Lorena (fotos) é uma das alunas da escola de Educação Infantil 1a. Infância, no Lago Norte, em Brasília. Ela tem pouco mais de um ano de idade, olhos amendoados, meio ‘puxadinhos’, rostinho redondo. Brinca e sorri para os amiguinhos na escola e para as professoras. O que a difere das outras crianças? Lorena tem um dia no calendário anual mundial dedicado a ela: 21 de março, Dia Internacional da Síndrome de Down.
Com certeza Lorena não se importa em dividir a data especial com outras cerca de 300 mil pessoas que, como ela, tem Síndrome de Down no Brasil. Essa estimativa é do Movimento Down. Vinte e um de março chama a atenção para a garantia de direitos igualitários, fim do preconceito, promoção da conscientização, e inclusão de pessoas com Down nas diversas áreas da sociedade. E a mãe da Lorena, Carol Castro, luta para que a filha tão pequena cresça em um ambiente de aceitação como qualquer outra criança normal, como Lorena é. Por isso, a escolha pela educação infantil em uma escola regular.
“Desde o nascimento dela fazemos a estimulação para o convívio social. E a inclusão não é favor, está na lei. As crianças não podem crescer sendo separadas de outras só porque tem Síndrome de Down, ou porque tem a pele negra, por exemplo. São todas iguais e normais sim. O caminho para uma sociedade justa começa cedo, na infância, na escola, e nas famílias”, afirma Carol Castro.
A inclusão não é mesmo um favor: no país, a Lei Brasileira de Inclusão ou Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015) assegura a cidadania das pessoas com deficiência ao tratar de questões relacionadas a acessibilidade, educação, trabalho, e combate ao preconceito e à discriminação. E, no âmbito da inclusão escolar, a lei determina que escolas privadas devem acolher estudantes com deficiência no ensino regular, e adotar medidas de adaptação necessárias sem qualquer ônus financeiro repassado às mensalidades nem às matrículas.
“Lorena é o nosso presente, aprendemos tanto com ela quanto ensinamos: o amor, o carinho, o respeito, o desenvolvimento, a amizade, ver tudo isso crescer e fazer parte da história dela nos enche de orgulho. Todas as escolas devem inserir nas turmas regulares alunos como a Lorena, não há o que temer, não há o que rejeitar, as crianças são iguais e entendem isso. A educação é direito de todos”, declara o diretor da escola 1a. Infância, Antônio Montezuma.
Lorena participa de atividades como pintura, música, recreação, sempre com os outros estudantes. Os benefícios da escola regular para crianças com Down incluem, por exemplo, a mobilidade, pois a convivência com os demais alunos incentiva os pequenos a caminhar também. Mesmo com atraso na alfabetização, a criança com a síndrome não deve ser afastada de lições com livros didáticos. É necessário adotar uma abordagem com esse aluno para estimulá-lo a continuar aprendendo, reforçando que ele é capaz de acompanhar.
“As brincadeiras ajudam a transmitir o aprendizado, por isso, utilizamos brinquedos e jogos pedagógicos para trabalhar a inteligência e as sensações da Lorena”, afirma Antônio Montezuma, que acrescenta:
“A tecnologia é uma grande aliada no desenvolvimento dessas crianças já que celulares e tablets, por exemplo, oferecem inúmeras formas de interação, com sons e cores, despertando as potencialidades, o interesse e a curiosidade desses pequenos. Além disso, as estimulações sensoriais de atividades na escola diminuem os níveis de ansiedade e tensão dos alunos com Síndrome de Down. Introduzir o hábito da leitura, na unidade de ensino e em casa, também é muito bom. Aqui, nós lemos para a Lorena e a deixamos manusear os livros. O contato com tudo que significa conhecimento é fundamental pra ela”, garante o diretor.
A síndrome não é uma doença, é uma condição da pessoa, e acontece pela presença de três cromossomos 21 em todas ou na maior parte das células. Pessoas com Down tem 47 cromossomos em vez de 46. O dia 21 de março foi instituído pela Organização das Nações Unidas. A entidade assegura os direitos das pessoas com deficiência por meio da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, ratificada pelo Brasil com força constitucional.
“Pessoas com Down estão nas escolas, universidades, são atores, vendedores, enfim, ensinam ao mundo que os limites, barreiras e preconceito estão numa parte da sociedade, porque elas conseguem mostrar que são normais sim”, conclui Montezuma.
Patrícia Fahlbusch