Todo ano de eleição é comum algumas pessoas votarem em branco ou anularem os votos. Alguns argumentam a falta de opção de bons candidatos, outros assumem que é uma forma de protesto. E ainda tem aqueles que acreditam que votos nulos anulam uma eleição. No Brasil, o eleitor maior de 18 anos e com menos de 70 anos é obrigado a votar, mas é livre para escolher um candidato ou decidir pela opção branca ou nula.
Antigamente, como as cédulas eram de papel, bastava deixar em branco o espaço destinado ao nome do candidato e, para anular, os eleitores riscavam a cédula ou escreviam no lugar não indicado. Com o surgimento das urnas eletrônicas, para votar em branco há opção da tela “branco”. Para anular, é necessário digitar um número inexistente e clicar em confirma.
Mas você sabe para onde vão os votos brancos e nulos?
Um levantamento feito pela reportagem descobriu que a maioria não soube responder. Outra parte das pessoas acredita que se o número de votos nulos for superior a 50% a eleição pode ser anulada. No entanto, essa possibilidade não existe. A doutora em ciência política, na Flórida, Aline Machado, explica que esse mito, provavelmente, tem fruto em alguma confusão na hora de interpretar o Código Eleitoral. Votos brancos e nulos não anulam eleição, até em altíssima quantidade. Por exemplo, se 99% dos votos forem nulos e brancos, o 1% dos válidos serão computados e determinarão o vencedor.
Visões distintas
O estudante de psicologia Henrique Soato, 23 anos, conta que votou nulo uma vez. “Eu queria protestar, por isso votei nulo em todos os candidatos”, explicou.
Antônio Francisco de Almeida, 55 anos, é porteiro em um prédio da Asa Sul há 30 anos e explicou que vota em branco para que o primeiro colocado tenha ainda mais votos. “O importante é não perder meu voto”, contou ele.
Mas não é isso que acontece com os votos brancos e nulos. Antigamente, os votos em branco realmente iam para o primeiro colocado, mas não vão mais. A doutora em política e professora de Ciência Política no Centro Universitário (UniCEUB), Deborah Celentano, explica que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entendia que o voto branco era o de conformismo, por isso, iam para o primeiro colocado. Mas isso mudou desde as eleições 1998. Os votos brancos e nulos servem, agora, apenas como dados estatísticos. “Apesar de simbolicamente poderem ser percebidos como voto de protesto ou sinônimo de absenteísmo, na prática não gera nenhum efeito para o resultado das eleições”, explicou.
Votos válidos excluem brancos e nulos nas eleições para todos os cargos. Estatisticamente, numa eleição, se os votos brancos e nulos forem muitos, isso naturalmente diminui o percentual dos válidos. Ou seja, faz com que o candidato que está em primeiro lugar “chegue mais rápido ao pódio”. Por isso, é um contrassenso o eleitor votar em branco ou nulo quando não aprova determinado candidato, exatamente porque esse mesmo voto pode acabar ajudando na eleição do candidato que o eleitor não queria que ganhasse.
Por Saulo Branquinho
Supervisão de Isa Stacciarini