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Queimadas no Cerrado ameaçam fauna e flora em período reprodutivo, alerta pesquisadora

Milhares de focos de incêndio no Cerrado brasileiro. As imagens de fogo e fumaça não trazem a dimensão do que significa o perigo das queimadas. Segundo a bióloga Isabel Belloni Schmidt, essa época do ano é a pior época para ocorrerem incêndios em função do período reprodutivo de diferentes espécies. “Tanto as plantas quanto grandes mamíferos estão se reproduzindo e a mortalidade acaba sendo alta”, alertou a pesquisadora de botânica e ecologia. 

A especialista explica que, no bioma Cerrado, durante a época de chuva, é natural que ocorram incêndios. Não na época da seca. ‘’Existe fogo natural no Cerrado, especialmente durante a estação chuvosa, quando se tem raios (única fonte de fogo natural possível). Esse fogo só ocorre nesse período ou na transição seca\chuva, caso esteja chovendo em algum lugar próximo. Qualquer queima fora dessa época é antrópica (provocada pelo ser humano)’’ afirmou.  

Além do prejuízo para o bioma, a professora alerta para os problemas para a população. De janeiro a julho, de acordo com o Corpo de Bombeiros, a corporação atendeu uma média de 15 chamadas por dia. O período de chuva no começo desse ano aumentou a quantidade de áreas verdes, o que contribuiu com o aumento das queimadas. “Para a população, por se tratar de um fogo que se propaga de maneira muito rápida e que emite grande quantidade de fumaça e fuligem, os casos de doenças respiratórias tendem a aumentar drasticamente.’’

Outro problema é que órgãos ambientais que deveriam fiscalizar perderam recursos. “À medida que você enfraquece órgãos ambientais como o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade)  e IBRAM (Instituto Brasília Ambiental). Você incentiva as pessoas a praticarem atos ilegais na área ambiental. A desmoralização pública desse tipo de órgão, o desmonte das políticas ambientais em termos de dinheiro, e a falta de recursos e funcionários, fazem com que as pessoas se sintam mais livres’’.

O professor de direito ambiental Tibério Leonardo Guitton também atenta para essa questão legal. “Apesar de haver legislação ambiental protetiva que abarca todo o território nacional e que se apresenta aplicável à preservação e conservação do Bioma Cerrado, não há institucionalidade republicana suficiente para sua observância efetiva”.

 Ocorrências novas a cada dia

O Cerrado corresponde ao segundo bioma com maior foco de incêndios neste ano, “perdendo” apenas para a Amazônia. De acordo com o Corpo de Bombeiros, só em 2019 o número de ocorrências de incêndios em Brasília já superou o do ano passado. Os registros são de 6904 ocorrências até o dia 10 de setembro, o que totalizou 8711 hectares de área queimada até agora. Em todo o ano de 2018, o número foi de 6483. De acordo com dados do INPE, a diferença do número de queimadas no mesmo período (01\Jan até 13\Set) de 2018 e 2019 foi de 76%. 

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Conscientização sobre o fogo

A Embrapa Cerrados disponibilizou recentemente a cartilha ‘’Três famílias e o fogo – um encontro no Cerrado’’, que conta a história de três famílias que aprendem sobre o uso do fogo nesse bioma e suas consequências. A publicação tem como foco o público infanto-juvenil e foi fundamentada em estudos sobre produtores rurais, aspectos motivacionais do uso do fogo na agricultura e em informações técnicas pesquisadas pela Embrapa. 

Confira a entrevista com o coordenador da cartilha.

‘’O fogo tem um papel importante na vegetação do Cerrado, inclusive para a germinação de algumas sementes. Faz parte desse ambiente. Acontece que, hoje em dia, a quantidade tem se intensificado demais e de formas não naturais”, afirmou o pesquisador e um dos responsáveis pela cartilha, Eduardo Cyrino. 

O trabalho é um dos produtos do projeto de pesquisa intitulado “Projeto Cinzas: aspectos motivacionais de uso do fogo e efeitos sobre a água e o solo como subsídios para a mitigação dessa prática na agricultura”. A equipe entende que é necessário incentivar os mais novos a conhecer a importância do trato com o meio ambiente. “O público jovem é (priorizado) porque nós acreditamos que são eles que têm o poder de mudar as coisas no país. Para mudar uma cultura ambiental e de práticas ambientais é fundamental que se atinja o público mais novo’’, considerou o pesquisador. 

Por Mayra Christie  e Guilherme Cardoso

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira