Leia mais

Mais lidas

Útimas notícias

Quando o interesse pela frota de ônibus do DF ajuda no aprendizado

Pedro Henrique Alves de Oliveira, 14 anos, estuda desde 2012 na Escola Classe 35, de Ceilândia. O jovem tem Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ele foi matriculado na escola pela mãe, a dona de casa Euzilene Alves Nascimento, após uma série de problemas em uma instituição particular. “Quase toda semana eu era chamada por causa de reclamação. Tive que tirá-lo de lá”, lembra. Na rede pública, tudo mudou. “Ele já se desenvolveu bastante. Fico muito feliz e emocionada com a dedicação e o carinho [que a equipe da escola] tem com ele”, completa.

Carinho esse que foi demonstrado publicamente nos últimos dias com a atitude da professora Paula Cristina Veríssimo. Ela entrou em contato com a Secretaria de Mobilidade (Semob) contando a história de Pedro Henrique, que é aficionado por ônibus desde os 3 anos, quando começou a andar nos coletivos com a mãe.

A Secretaria de Educação atende mais de 16 mil estudantes com necessidades especiais. Destes, 11.290 integram as turmas regulares, 2.454 estudam em classes especiais e 2.462 estão nas instituições educacionais especializadas

Os ônibus são usados no cotidiano escolar do garoto para auxiliar no aprendizado básico de português e matemática. “O trabalho é feito em cima dos ônibus, que é o hiperfoco dele, para que se torne agradável. Ele aprende sem perceber. Mas eu estava procurando uma forma de trabalhar melhor, daí surgiu a ideia de entrar em contato com a secretaria”, comenta.

Após enviar um e-mail para a pasta, em menos de 24 horas, Paula recebeu uma resposta que a comoveu. A secretaria preparou uma surpresa para o estudante: a doação de uma réplica em miniatura de um ônibus utilizado nas ruas do Distrito Federal. “Eu me sensibilizei muito, porque a gente vê muitas pessoas reclamando do transporte público e ter uma criança com essa preocupação, me chamou a atenção”, afirma o secretário da Semob, Valter Casimiro.

A entrega foi feita na escola pelas mãos do secretário para o jovem Pedro Henrique. “Quis trazer a miniatura até para poder mostrar ao corpo acadêmico que estamos tentando melhorar o transporte público”, completa Casimiro. Assim que recebeu o ônibus, o menino decretou: “eu amei”. O sonho de Pedro agora é montar sua própria frota, com 15 coletivos.

Essa foi apenas mais uma demonstração de cuidado da equipe da EC 35 com Pedro. Diariamente, os profissionais da escola têm atitudes que confirmam um trabalho com olhar diferenciado e humanizado no ensino dos estudantes com necessidades especiais. Algo que o menino sente no dia a dia. “Eu gosto muito da escola. Gosto da professora Paula, dos amiguinhos e da hora do lanche”, afirma.

A diretora da Escola Classe de Ceilândia, Cida Lopes, explica que alguns estudantes precisam estudar em classes especiais devido a comprometimentos de aprendizagem, o que demanda uma atenção plena de um professor | Foto: Paulo H Carvalho/Agência Brasília

Classes especiais

A Secretaria de Educação atende mais de 16 mil estudantes com necessidades especiais. Destes, 11.290 integram as turmas regulares, 2.454 estudam em classes especiais e 2.462 estão nas instituições educacionais especializadas.

Na EC 35, a escola atende 57 alunos com necessidades especiais do total de 960 matriculados na educação infantil e no ensino fundamental I. Destes, nove são atendidos nas quatro classes especiais da instituição destinadas a estudantes com DI (Deficiência Intelectual) e TEA. Esse é o caso de Pedro Henrique.

A diretora da Escola Classe de Ceilândia, Cida Lopes, explica que alguns estudantes precisam estudar em classes especiais devido a comprometimentos de aprendizagem, o que demanda uma atenção plena de um professor. Os educadores normalmente atendem apenas dois alunos por turma e são capacitados com cursos e aptidões específicas.

Mesmo quando estudam separadamente, os estudantes contam com atividades para garantir a socialização. “A educação inclusiva já vem ganhando espaço dentro da Secretaria de Educação há muito tempo. É um olhar para essa criança de carinho, de atenção, de fazer com que as crianças típicas a vejam como diferente, mas com respeito e sem discriminação”, explica Cida Lopes.

Também existe um trabalho para que o ensino seja feito de forma a estimular o desenvolvimento do estudante. “O tempo inteiro temos que buscar recursos e atividades que prendam a atenção deles. No caso do Pedro, os ônibus são grandes aliados na aprendizagem”, completa a diretora.

 

A escola é considerada referência no Setor P Norte no trabalho de inclusão. “Temos essa visão de abraçar a causa da inclusão. A gente se dedica mesmo. A nossa pedagogia é humanizada, porque não podemos ensinar sem amor, sem olhar para o outro e sem se colocar no lugar do outro”, acrescenta Cida Dourado, orientadora pedagógica da EC 35.

Para a professora Patrícia, o trabalho com estudantes especiais é mais do que ofício, uma realização. “Me sinto muito feliz com o trabalho que foi desenvolvido até agora [com o Pedro Henrique], porque percebo o pulo grande. Ele está diferente, mais disposto a aprender, gosta da escola. Isso faz eu me sentir realizada. É um trabalho lento, por isso cada aprendizado é uma vitória”, diz emocionada.

ADRIANA IZEL, DA AGÊNCIA BRASÍLIA | EDIÇÃO: RENATA LU