam uma crise econômica que atingirá o país, mas há como se preparar.
Confira a variação da Bolsa no mês de março
A última grande queda foi registrada em 18 de março, quando o Ibovespa caiu 10,3% e fechou o dia com 66.894 pontos. Desde o início da pandemia de Covid-19, o Ibovespa caiu quase 21% e acionou 6 vezes o circuit breaker- ferramenta que suspende o pregão por 30 minutos para tentar controlar a queda nas ações. Segundo Renato Follador, especialista em finanças pessoais e consultor, essas movimentações são um indicativo do futuro econômico do país, seja ele positivo ou negativo.
“A bolsa reflete a economia real. A partir do momento que as ações desvalorizam, as empresas afetadas têm prejuízos e consequentemente demitem empregados e cortam gastos”, explica Renato. Para ele, a crise causada pelo coronavírus será uma das piores mundialmente. “Esse problema é diferente exatamente pelo componente emocional que desmobiliza as pessoas. Além disso, a crise atinge o mundo todo e não há uma, na história recente, que se compare em termos de alcance”, afirma.
O consultor diz que a economia do Brasil foi atingida de forma mais forte do que em alguns outros países, pois estava ainda em fase de crescimento. “O Brasil começava a criar uma força frente a economia mundial. Outros governos já esperavam quedas nas respectivas bolsas, pois estavam em fase de desaceleração”, esclarece. A expectativa para esse ano foi quebrada. “O setor produtivo e diferentes empresas são afetadas pelas crises mundiais e nacionais. Então haverá eventuais perdas”, diz.
Porém, o especialista considera que não há motivos para pânico. “Depois de toda crise, a economia se recupera e, dessa vez, não será diferente. É uma questão de tempo”. Ele projeta que a recuperação brasileira seja entre um e dois anos. Em relação aos embates entre o Governo Federal e Estaduais sobre a continuidade ou não da quarentena e os impactos na economia, Renato afirma que é uma questão de prioridade. “A crise é inevitável. Retornar com as atividades econômicas agora só adiará o pico da pandemia, o que não é muito positivo. Do ponto de vista humano, é pior”, explica.
“O pior já passou”
O Ibovespa mostra indícios de uma recuperação, fechando, na segunda-feira (30/03), as negociações em alta de 1,65% aos 74.639 pontos. O Renan Silva, economista, acredita que o pior em relação à bolsa já passou, mas ainda é necessário atenção. “Caso as quarentenas se estendam por mais tempo, podemos voltar a ver um retração no índice”. Ele afirma que o brasileiro precisa se planejar, pois a maior dificuldade no período de isolamento será o pagamento de contas e salários por parte das pequenas e médias empresas.
Renan considera que a medida do governo para tentar amenizar os impactos da crise são bem-vindos, mas ressalta que no futuro as empresas terão que arcar com esses custos. “Por enquanto, esse valor deve servir, mas se a quarentena se estender além do tempo previsto, o auxílio precisará ser maior. E os empresários terão que pagar esse empréstimo futuramente”.
“As medidas tomadas pelo governo são de caráter emergencial e terão mais efetividade se a quarentena durar o período previsto. Caso seja estendida os valores terão que ser revistos”, diz. Apesar das preocupações com o futuro da economia, Renan afirma que retirar a população do isolamento por agora não é viável. “Claro que todos esses problemas se tornam secundários quando comparados aos impactos na saúde”, considera.
Para entender a Bolsa de Valores
As sucessivas quedas na B3 indicam um futuro não muito positivo para o Brasil. As principais consequências serão altos níveis de desemprego e dificuldade da família brasileira de pagar as dívidas. Economista e mestre em desenvolvimento econômico, Luis Batista afirma que é importante o trabalhador buscar manter reservas financeiras para, em cenários de crise, não passar por tanto aperto. “O cenário de crises econômicas é cíclico. Então é importante sempre trabalharmos para estarmos prontos para as próximas”, diz.
Sobre o funcionamento da Bolsa de Valores, o economista explica que o sistema opera como um mercado no qual as empresas são as vendedoras e as pessoas são compradoras das ações das companhias em questão. “Quando uma das empresas que têm ações na Bolsa de Valores ganha valor, cada parte dela se torna mais cara”, diz. Em relação às altas e baixas da B3, Luis afirma que o Ibovespa indica as médias dos papéis da Bolsa. “Quando uma empresa perde valor, as ações tendem a se tornar mais baratas. Esse movimento de variação de preços pode também ser decorrente da oferta e da procura pelas ações”, explica.
Sobre a crise, Luis acredita que a possível recuperação só terá início a partir de junho de 2020. Ele esclarece que as crises econômicas são cíclicas e por isso as pessoas precisam começar a se prepararem. “No cenário de crise, há um receio generalizado de se investir em papéis (ações) de alto risco. Isso gera menor procura dos papéis da bolsa, levando a uma queda generalizada dos índices do mercado financeiro”, afirma.
Por Samara Schwingel e Amanda Azevedo
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira