Mesmo não estando ligado diretamente ao tratamento da Covid-19, o psicólogo teve sua demanda aumentada durante a pandemia que assola o país desde março deste ano. Casos de crises ou surtos de ansiedade e estresse são relatados pelos profissionais neste período em que a necessidade de confinamento, risco de instabilidade financeira, possibilidade de contágio e morte. A mudança drástica na rotina da sociedade despertou sentimentos negativos e desesperança.
Levantamento feito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) em 23 estados brasileiros entre março e abril deste ano mostrou que casos os casos de depressão aumentaram 90% já no início da pandemia. A psicóloga Adriane Garcia (CRP 09/6836), que atende no Centro Clínico do Órion Complex, confirma que teve aumento considerável de casos de pânico e depressão desde março. “A maior parte das pessoas sentiu angústia, medo, desesperança. As relações interpessoais ficaram abaladas para uns, para outros o isolamento por conta da doença foi o fator mais perturbador”, detalha.
Ela lembra também de situações em que o impacto financeiro também contribuiu para o aumento de sentimentos negativos. São eles que, segundo ela, podem levar a psicossomatização, que são os sintomas corporais advindos de eventos psicológicos, como dores no corpo, de cabeça e palpitações no coração.
Não por acaso, no início da obrigatoriedade do isolamento social, quando os consultórios não emergenciais tiveram que interromper as consultas presenciais, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) ampliou os atendimentos virtuais. Para Adriane, o atendimento virtual é uma alternativa viável para dar continuidade ou iniciar os tratamentos.
O papel do psicólogo na pandemia é amplo, vai desde a prevenção, tratamento de doenças mentais e intervenções em processos de relacionamento interpessoal e intrapessoal. Para Adriane, um bom exemplo é o uso de Psicoterapia em Mindfulness (atenção plena), que ajuda o paciente a focar sua atenção no presente e reconectar seu corpo e sua mente. O objetivo, é prevenir ou até mesmo evitar crises ou surtos de humor. “Outro exemplo de ferramenta que é bastante utilizado para transtornos de humor depressivo é o Behavior Activation que auxilia o paciente em reencontrar forças e prazer na sua trajetória de vida face a desesperança ou ao negativismo”, pontua.
Profissionais também precisam se cuidar
Os desafios para os profissionais que atuam nessa área incluem o autocuidado, pois também estão sujeitos aos efeitos da pandemia e a sobrecarga de trabalho. “Lidamos de perto com a dor e o sofrimento dos pacientes. Muitas vezes é desgastante, complicado, trabalhoso e estamos sujeitos a receber muitas sobrecargas emocionais nesse processo”, lembra Adriane. A dica da psicóloga, para os próprios colegas é buscar um estilo de vida saudável, dormir e se alimentar bem, praticar exercícios físicos e treinos mentais regulares, além de buscar auxílio de outros profissionais quando necessitar de ajuda. “Sabermos o nosso limite e não exceder no trabalho também é fundamental para esse equilíbrio”, finaliza.